Levantamento nacional aponta percepção intensa de machismo e insegurança dentro e fora de casa
Quase metade das mulheres brasileiras, afirma não ser tratada com respeito no país.
A sensação aparece em todos os ambientes para 46% delas. Isso acontece dentro de casa, no trabalho e, sobretudo, nas ruas, onde 49% dizem se sentir menos respeitadas.
Os dados fazem parte da 11ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo DataSenado e pela Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), do Senado.
O estudo ouviu mais de 20 mil mulheres em todas as regiões do Brasil.
O levantamento confirma que o machismo continua sendo parte estrutural da realidade brasileira: 94% das entrevistadas classificam o país como machista.
Em dois anos, cresceu o grupo que considera o Brasil muito machista, passando de 62% para 70%, um salto que representa cerca de 8 milhões de mulheres com percepção mais crítica sobre a desigualdade de gênero.
Segundo Marcos Ruben de Oliveira, coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado, o acompanhamento periódico dos dados é fundamental para orientar políticas públicas.
“Essa atualização bienal permite medir o que mudou e apoiar senadores e governo na criação de leis de proteção às mulheres”, afirma.
Ruas seguem como principal foco de desrespeito
Desde 2011, as ruas são apontadas como o ambiente onde as mulheres mais percebem desrespeito e isso permanece em 2025.
Embora o percentual tenha recuado levemente desde o último levantamento, 49% ainda veem as vias públicas como o espaço de maior vulnerabilidade.
Já a percepção de desrespeito dentro de casa aumentou, alcançando mais 3,3 milhões de mulheres que agora consideram o ambiente familiar o mais inseguro.
No trabalho, a percepção se mantém estável, mas ainda aparece como o segundo local onde elas afirmam ser menos respeitadas.
Para a antropóloga e especialista em políticas de enfrentamento à violência contra mulheres, Beatriz Accioly, o dado é preocupante, mas coerente com o cenário de violência doméstica.
“O lar deveria ser espaço de proteção, mas os números mostram que não é só a rua que oferece risco. Isso se reflete nos altos índices de feminicídio no país”, explica.
Diferenças por região
A sensação de respeito também varia conforme a região.
— Sul: 53% dizem que as mulheres “às vezes” não são tratadas com respeito;
— Nordeste: 50% afirmam que as mulheres não são respeitadas;
— Sudeste: 48%;
— Centro-Oeste: 44%;
— Norte: 41%.
Apesar das diferenças, o sentimento de instabilidade é generalizado.
“A violência deixa de ser restrita ao ambiente doméstico e se torna estrutural, com impactos sociais e econômicos de longo prazo”, afirma Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência, do Senado.
Escolaridade aprofunda desigualdades
O nível de instrução também influencia a percepção de respeito. Entre mulheres não alfabetizadas, 62% dizem não ser tratadas com respeito.
Esse percentual é bem acima do registrado entre aquelas com ensino superior completo (41%).
Ainda assim, mesmo entre universitárias, o sentimento de respeito pleno é raro: só 8% afirmam viver em um ambiente totalmente respeitoso.
As maiores oscilações aparecem entre mulheres com ensino médio e superior incompleto, nas quais mais da metade afirma que o respeito ocorre apenas “às vezes”.
Para Vitória Régia da Silva, diretora executiva da Associação Gênero e Número, o cruzamento entre educação e percepção de respeito evidencia uma desigualdade estrutural.
“Mulheres com menor escolaridade enfrentam mais situações de desrespeito e também mais barreiras para denunciar ou acessar serviços de proteção”, afirma.
Fonte: Agência Brasil
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