Tem gente que guarda a dor como quem guarda segredo: bem escondido, no fundo da gaveta da alma. Tranca com chave, finge que não está lá, e segue a vida como se estivesse tudo em ordem. Sorriso o rosto, agenda cheia, stories atualizados. Por dentro? Um quarto escuro que ninguém vê.
Acreditamos, em algum momento, que esconder o que dói é sinal de força. Que saúde mental é saber calar. Que o tempo cura tudo, desde que a gente ignore. Mas a dor ignorada não some. Ela se organiza. Cria raiz. Se acomoda no corpo, nos pensamentos, nas reações. Vira ansiedade, estafa, insônia. Vira aquele cansaço que não passa mesmo depois de um fim de semana inteiro dormindo.
A saúde mental não mora numa gaveta onde se esconde o que dói. Mora na coragem de abrir essa gaveta e encarar o que está lá dentro. Mora na conversa sincera, no choro sem vergonha, na escuta verdadeira. Mora nos espaços em que a gente pode ser inteiro — inclusive nas partes que não são bonitas de mostrar.
Mas o mundo anda apressado demais para lidar com o que dói. A regra é: produza, sorria, siga em frente. E se não der, finge. Só que fingir cobra caro. A alma cansa de carregar personagens. O corpo adoece do peso que a gente não nomeia.
Talvez o verdadeiro cuidado comece com um gesto simples: abrir a tal gaveta. Nem que seja só um pouco, só para espiar. Admitir para si mesmo que aquilo dói. E, aos poucos, deixar alguém entrar. Porque dor compartilhada não se multiplica — ela se divide.
E a saúde mental, ao contrário do que dizem por aí, não é silêncio. É voz. É nome. É presença. Não é negar o que se sente. É sentir com consciência e viver com verdade. Porque ninguém se cura do que esconde. A gente só se cura do que tem coragem de encarar.

👉 Receba as notícias mais importantes do dia direto no seu WhatsApp!
Clique aqui para entrar no grupo agora mesmo
✅