ARTIGO: Hélio de Carvalho Freitas Filho, policial federal.
Em virtude da pandemia do coronavírus, o número de infectados pela doença é crescente, assim como o de mortos, inclusive aqui no Brasil, mesmo que haja uma cifra alta de pacientes curados.
Analisando-se apenas os efeitos restritos ao universo tupiniquim, pode-se constatar mais uma vez o comportamento bem característico do brasileiro, que vai de acordo com a realidade de seu ambiente ao redor, usando vários subterfúgios por necessidade ou por conveniência para driblar as recomendações médico-sanitárias, que em sua maioria por ora indica o isolamento social.
Os motivos para se flexibilizar e escapar de um isolamento social mais rigoroso são inúmeros, e cada um vai arrumando os argumentos que convêm, se sérios ou superficiais, urgentes ou adiáveis, depende do entendimento daquele que os utiliza. A escala de priorização é subjetiva, passível de críticas e que, embora acarrete consequências coletivas.
Num cenário de polarização política acirrada e intolerância a opiniões diferentes, as teses de como lidar com esse quadro de contaminação servem como mais um ingrediente para se polemizar.
Percebe-se que muitos brasileiros, embalados pelo constante clima de confronto político ideológico, são mais inclinados a ouvir e a seguir o que melhor se ajusta a esse contexto. Cria-se controvérsia a cada tomada de decisão. Buscam-se culpados e heróis. O curso desse processo, além de dramático, também aborrece e testa a paciência.
Apontam-se dedos para médicos e políticos. É a crítica mais recorrente, mais fácil, e por vezes, em parte correta, uma vez que esses últimos clamam por sacrifícios da população, mas não abrem mão sequer do fundo eleitoral. Assim o brasileiro vai se amoldando, tentando afastar de si também o seu papel de cidadão, desejando fugir de sua participação efetiva nesse difícil curso da história.
As narrativas viram coro de torcida. Vídeos e áudios proliferam ao gosto de seus apreciadores. Brotam teses, todo mundo vira doutor no assunto em voga. Uns bradam, é a hora do isolamento vertical, afirmam ser a correta medida, a economia vai ruir, mas esses mesmos sujeitos por vezes não se arriscam a botar o braço do lado de fora de casa, a ir trabalhar, a produzir.
Por outro lado, há quem grite em favor do isolamento horizontal, argumenta que a economia pode esperar, salvar vidas é o mais urgente, propaga para que todos fiquem em casa, mas no dia seguinte corre para abrir seu comércio ou jogar seu futevôlei na praia. Contradições saltam aos olhos. Coerência é artigo raro.
Proliferam aos montes os “especialistas” de plantão sobre o melhor tratamento da doença. Para quem é da área de segurança pública não se espanta, convive com isso há muito tempo, assunto onde todo mundo dá pitaco e poucos realmente sabem alguma coisa de verdade.
Nesse sentido, é possível que esse comportamento do brasileiro seja explicado pelo fato de não ter havido em solo nacional um grave processo histórico de alcance geral e incondicional que exigisse a união de todos indistintamente.
E mesmo diante de tanto sofrimento, quer seja pelas perdas de vidas humanas ocorridas e as que ainda ocorrerão, quer seja pelo empobrecimento inevitável de uma infinidade de pessoas, ainda há tempo de brotar nos brasileiros um espírito mais solidário, um sentimento mais forte de uma verdadeira nação.