Canvas, 2020, é um curta-metragem, disponível na Netflix, que discorre sobre a vida de um pintor, avô, parceiro, pai, de quem sofreu com diversas perdas, dentre elas: a de sua amada, e a de sua conexão com a arte.
Com apenas 9 minutos de duração, o curta chama a atenção por diversas razões, como: a questão do tempo, que pode ser muito, que pode ser pouco, que se desfaz e se constrói, não pela extensão, mas pela experiência vivida, que pode se perpetuar, ou se desintegrar, já que a importância atribuída à época, talvez, não condiga com a significatividade do presente.
É um filme sem falas, o diálogo se dá com a conversa estabelecida com a solidão, que o cerca, o vazio, a saudade do que um dia fora presente, e mais que isso, a sua grande dádiva em vida – sua companheira. As expressões dizem muito, aconchegam, com: o toque, o olhar, o balançar da cabeça, que sinalizam: aqui estou.
A vida segue, e segue por rumos que nem sempre são bem-vistos, ou esperados, renasce nos rostos alheios ou familiares que nos rodeiam, e acolhem.
A ação de pintar a nossa tela da vida antes vista como algo tão simples, disposta e composta por cores vibrantes e eloquentes, dependendo da fase, ou do desenrolar do enredo causal, o ordinário se torna complexo e repulsivo por não nos conectarmos, por: medo de recordarmos algo, ou alguém que já se foi para longe, para outro rumo, ou seguiu um caminho oposto do nosso.
O ato é involuntário, mas bem ágil, o corpo todo reluz e diz: não, é melhor não mexer aqui. Por que somos ensinados a não olharmos e entendermos nossas feridas?
É importante seguir sim, mas antes de tudo, é imprescindível compreendermos o que sentimos, e cuidarmos com o devido remédio para então – seguirmos em frente, para que quando olharmos para trás, as lentes óticas tragam o sentimento de: “é, foi difícil, doeu, chorei, pensei que morreria, mas, agora, passou, ainda tenho as cicatrizes, mas a dor não lateja tanto quanto antes”.
O cômodo que já não é tão cômodo, que guarda as dores e lembranças, as partes que não devem ser vistas, ou até mesmo, perceptíveis se tornam um tabu para nós e para os outros.
Há coisas que a olho nu são ininteligíveis, como os chakras (chacras). Assim, as alegorias foram criadas para que o que não se via, fosse visto, “palpável”, para que a mente se comunicasse com os centros de energia que emitimos, e se possível alinharmos para sustentarmos a espinha dorsal da fonte energética que nos permeia.
O senhor sentiu o poder da conexão quando identificou o objeto que lhe despertava memórias emotivas, e ao estabelecer o foco – experimentou algo que o corpo físico não alcançava, para preencher um vazio que demandava luz, força, leveza, dança, toque, curiosidade, vulnerabilidade, e disponibilidade.
As paletas de cores para a nossa tela (vida) são as mesmas, mas nossas escolhas que tonificam, intensificam e tornam tão únicas as cores que tintam a nossa obra-prima.
As experiências podem nos mover, travar, pausar, contribuir, mas para qualquer ato escolhido há uma cor que rege, aquele traço que sutilmente, ou violentamente, colore o quadro.
As luzes que se acendem quando o avô rever, e com o auxílio da neta deixa “a magia acontecer”, entende-se por aquilo que gera reações químicas por todo o seu corpo, e aumenta a atividade cerebral. Desperta a clareza de que lidar, no seu tempo certo, com o que dói, é essencial para que o que a dor crônica com o tratamento devido se torne esporádica, e que com o tempo diminua, e quem sabe desapareça.
Feche os olhos, e veja com o olhar espiritual: a dança das almas que se encontram, que vêm, e que se vão. Pode ser, que perceba que dói mais não sentir, digerir e aceitar (no sentindo de encarar), do que rejeitar e nos assombrar.
A rede de apoio que nos segura, transporta, e impulsiona, torna essa aventura mais agradável, mais humana, e mais confortável, e isso inclui o nosso próprio acolhimento. Acolha-se, e vistas as roupagens de sua alma.