Dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, uma triste realidade que afeta cerca de 12 mil pessoas por ano no Brasil, e mais de hum milhão em todo o mundo, segundo dados de pesquisas oficiais.
Esses levantamentos apontam que 96,8% dos suicídios é provocado por transtornos mentais, tendo como primeiro lugar a depressão, seguido de transtorno bipolar e abuso de substâncias químicas.
Uma triste realidade que não para de crescer, especialmente entre os jovens, o que levou a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, a instituir em 2014 o Setembro Amarelo, com o intuito de ajudar e conscientizar as pessoas sobre a importância de pedir ajuda.
Tratado por muitos como mi mi mi, frescura, fraqueza, falta de fé, os potenciais suicidas e depressivos dizem que é importantíssimo buscar e encontrar ajuda. Alguns lamentam que esse apoio não venha da família nos momentos em que mais precisam.
É o caso de M.M. R, 45 anos, que relata ser de uma família de pessoas depressivas. Ela prefere não mostrar o rosto com medo de ser mais excluída do que já se sente, em função de sua depressão.
Ela diz que durante algum tempo a doença não a pegou com muita força, muito em função dos trabalhos que ocupavam seu tempo e davam grande prazer. “Mas sempre fui melancólica, com oscilação de humor. Levava a vida mascarando a situação, pulando de terapia em terapia, entre elas regressão e análise”, conta.
M relata que o fundo do poço chegou há uns 10 anos, quando perdeu o emprego e grande parte dos amigos e da condição econômica e social.
“Procurei um psiquiatra e comecei o tratamento, que seguia meio lá, meio cá, porém quando perdi minha mãe, não aguentei. Foi demais para mim”, relata.
A mulher diz que buscou na fé e no amor ao pai e ao filho, ainda adolescente, forças para não tirar a própria vida, um pensamento recorrente, que procura espantar com muita oração, já que não se sente apoiada pelos irmãos, que segundo ela ignoram o seu sofrimento e dor.
“Quem não passa por isso não sabe o quanto é necessário o apoio familiar, um abraço, uma palavra de conforto”. Ela diz que hoje se sente na fase mais grave da doença, pois o medo de enlouquecer a preocupa e assusta muito.
“Você se sente totalmente incapaz e os amigos somem, pois ninguém quer por perto alguém com problemas emocionais. A caminhada, às vezes, é muito solitária”.
Raphael Arruda, 27 anos, é motorista de aplicativo. Conta que desde criança sempre foi muito curioso. Segundo ele, aos 13 anos começou a sentir os primeiros sintomas da depressão. Não tinha conhecimento sobre o assunto, mas já sabia que tinha algo de errado acontecendo com ele.
“Comecei a pesquisar. No início foi bem difícil, eu lidei sozinho com a depressão por mais de dez anos. Aos 23 quando não aguentava mais, pedi ajuda para minha família e fomos buscar ajuda profissional”.
Raphael não tem dificuldades de assumir a depressão, agora controlada apenas à base de psicoterapia – ele não usa mais medicamentos, Diz que não esconde o fato porque acredita que todos estão nesse mundo para fazer dele um lugar melhor.
“O que eu faço é tentar ajudar pessoas que estão passando por algo que eu já passei diversas vezes. É claro que sempre oriento a procura de um profissional”, ressalta.
O jovem adverte que o tratamento para depressão é continuo e de constante evolução, e que já teve pensamentos suicidas. “Os pensamentos suicidas foram em algumas fases constantes em minha vida, não só pensamentos, como planos e até mesmo tentativas”, enfatiza.
Raphael diz que encontrou apoio na família, nos amigos e na fé, além de apoio profissional. “Deus tem tido um papel fundamental na minha lida diária contra a depressão”.
Mas ele destaca que é importante relatar que ouviu coisas bem pesadas de pessoas muito próximas, o que piorou muito a situação. “Quando resolvi pedir ajuda, uma delas me disse: quem quer se matar, se mata, não pede ajuda. A outra falou que isso era frescura. No início a primeira pessoa que me estendeu a mão foi a minha mãe”.
Os entrevistados dão um conselho aos familiares de pessoas depressivas. “Peço aos familiares que deem apoio, sejam parceiros, pois isto é a metade do tratamento”, apela Raphael.
M.M.R. aconselha a depressivos como ela que rezem, sigam o tratamento e que as famílias ajudem seus depressivos. “Há de ter luz no fim do túnel para essa doença que dói na alma e que pode nos levar ao suicídio. Procurem tratamento”, conclui.