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O vinho que nasce das Montanhas Capixabas

RAQUEL POLETO FONSECA. A Vinícola Tabocas transforma desafios em vinhos premiados nas montanhas capixabas, celebrando o terroir de Santa Teresa

Em Santa Teresa, onde as montanhas guardam a memória dos imigrantes italianos, um novo capítulo da história do vinho brasileiro está sendo escrito. Com a expansão e o crescimento do enoturismo na região, a Vinícola Tabocas tem se despontado no cultivo de uvas que se transformam em vinhos com personalidade, sob o olhar atento de Vinicius Corbelini. O empreendimento conta ainda com Sandro Salvador e o Divanir Pascoal Zotelli que, em sociedade com Vinícius, administram a vinícola.

Aos 50 anos, com formação em enologia na Itália e anos de prática nos vinhedos, Vinicius não é apenas um produtor, é um apaixonado pelo seu trabalho. Sua fala mistura o rigor técnico do enólogo com a perspicácia de quem enxerga na terra algo além de um negócio: um legado. “A Tabocas é a minha vida”, diz.

Tudo começou em 2006, mas a semente foi plantada quase uma década antes, quando ele ainda trabalhava nas terras em regime de comodato. “Olhava essas encostas e via potencial”, lembra. O clima úmido e a altitude de Santa Teresa não são os ideais para qualquer uva, mas a natureza, sempre sábia, pregou uma peça feliz: encomendaram Malbec, mas chegaram mudas de Alvarinho. O “erro” revelou-se uma dádiva. A variedade, típica do noroeste da Península Ibérica, adaptou-se tão bem que hoje é a estrela da casa, produzindo vinhos que já cruzaram o Atlântico e chegaram a prateleiras em Paris.

Produzir vinho no Espírito Santo exige mais do que conhecimento, requer paciência e uma certa flexibilidade com o clima. A safra da videira se dá no verão – aqui no Brasil, entre os meses de janeiro a março. Entretanto, o verão no Sudeste é extremamente chuvoso e isso atrapalha a colheita e a qualidade das uvas. Para contornar esse fator climático, utiliza-se a técnica da Dupla Poda – o ciclo da videira é alterado de forma que a safra ocorra no inverno, que é uma estação com boa amplitude térmica (quente de dia e frio a noite) e sem chuvas. “Aqui, aprendemos a ouvir a terra”, explica Vinicius. No início, as ferramentas eram rudimentares: prensas manuais, tanques improvisados. Hoje, a tecnologia chegou, mas a essência permanece. Cada garrafa carrega o suor de mãos que colhem, selecionam e acompanham cada etapa com cuidado quase artesanal.

A produção em média está entre 3 mil e 7 mil garrafas por ano, dependendo da safra. No ano de 2023 foram 4 toneladas da uva Alvarinho. “Foi um ano muito frio, originando um vinho rico em aromas florais e ervas do campo.”, conta Vinícius. O Alvarinho Orange, fermentado com as cascas, conquistou a mestre cavista Marina Giuberti, que o comparou a vinhos franceses. Já o Cabernet Tabocas, medalhista Grande Ouro, prova que a região pode produzir tintos robustos e elegantes. “Não queremos ser gigantes, queremos ser bons”, repete Vinicius.

Mas a Tabocas não se resume ao líquido na garrafa. O enoturismo é parte vital do projeto. Aos sábados, a propriedade abre as portas para visitantes que querem caminhar entre os parreirais, ouvir as histórias por trás de cada safra e provar os vinhos no lugar onde nascem. “Recebemos como amigos”, diz ele. E Santa Teresa agradece: cada visita movimenta pousadas, restaurantes e o comércio local, tecendo uma rede que vai muito além da taça.

Para o futuro, os planos são ambiciosos, mas sem pressa. Novos rótulos estão a caminho; um Malbec (agora sim, sem a “troca” das mudas), um Cabernet Sauvignon mais encorpado, assim como investimentos em energia solar e uma área para eventos. “Quero que meus filhos vejam que valeu a pena”, declara.

Para a safra de 2024 que será lançada em breve, Tabocas aposta num Alvarinho nobre com 14,7% de teor alcóolico. Esse fator se dá pelo clima quente acima do normal nesse ano, o que confere ao vinho ainda notas frutadas e florais. Segundo Vinícius também teremos novidades para a Cabernet Sauvignon, mas por enquanto o mistério instiga nosso paladar: “Uvas de altíssima qualidade, uma safra excepcional”, conta.

No fim da tarde, quando o sol dourado incide sobre os vinhedos, fica claro que a Tabocas não está apenas fazendo vinho. Está escrevendo, uma garrafa de cada vez, a história de uma região que aprendeu a transformar desafios em excelência. E para quem quiser provar essa narrativa, Vinicius deixa o convite:

“Venham tomar um Alvarinho gelado aqui, olhando as montanhas. A gente brinda juntos.”

Onde encontrar: Os vinhos da Tabocas estão em restaurantes e empórios de Santa Teresa, Vitória, Vila Velha, Domingos Martins e em Cachoeiro de Itapemirim. Visitas agendadas pelo (27) 99840-7860 ou @vinicolatabocas_es.

Raquel Poleto Fonseca, natural de Cachoeiro de Itapemirim, é escritora, contadora e sommelière de vinhos pelo Instituto Federal de São Paulo, com certificações especializadas pela Embrapa Uva e Vinho, Instituto Federal do Rio Grande do Sul e Enagro. É curadora de confrarias e do projeto Livros e Vinhos, unindo sua paixão por palavras e vinhos para criar experiências que conectam pessoas

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