Cresci numa família não muito religiosa. Na minha infância, recordo-me de poucas idas à igreja, pois meus pais só iam mesmo em casamentos ou batismos de pessoas bem próximas.
Para mim, a Páscoa era especial, embora naquela época eu não entendia o que ela realmente representava no aspecto religioso. Na verdade, minha referência a este feriado eram os ovos recheados, as brincadeiras com minhas primas, o tradicional almoço na casa da tia Nelma e, é claro, o fabuloso empadão de frango que ela sempre fazia nas reuniões familiares.
Lá por volta do ano 2001, eu me filiei a uma igreja. E, em 2007, fui servir como missionária de tempo integral no Rio Grande do Sul. E, foi lá, durante 18 meses, que descobri realmente o quanto esta data é significativa e sobre o tremendo sacrifício que Jesus Cristo fez pela humanidade. Lembro-me que sempre ao falarmos sobre a Expiação Dele, líamos uma parte do Evangelho de Lucas, capítulo 19, que descrevia sobre o quanto Ele suou sangue pelos poros e tamanha a dor que sentiu na alma.
Na Páscoa de 2008, eu ainda estava no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Santa Maria. Báh… Não sou capaz de descrever em palavras o tamanho do amor que sinto por aquele povo e a saudade que sinto daquela terra maravilhosa. Eu e a Sister Snyder fomos almoçar na casa de uma família muito querida e, como todo bom gaúcho, eles nos ofereceram arroz carreteiro, churrasco, abóbora caramelada e chimarrão. Tudo foi muito divertido e gostoso, desde o acender da churrasqueira até as brincadeiras com as três crianças da casa e a tradicional torta de bolacha da Elisete que, diga-se de passagem, estava tão deliciosa quanto o saudoso empadão da tia Nelma. Mas o que mais me marcou naquele domingo foram as palavras de um menininho de oito anos de idade que, com toda a sua simplicidade, foi capaz de expressar o que verdadeiramente a Páscoa deveria representar para nós cristãos.
Após o almoço fomos deixar uma pequena mensagem para a família e esse piá – expressão usada para falarmos garoto – nos deu a seguinte resposta quando perguntamos para ele o porquê da expiação de Cristo ser importante. Com seus olhos castanhos e sorriso gentil, ele disse: “Sister Bernardo, não gosto de pensar no sofrimento de Jesus. Prefiro pensar no bem que Ele fez e no que Ele ensinou.” Naquele dia, um menino de oito anos fez com que uma ficha caísse dentro de mim e percebi que não precisava destacar a dor que Jesus sofreu na pele ou na alma, pois Ele já sabia que passaria por tudo isso. Ele veio ciente sobre sua missão e das vezes que seria traído ou negado pelos seus. Mas, mesmo assim, Ele aceitou e deu o seu melhor por todo lugar que passou. Ele ofereceu consolo, apoio e lembrou a todos, independente de seus erros, que eram importantes e que poderiam recomeçar, mudar, serem melhores. Eu deveria exaltar e ser grata pelas vezes que a semente do bem foi espalhada pela terra através de seu exemplo de compaixão, doação e amor. Sua dor deve ser lembrada? Claro. Mas o foco deve ser a SUA vida.
E desde aquele churrasco de Páscoa, recheado de comida gostosa, muitas risadas e memórias felizes, carrego para mim esse ensinamento tão profundo de que devemos celebrar todos os dias o exemplo de vida de Jesus Cristo e sermos gratos por tudo que Ele nos deixou e, assim como Ele, darmos o nosso melhor em todos os lugares e circunstâncias. Hoje, sigo outra religião, mas carrego em meu coração as doces recordações de uma época em que conheci verdadeiramente Jesus Cristo e a certeza de que independente de fé, religião ou ausência dela, devemos seguir em frente, fazendo o bem. Mas não devemos fazer isso porque Ele sofreu por nós, mas porque Ele viveu para que pudéssemos ter o melhor exemplo daquilo que podemos nos tornar. Uma feliz Páscoa e um viva a todos os recomeços que podemos desfrutar a cada amanhecer.

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Uma resposta
Arrasou amiga, como sempre