A inocência dela custou muito caro.

Nos moldes da sociedade romena do século XV, suas ações a arruinaram para todo o sempre.

Ao invés de correr e brincar com seus irmãos mais novos, agora ela se escondia em seu quarto escuro e frio, até que a hora de dar à luz chegasse.

Naquela época, moças com o destino selado pela desobediência e ousadia, eram rechaçadas e culpadas, olhadas de cima, como se houvessem agido sozinhas.

Ela jamais compreendeu por que seus pais não mais afagavam seus cabelos e lhe acariciavam o rosto como outrora.

Fora esquecida.

Excluída.

Tal qual bonecas velhas, jogadas num canto, sem mais sentir o amor de quem um dia as adorara.

As dores que sentiu foram as mais fortes que uma mulher poderia.

Lembrava da voz de sua mãe a incentivando, do calor dominando seu corpo e da dor lancinante a tomando junto aos gritos.

Um breve silêncio se fez antes do mais belo dos sons ecoar pelas paredes de pedra de sua velha e opulenta casa.

“É uma menina!” Ouviu sua mãe sussurrar em admiração contida.

Mas o pai, quem mais a julgara, tomou a criança de sua mãe e virou-se pra sair do quarto.

Em prantos a recente mãe, seu instinto feroz e fugaz gritou, pulmões fortes e garganta embolada, pra que seu progenitor lhe deixasse ao menos segurar a bebê. Sua filha…

Jamais a vira.

Mal curara suas feridas, físicas e mentais e o homem da casa a mandara pra bem longe.

Meses num navio sujo e lotado foram mais uma prova de sua força e resiliência. Por sorte não contraíra a peste circulando e, com muito custo, pisara em terra firme.

Reclusa na propriedade de uma família próxima à sua, mal discernia dias de noites.

Definhou aos poucos, ouvia vozes no vazio de seu quarto, passos nos corredores tortuosos que fiavam até seus aposentos.

Já não desciam lágrimas, apenas uma angústia infindável crescia como erva daninha em seu peito apertado.

Estava oca.

De sua cria.

E de si.