O ponto de ônibus cheirava a cigarro barato, mesmo sendo seis horas da manhã. O homem de pele morena, aparentemente queimada de sol, com um boné cinza e roupas que lembravam o que um dia fora um uniforme, fumava seu terceiro cigarro no pouco tempo em que estávamos ali.
Ele não era estranho, mas, por mais que eu puxasse na memória, não consegui identificar se realmente o conhecia. Mesmo morando naquele bairro praticamente a vida toda, havia muitos novos moradores, de quem eu não fazia ideia de quem eram.
Antigamente, era comum eu andar pelas mesmas ruas que agora percorro e reconhecer as pessoas, saber de quem eram filhos e onde trabalhavam. Passava pelas ruas que antes eram de terra batida e poderia contar bons momentos vividos ali, mas agora a sensação é de ser uma estranha chegando a um lugar totalmente desconhecido.
Engraçado chegar a essa reflexão apenas ao observar um senhor que, claramente, precisará de um transplante de pulmão se continuar nesse ritmo. A verdade é que me sinto uma estranha num lugar onde vivi minha vida inteira. Jamais pensei que um dia me sentiria assim em relação ao lugar onde nasci e passei boa parte da minha vida.
As ruas de terra batida foram substituídas por um asfalto fajuto, com muitos buracos ao longo do caminho. No local onde havia uma lanchonete movimentada no meu tempo de menina, agora há dois grandes outdoors cercados por um imenso matagal — e eu nem quero mencionar o tipo de comércio que tomou conta do bairro…
Observei o ônibus fazendo a curva e, logo, as pessoas se posicionaram para entrar no coletivo, que já estava lotado antes mesmo de chegar aqui. Coloquei os fones e deixei minha playlist tocar, enquanto me aventurava porta adentro.
Claramente, eu estava questionando minhas escolhas de vida — e o que faria do meu futuro.

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