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Perfeita é a mãe 2 – o Natal e a sobrecarga sobre as mulheres

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Em poucos dias, celebraremos o Natal de 2021. Apesar de se tratar de uma comemoração originalmente religiosa, ao longo dos séculos, a festa que marca o nascimento de Jesus para a fé cristã ganhou, também, contornos e tradições muito mais voltadas para a produção e o consumo de serviços e mercadorias. Basta observarmos as reportagens apresentadas, todos os anos durante o mês de dezembro, pelos telejornais diários: elas invariavelmente mostram o aquecimento das vendas no comércio durante os dias que antecedem as festividades natalinas, a alta de preços dos alimentos tradicionalmente presentes nas ceias familiares e fazem relatos bem humorados sobre os presentes indesejados de amigo oculto ou sobre como as pessoas lidam com as situações embaraçosas durante as festas no ambiente de trabalho. Além de uma importante data para qualquer segmento comercial, além de um momento muitas vezes tenso de reencontro dos familiares com visões políticas opostas, além de uma celebração religiosa – sim, também sempre existem aquelas falas e reportagens que recordam ao público sobre o verdadeiro sentido do Natal ser a chegada do filho de Deus a esse mundo, aquele que veio para salvar a humanidade – e além de ser, para muitos, mais um feriado prolongado que permite viagens e passeios que não são possíveis durante boa parte do ano, o Natal é, verdadeira e tradicionalmente, uma data de sobrecarga emocional, psicológica e de trabalho para as mulheres.

É sobre isso que fala o filme Perfeita é a mãe 2 – 2017, disponível na HBO max. Como outra tradição natalina que vem se tornando mais sólida a cada ano, os filmes lançados às vésperas do Natal sempre contam histórias de amor, de despedidas, de reencontros e de superação familiar que acontecem durante o período das festas de fim de ano. Nós, brasileiros, que consumimos quase que majoritariamente filmes produzidos no hemisfério norte do nosso planeta, nos sentamos confortavelmente todo final de ano para assistirmos aos filmes que trazem as renas, os pinheiros, a neve e os pesados casacos tão característicos de um Natal que em nada lembra o calor e as chuvas de verão do nosso país, no mês de dezembro.

Afinal, essa é mais uma das tradições de natal que importamos de outros países e culturas: um natal gelado em pleno verão escaldante para nós, que vivemos abaixo da linha do equador.

Porém, tanto os natais de lá, celebrados a portas fechadas enquanto a neve cai lá fora, quanto os natais daqui, festejados nas lajes e nos quintais, nas casas de praia e nos salões das igrejas de bairro, todos eles tem algo em comum: as mãos que fazem o natal existir são as mãos das mulheres. Façamos um pequeno e simples esforço de memória para nos lembrarmos dos natais da nossa infância. Tenho certeza que, para a grande maioria das pessoas, as primeiras imagens que chegarão à memória serão da comida, dos enfeites, dos presentes e das pessoas reunidas – em harmonia ou não, pois o Natal é também daquelas datas que nos marcam com passagens doloridas e melancólicas. Recuperadas essas memórias, podemos nos perguntar: quem, ao início do mês de novembro, já preparava os enfeites de natal que iriam decorar os cômodos da casa? Quem fazia a lista de compras para os natais das nossas infância? Quem, com dias de antecedência, ia ao supermercado lotado para comprar todos os ingredientes da ceia? Seja ela uma ceia simples e modesta, ou uma ceia farta e abastada. Quem sabia quais os presentes cada criança e adulto ficaria feliz ao receber e os arrumava embaixo da árvore de natal – seja ela uma enorme espécie de pinheiro brilhante ou um pequeno ramo com poucas luzes? Quem passava todo o dia 24 de dezembro preparando os alimentos, limpando a casa, arrumando a mesa, vestindo as crianças? Quem lavava os pratos e quem limpava a casa, na manhã do dia 25 de dezembro, enquanto o menino Jesus nascia nos lares e nos corações? Quem levava as crianças de famílias cristãs à catequese, à missa? Quem arrumava as malas da família que preferia viajar durante as festividades? Quem, nas primeiras semanas de janeiro, guardava todos os enfeites novamente em suas caixas, lugar seguro e sagrado onde, por mais um ano inteiro, as decorações natalinas iriam esperar em silêncio e em vigília, pela vindoura e certa noite feliz do próximo ano? E quem sofria, tentando inventar um natal sem dinheiro para compras, mas que fosse, ainda assim, um natal digno e feliz de uma família pobre?

Tenho certeza que a grande maioria se lembrou de suas mães, avós, tias, empregadas domésticas, primas, vizinhas e amigas para responder a essas perguntas. São as mulheres que fazem existir as tradições do Natal – todas elas – religiosas, familiares e comercias.

Também tenho certeza que, se você é uma mulher, assim como eu, esse natal da sua infância se transformou no seu natal de hoje e todas essas memórias que você guarda serão, também, as memórias que seus filhos terão, pois o legado deixado, para nós, pelas mulheres do passado é o mesmo que muitas de nós deixaremos como as lembranças do futuro: natais de muito trabalho.

Perfeita é a mãe é um filme leve, muito engraçado, com momentos emocionantes de reavaliação da vida e de acertos de contas entre mães de filhas. Segue a receita tradicional de todo Natal: repetir os ritos. Celebrar os ciclos. Seguir a tradição. No entanto, por baixo das roupas vermelhas, das mesas que oferecem os mesmos pratos preparados com as mesmas receitas, dos enfeites já meio foscos e com cheiro de naftalina o que, invariavelmente, esquecemos enquanto festejamos é o trabalho invisível, não remunerado e muitíssimas vezes não reconhecido de gerações de mulheres exaustas e sobrecarregadas.

Se o verdadeiro sentido do Natal é celebrarmos o nascimento de um menino, ficamos, então, com a certeza dura e óbvia de que enquanto o mundo reza e aplaude o pequeno bebê que chega ao mundo, somos nós, as mulheres, que repetimos por anos a fio o doloroso, extenuante e invisível trabalho para esse parto. O Natal é a mulher.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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