O Espírito Santo comemorou nesta sexta-feira (17) os 126 anos da primeira mulher capixaba a publicar um livro de poesias, Maria Antonieta Tatagiba, natural de Mimoso do Sul.
Apesar de ter morrido jovem, aos 32 anos, vítima de tuberculose, a poetiza deixou um importante legado para a cultura capixaba.
Um dos estudiosos da vida e obra de Maria Antonieta é o mimosense e historiador Luís Salvador Poldi Guimarães, o Dodô. Para ele, a escritora foi uma das cidadãs mais notáveis da cidade e, na sua concepção, sempre esteve à frente do seu tempo.
Dodô ressalta que seus textos são belíssimos e que ela foi elogiada até por Rachel de Queiroz e Cecília Meireles, e que publicou em vários periódicos capixabas e fez parte de todo o movimento intelectual capixaba do início do Século XX.
Maria Antonieta é patrona da Academia de Letras de Mimoso e também da Academia de Letras de São Pedro de Itabapoana.
É também a patrona da Cadeira 32 da Academia Masculina de Letras de Vitória, título que lhe foi concedido 11 anos após a sua morte, em 1939. Já foi também nome de Rua em Vitória.
Dodô conta que Maria Antonieta nasceu no dia 17 de setembro de 1895 na Fazenda União, em São Pedro do Itabapoana – atualmente, Mimoso do Sul – que era de propriedade de seu avô materno, apesar dos pais morarem em Campos dos Goytacazes desde que se casaram, e terem voltado ao município para o seu nascimento.
Antes de chegar à imortalidade concedida aos membros das Academias de Letras, Maria Antonieta percorreu um longo caminho. Órfã de pai aos 13 anos mudou-se com a mãe e a irmã para o Rio de Janeiro para abrirem uma pensão que permitisse a sobrevivência da família.
Lá era frequentadora da Confeitaria Colombo, espaço de encontro da intelectualidade, e conheceu sua primeira paixão, que serviu de inspiração para muitos dos versos que escreveu.
Retorno ao Espírito Santo
Maria Antonieta Tatagiba e sua família retornaram à Fazenda União, e aos 18 anos de idade ela foi morar em Vitória. O historiador Luís Salvador Poldi Guimarães, o Dodô, conta que ela não desejava ser professora, o que era comum na época, mas farmacêutica.
Ela foi estudar no Ginásio Espírito-Santense (GES). Este colégio já existia desde 1869 como a primeira escola de estudos secundários para mulheres.
Mais tarde ele foi denominado de Colégio Nossa Senhora da Penha, preâmbulo da Escola Normal do Espírito Santo e centro formador das professoras primárias do nosso Estado.
Luís diz que Maria Antonieta cursou Humanidades formando-se em 1916, numa tentativa de impulsionar o ensino secundário, fragilizado pelas políticas públicas localmente implantadas.
Dedicou também à leitura de obras literárias e à produção de contos e poesias. O historiador relata que textos sobre ela contam que era comumente vista contando sílabas nos dedos, sempre atenta à métrica de seus versos que, mais tarde, seriam tão elogiados pela crítica literária.
A Cruz da Estrada
Um de seus contos, A Cruz da Estrada, foi publicado num jornal carioca em 1922. Aos 28 anos Antonieta teve textos publicados também na Revista Vida ‘Capichaba’, o órgão mais atuante no espaço literário das décadas de 1920 a 1940.
Essa revista era o veículo de comunicação de maior circulação do Estado. Foi também uma de suas entrevistadas, o que a tornou mais conhecida dos leitores do periódico, formadores de opinião importantes.
Entusiasmado, Dodô ressalta que o discurso contido nos artigos da revista tornou-se um referencial, principalmente para as mulheres de classe média e alta, que encontravam na revista uma fonte de informação e atualização sobre moda, política, literatura e costumes.
“Esta revista foi o primeiro órgão de divulgação cultural do Espírito Santo e circulou por 54 anos. Foi nela que o nome de nossa poetisa se tornou mais conhecido”, enfatiza.
Em 1927 Maria Antonieta Tatagiba assumiu a direção do jornal são-pedrense A Semana, e no mesmo ano, publicou seu único livro ‘Frauta’ Agreste, composto por 42 poemas.
Ela foi casada com José Vieira Tatagiba, magistrado, poeta e escritor que se tornou um dos prefeitos de São Pedro de Itabapoana.