Tenho três filhos e uma neta e, como uma boa capricorniana, sou protetora, responsável e agitadíssima, estou sempre fazendo duas coisas ou mais, ao mesmo tempo. Leio e ouço música, cozinho e cuido da casa, faço artesanato e assisto filmes, tenho dificuldade em parar.
Oposto a mim, meus filhos são parados, acordam e levam horas para despertar de fato, fazem tudo com muita calma e lerdeza, o que nos leva a algumas broncas e discussões.
Nessas discussões eles usam a seguinte frase:
– A senhora é doida!
Respondo no mesmo tom:
– Mas é claro que sou, vocês precisam entender que ou somos mães ou somos normais, as duas coisas não existem.
-Ah, agora a culpa é nossa? Argumentam.
A realidade é que com meus filhos recebi um dos maiores presentes da vida, o de me tornar um ser humano cada vez melhor, pois tive que aprender a lidar com inúmeros sentimentos, as vezes bons, as vezes difíceis.
A mulher quando se torna mãe deixa de ser vista como mulher, passa a ser tratada como alguém com superpoderes, capaz de resolver qualquer problema e, de fato, por nossos filhos encaramos a maioria deles, mas nem sempre damos conta.
Foi em um desses dias que decidi que eu precisava rezar. Eu estava exausta, duas meninas pequenas, uma de cinco e outra de três anos que não paravam por um segundo, eu não tinha tempo nem para ir ao banheiro, tomar um banho decente, rezar, comer, dormir, tudo era às pressas e pela metade.
Para me acalmar, decidi rezar apenas um pai nosso, oração curta e rápida. Sem privacidade, sem um lugar que eu pudesse ficar sozinha por alguns instantes, olhei para a casinha da Barbie que ficava na sala. Minhas filhas brincavam na varanda e não me veriam lá dentro. Entrei, me ajoelhei e comecei minha oração.
PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU, SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME, VENHA NÓS O VOSSO REINO, SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM…
Num susto, puxei minha perna, dei um pulo e minha oração foi interrompida pela metade. Saí da casa esbravejando enquanto ouvia os risinhos e as duas já haviam corrido o suficiente para desaparecerem da minha vista.
Até os dias de hoje, vinte anos depois, não sei qual das duas mordeu meu calcanhar, enquanto eu tentava rezar. Tem como ser normal?