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Obesidade mental, ansiedade e a indústria da dieta

redacao
Redação Dia a Dia

ARTIGO: Amanda Gomes Ribeiro, doutora em Saúde Coletiva e mestre em Ciência da Nutrição

O termo obesidade mental, atribuído ao professor Dr. Andrew Oitke, descreve um dos grandes problemas da sociedade moderna: o excesso de informação, muitas vezes com qualidade questionável e, mais frequentemente ainda, com conteúdo desnecessário para nosso desenvolvimento.

O fato é: somos uma sociedade de excessos. O consumo de toneladas de informações midiáticas (abundantes e infinitas nas redes sociais, TV, serviços de streaming), sem reflexão, se compara a uma mesa farta de guloseimas. São consumidas compulsivamente, mas não saciam. Enchem os olhos, mas não nutrem.

Somos a era que mais produziu conhecimento em toda a história, mas estamos confusos. Como profissional, não posso deixar de pensar nas conseqüências desses excessos para a saúde física e mental das pessoas. Como nutricionista, me incomoda a triste realidade atual em que a ciência da nutrição se encontra: uma corda bamba entre a valorização e a banalização. São milhares de livros de dieta, influenciadores digitais com dicas diárias nas redes sociais, mídia interpretando artigos científicos como verdades absolutas.

Mas aonde toda essa informação tem nos levado? Estamos mais felizes? Mais saudáveis? Infelizmente, esse não parece ser o panorama atual. Pelo contrário, o que eu consigo ver são desordem e medo. Se por um lado hoje temos mais acesso a conceitos básicos da ciência da nutrição que podem contribuir para escolhas mais conscientes, por outro, esse conhecimento que agrega à nossa vida não “vende”. Bom senso não vende. Equilíbrio não vende. Autonomia não vende.

Alimentos são endeusados ou vilanizados todos os dias. Mocinho e vilão, “fit” e gordice. O conhecimento científico é distorcido para que alguns ganhem fama de guru e a indústria tenha mais um nicho de mercado. Isso vende. Vende livros, programas de emagrecimento, suplementos caros e desnecessários, métodos revolucionários. Isso gera audiência. Isso gera likes. E isso gera pessoas doentes.

Doentes por não saber o que comer. Ansiosos por serem sempre insuficientes, afinal, sempre haverá uma dieta nova, um suplemento novo, um novo superalimento e um novo vilão para odiar. Sempre haverá um novo padrão inatingível de ser humano te vendendo algo que não vai fazer você chegar lá. E aí você compra outra coisa. Tenta outra dieta, lê outro livro sobre glúten. Segue um novo perfil de guru fitness/saudável no instagram. Assiste a todos os stories dele e de mais dez perfis de gente que fala de alimentação. E quando se dá conta, não tem mais a mínima idéia do que está fazendo. Está perdido entre o controle e o descontrole. Entre o bolo fit sem glúten e sem lactose e a caixa de chocolate que devorou inteira. Não está feliz. Não está saudável. Você nem sabe mais o que é isso.

O que fazer então? Como sair desse círculo vicioso? Como escapar da cilada moderna da necessidade de sempre ter mais e mais? Do medo de estar perdendo alguma coisa? Quem me dera ter uma resposta definitiva para essa pergunta. Mas me atrevo a sugerir algumas atitudes simples que podem ajudar.

A primeira é fazer um “detox digital”. Pare de seguir esse monte de gente que você não conhece e nem sabe de onde surgiu, ou que fica o dia todo mostrando o corpo sarado ou fazendo propaganda de produto. Quer informações confiáveis sobre alimentação e saúde? Seja no mundo real ou virtual, busque profissionais qualificados e que não vendam fórmulas mágicas.

Profissionais sérios sabem que cada pessoa é única e não vendem a idéia de uma dieta/produto que é perfeito para todo mundo. O mesmo vale para os livros. Não coloque nada como verdade só porque está escrito em um livro. Um fato que muitas pessoas ignoram ou desconhecem é que qualquer um escreve um livro. Busque as referências acadêmicas do autor. Foque menos na quantidade de informações, e mais na qualidade delas.

A segunda é trazer mais consciência para as suas escolhas. Porque come o que come? O que te influencia? Sabor, conveniência, mídia, ambiente familiar? Você tem um papel ativo nas suas escolhas ou se deixa levar? O que você já sabe sobre alimentação saudável? Você põe em prática conceitos simples como comer frutas, verduras e legumes, ou fica pensando em estratégias mirabolantes sem antes fazer o básico? Ou seja, reflita, questione, pense e ponha em prática o que faz sentido na sua vida. “O poder oriundo da informação está em saber usá-la, não em possuí-la” (Tadeu Cruz).

A terceira e última, e talvez mais importante, é seja simples. A vida já é complicada demais. A historiadora inglesa Louise Foxcroft, que dedicou anos pesquisando a relação da humanidade com a comida, chegou à seguinte conclusão em seu trabalho: “ao longo da história, a forma de alimentação que se provou mais eficaz é a mais simples e que todos conhecemos na vida moderna. Bom-senso e equilíbrio”.

Tenho que concordar com Louise. Não é o que vende, nem o que gera curtidas, mas é o que funciona.
[…] somos distraídos e seduzidos por promessas de resultados rápidos e milagrosos. Perdemos peso rapidamente, voltamos a engordar, então partimos para outra solução mágica. Essa é uma fórmula alimentada pela indústria da dieta para manter as pessoas gordas. (Foxcroft).

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