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O silêncio obrigatório às mulheres

escritoras-cachoeirenses2-07-01-23
Escritoras Cachoeirenses

Não é segredo para ninguém e uma tortura para nós a forma como a sociedade e os homens se consideram donos do corpo das mulheres.

“Não gosto de cabelos curtos, portanto você não vai cortar, não gosto de roupas curtas, você não vai usar, não gosto de maquiagem, esmaltes e batons escuros, não vai usar.”

As vezes penso que não somos consideradas humanas.

Com tanto controle, não é diferente sobre a decisão de ter filhos, a decisão é deles.

A bíblia diz:

“ Crescei e multiplicai-vos”.

Era a frase usada para defender a ideia de que era Deus quem decidia o número de filhos, não importava o sofrimento.

Assim, ela seguia o destino das mulheres de sua época, entre elas os segredos para tentar evitar mais uma gravidez e retardava, mas não funcionava.

A dor da perda do primeiro, a tristeza por não ter tempo de viver um luto e logo estar grávida novamente, o medo de viver uma nova perda, a quase perda da terceira, o quarto envolto em uma bolsa de sangue e assim se seguia a cada gravidez, uma mistura de alegria e tortura, ninguém se importava de fato.

Mas, mulheres inteligentes conhecem a dor da outra e nem precisam falar, ela reconhece e o destino traçou um encontro.

Sétima gravidez, o medo da morte, a ansiedade e angústia e o sexto parto dentro de casa, a parteira que a acompanhará por todas as gestações teve um problema, não poderia comparecer.

Correria e finalmente encontraram uma parteira de confiança, enfermeira em um hospital e parteira profissional para atender as pobres mulheres desamparadas na roça.

Chegou o grande dia, a criança precisava vir ao mundo, a parteira chegou confiante.

O trabalho de parto é longo e nos intervalos há tempo para algumas confidenciais.

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— Porque você tem tantos filhos, nunca pensou em tomar um remédio para evitar?

Pergunta a enfermeira cuidadosa.

— Meu marido não deixa. Ela responde, entre as dores do parto e da alma aprisionada.

A parteira segue com seu belo trabalho, e traz ao mundo um menino lindo e saudável.

Ao final, faz sua receita com medicamentos para auxiliar a pobre mulher, com carinho explica cada um deles, em especial o último.

Esse é um anticoncepcional, coloquei nessa receita para que ele compre sem saber o que está comprando, guarde bem o nome e depois você compra sozinha.

As próximas compras de um anticoncepcional bem acessível era difícil, ela catava os grãos de café perdidos, vendia escondido e comprava também escondido o remédio.

A vida foi mudando e com ela mudança de cidade, da lavoura de café para uma pequena metrópole, não havia mais grãos e ela era proibida de trabalhar, a sogra, agora aposentada, entendeu a situação em silêncio, a cada salário da sua aposentadoria separava o dinheiro do anticoncepcional e as escondidas a entregava todos os meses, ela chamava a filha de doze anos, anotava o nome no papel e mandava buscar na farmácia do centro com um aviso.

— Se chegar em casa e seu pai estiver, esconda.

Aprendeu ali que para sobreviver à ditadura masculina é preciso mentir, não pedia explicações, aprendeu a reconhecer o olhar de empatia e compaixão presente naquelas mulheres que em silêncio venciam lentamente suas batalhas.

E assim se seguia a rotina de mulheres que silenciosamente se apoiavam, aos doze anos sua filha já entendia o silêncio obrigatório às mulheres, aos quarenta ninguém pode silenciá-lá, ela aprendeu com mulheres grandes.

Não pude deixar de pensar nas dores que essas mulheres carregaram com a obrigação de ser mãe e de não ser mulher.

Seus silêncios se tornaram gritos tão altos que hoje o simples fato de ouvir que mulheres falam demais me causam raiva.

Mércia Souza. Mãe, avó, dona de casa, artesã crocheteira, escritora, fundadora do projeto “Mulheres com Voz”. Sonha com um mundo onde mulheres sejam ouvidas e que os homens saibam ouvi-las, exercendo, assim, a igualdade e a compreensão

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