O contato com a leitura me veio de uma forma tão singular que me encontro, às vezes, analisando como os pequenos detalhes nos constroem. Faço memória dos grupos de refletindo, círculos bíblicos, tão necessários para uma comunidade eclesial de base que, através da coletividade, nos educa de uma maneira tão eficaz, principalmente na construção do indivíduo.
Recordo que, desde pequena, participar dos encontros para refletir a Bíblia era algo comum, algo frequente. Mesmo ainda antes de saber ler, eu lia, repetia as palavras que outros diziam, pois desejava fazer parte daquele grupo, me sentir atuante. Lembro da imagem de minha mãe, dizendo palavras em meu ouvido e eu repetia como se fosse eu quem estava lendo. E a comunidade me admirava como se realmente estivesse.
Revivo os momentos que, mesmo estando em casa, a cartilha estava sempre em meu alcance e, uma das tarefas de casa era fazer a leitura e procurar as palavras, de início as que tivessem duas sílabas, depois três, quatro e assim por diante. Eu e minha mãe não entendíamos a gramática, nem conhecíamos os termos como monossílabas e dissílabas, mas esses atos me fizeram apaixonar pela leitura.
Revivo o momento em que aprendi a ler, e meu primeiro desejo foi praticar na celebração. Como em minha evolução na leitura, ocorreu nas práticas. Iniciei pelo refletindo, seguindo para as preces, partindo para o salmo responsorial nas celebrações, primeira e segunda leituras, até chegar ao evangelho. Sim, o evangelho. Hoje, como ministra da palavra, proclamo o evangelho, e sei que a evolução da leitura seguiu com a minha evolução pessoal, mas não só na Igreja, também na profissão. Hoje, sou professora e escritora e a leitura sempre me acompanha.
Hoje estou um pouco distante desse grupo de reflexão, mas minha gratidão será eterna, pois me ensinaram a ler e, ainda melhor, a me apaixonar pela leitura.