O Espírito Santo é um dos estados do país com o maior índice de violência contra as mulheres. Já ocupou o primeiro lugar nesse triste ranking, especialmente em relação às mulheres negras.

Para se ter uma ideia do tamanho dessa violência, em 2021, 38 mulheres foram vítimas de feminicídio em terras capixabas, número 46% maior do que em 2020, quando 26 mortes foram registradas.

Uma das mortes foi da vendedora Roseli Valiati, ocorrido no dia 17 de outubro em Cachoeiro, e cometido pelo namorado, que a matou com um tiro na cabeça.

Infelizmente na maioria dos casos o marido foi o autor : 26,3% de feminicídios. Já em 21,1% dos casos, o autor foi o ex-marido.

Mas as violências que afetam as mulheres vão além da física, e merecem ser acompanhadas e fiscalizadas de perto para que atitudes que impeçam a violação desses direitos sejam tomadas preventivamente.

Por isso a importância de um órgão de controle social atuante, que dá voz a todas as mulheres e faz toda a diferença na defesa dos seus direitos, independente de qual deles tenha sido violado.

Esse é o caso do Conselho Municipal de Direitos da Mulher (CMDM), presidido em Cachoeiro desde 2016 pela gerontóloga Marilene de Batista Depes.

Na véspera do Dia Internacional da Mulher, quando todos os olhares se voltam para essa grande parcela da população, que ainda é pouco representada nos parlamentos país afora, ouvimos a presidente do CMDM sobre os principais desafios e conquistas à frente do Conselho.

“O maior desafio de presidir o Conselho Municipal de Direitos da Mulher  é fiscalizar se as políticas públicas em defesa das mulheres estão sendo realizadas a contento no município”, ressaltou.

Mas Marilene comemora, já que aponta conquistas importantes, entre elas a que considera a maior de todas, a transferência da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) para um local de fácil acesso e com ótimas instalações.

“Outra conquista foi a contratação de uma psicóloga atendendo dentro da Deam e de uma funcionária do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) para facilitar o acompanhamento da mulher que denuncia as violências sofridas”, enfatiza.

Marilene destaca que que o Conselho foi atento às denúncias recebidas e que todas foram encaminhadas aos órgãos competentes.

“Todas essas conquistas foram conseguidas através de pedidos diretos ao secretário de segurança, delegados, superintendente da polícia, prefeito municipal, câmara de vereadores. Fomos incansáveis a fim de atingir nossos objetivos”.

Mas essa representação à frente do CMDM também traz frustrações, e uma delas, segundo Marilene Depes, é que  não vê ainda um envolvimento geral das mulheres na questão da violência.

“Falta sororidade com as companheiras. Mulheres continuam sendo as julgadoras mais severas das outras mulheres”, pontua.

Mas diante de tanta luta, Marilene Depes, que marca presença em todos os eventos que lutem pelos direitos femininos e em defesa da vida das mulheres, tem um grande sonho:  a  formação de um Conselho em que as conselheiras assumam seu papel com assiduidade e responsabilidade.

E há também uma meta que a presidente considera essencial na defesa dos direitos violados:  o plantão da Delegacia da Mulher à noite e aos finais de semana, períodos em que ocorrem os maiores casos de violência.

E conclui: ” Para mim o Conselho de Direitos da Mulher não é palanque. Ele precisa ser conduzido com o olhar voltado de fato para a defesa dos direitos das mulheres. E isso é uma tarefa árdua que exige coragem e autonomia política. Eu estou disposta a continuar lutando e dando voz a tantas mulheres silenciadas e violentadas em seus direitos”.