Já vivemos sob a sombra dos relógios de sol – rodando em círculos, aguardando o retorno das estações. Quando a humanidade inteira olhava para a forma circular e ali via retratado o passar do tempo: era possível determinar um ponto no círculo e nomeá-lo de “antes”?
O depois existe na antecipação. O antes que eu quero escrutinar é criado no rastro. Quando circulamos uma palavra em um livro e delimitamos que, tudo à partir daquele ponto relevante é depois e o que já foi lido até ali e que era considerado o verbo em ação, sendo e continuando, vira antes.
O antes é o agora com outro nome, o nome que diz que o agora/passado já foi sucedido por algo marcante. Por algo que foi, em nós, marcado.
Não há como sentir que, agora, estou vivendo o antes. No agora vive-se o presente. Mas, uma vez que o depois chega e traz o que há de ser inesquecível, o agora, escorrido feito água e soprado como areia que já desapareceu ao vento, a esse agora que será iluminado pela narrativa cronológica que tecemos dentro de nós e que não existe lá fora – chamamos o antes. O antes é o que se cria quando determinamos um ponto no depois.
Estou escrevendo esse texto agora, antes de assistir aos filmes. Agora vivendo e quando o depois me trouxer esse novo presente – esse momento significativo – guardarei o antes, como um recurso de memória e história, que contamos e recontamos e chamamos vida.
O antes e o depois – recursos de narração que dependem de nós para existir – da nossa mente teimosa, tentando ser linear. Quanto ao tempo lá fora, há, sempre, o eterno retorno – como em um círculo. Uma volta. Um passeio. Uma dança.