E ela acordou naquela manhã cinzenta
Despiu-se de toda tristeza e medo
Colocou na face sua melhor máscara
Aquela que carrega um sorriso faceiro
E que esconde entre o brilho do olhar
Toda a dor e sofrimento de uma vida
Marcado na alma e sentido no peito
Peito que alimentou suas filhas
Marias que nem ela
Marias que nem sua mãe
Dotadas da beleza da pele preta
Marcadas pelo preconceito velado
Dos olhos fortes e espírito guerreiro
Porque ser Maria, pobre e preta é um ato de resistência
É ser resiliente em meio à fome de pão
Que faz a barriga doer
E fome de justiça, que é a mãe de todas as dores
Mas Maria com sua máscara segue confiante
Fazendo pirraça, em meio aos tropeços da vida
Segue sorrindo, fazendo graça,
desafiando tudo e todos
Pois a Maria preta e pobre
acorda as 5 da manhã pra labutar
Depois de 12 horas de serviço entre um cochilo e outro no ônibus lotado vai pra escola
Porque quer ser doutora de verdade
E mostrar que Marias podem quebrar ciclos
E mesmo com a máscara rachada
ou o coração doído podem fazer história
E mesmo quando tudo dá errado, ela segue
Segue cantando, segue sorrindo mesmo quando gostaria de estar chorando
Porque ela é Maria, filha de Maria das Dores
Que prometeu que se parisse guria
Seria mais uma Maria
Mas Maria Esperança para lembrá-la de que tudo vale a pena
E que toda dor, toda lágrima é passageira
De uma vida repleta de vitórias de tantas Marias guerreiras.