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Quando o vinho acalma o tempo

RAQUEL POLETO FONSECA. Uma reflexão afetiva sobre o espírito do Natal, suas tradições e conexões, celebradas à mesa com vinho, pausas e encontros que aquecem o coração.

Dezembro chegou e com ele o mesmo ritual silencioso: uma vontade grande de voltar para algum lugar que não sabemos nomear. Ele entra pela casa como vento morno (afinal, estamos num país tropical), espalhando cheiros de forno quente, laços vermelhos esquecidos na gaveta e aquela luz piscando que sempre insiste em queimar no terceiro dia, mas que ninguém tem coragem de substituir porque, afinal, “é tradição”.

Reunir a família, os amigos, é uma tradição que tem o seu valor, momento de baixar a guarda e se permitir fazer uma pausa. Voltar às origens. E conforme a mesa vai sendo montada, algo dentro da gente se acomoda também. Talvez seja o espírito natalino, talvez seja apenas memória afetiva, essa coisa que brota sem pedir licença. As crianças correm pela casa como se o tempo fosse elástico, os adultos suspiram um pouco mais fundo, e a vida, tão apressada o ano inteiro, finalmente parece se sentar com a gente.

É nesse cenário que o vinho cumpre seu papel mais bonito: o de fazer o tempo andar devagar. Eu sempre digo que o vinho é conexão, mas aqui, vou parafrasear uma querida no mundo dos vinhos :”vinho é pausa”. Na entrada, quando chegam as saladas das tias caprichosas, as castanhas roubadas da travessa e o primeiro cheiro do bacalhau, um Alvarinho vivo ou um Sauvignon Blanc fresco ilumina a noite. É o gole que diz “chegamos”, que abre o apetite e os sentimentos, que faz a mesa ganhar voz antes mesmo das primeiras histórias. E se tiver aqueles maravilhosos salgadinhos de petisco, um Chardonnay barricado ou um Espumante brut vai recepcionar muito bem!

Depois, quando o peru assado surge dourado e quase triunfante, acompanhado do tender que só aparece nessa época, os tintos de corpo médio entram em cena como velhos conhecidos. Um Pinot Noir macio, um Merlot, abraçam o prato com delicadeza e afinam o clima ao redor. É curioso como esses vinhos parecem entender a noite: eles juntam as cadeiras, aproximam quem estava afastado, dão um brilho carinhoso ao olhar dos mais velhos e arrancam risadas sinceras dos mais jovens.

Mas é claro, que em cada família uma tradição de Natal é contada! Existem aquelas que optam pela praticidade de um churrasco, acompanhado daquele salpicão caprichado, com passas e tudo mais (quem não gosta que lute), o empadão daquela tia que tem mãos de fada, e que, mesmo com a receita o nosso não fica igual. Quantos pratos “típicos” cada família tem?! Essa é a magia do Natal, tudo faz sentido no final, pois não é sobre comida e sim conexão. Nesses casos um Espumante Rose Brut pode ser super versátil, harmonizando com a gordurinha santa do churrasco e também com os pratos mais untuosos.

E então vem a sobremesa, aquele território sagrado onde a doçura é regra, não exceção. É quando surge, triunfante como guardião do humor familiar, o tio do pavê. Ninguém sabe de onde ele vem, mas todos sabem o que ele vai dizer. Ele levanta a travessa com pompa, olha para a família inteira e pergunta, com a mesma confiança de todas as décadas anteriores: “é pavê ou pá cumê?”. A piada é velha, mas o riso é sempre novo, talvez seja isso que faz do Natal um reencontro tão especial.

Para harmonizar o pavê cremoso, nada melhor que um Moscatel Nacional ou um Colheita Tardia, leves e aromáticos, são rótulos naturalmente doces, vamos deixar o açúcar adicionado só nas deliciosas sobremesas mesmo. Se a mesa incluir rabanada, panetone ou aquela sobremesa improvisada que alguém jurou que “ia dar certo”, um Espumante Demi-sec ou até um Porto Ruby, se o chocolate for protagonista, completam a festa com um toque de brilho doce. É como se cada gole dissesse que a vida, mesmo nos seus tropeços, ainda sabe ser generosa.

No fim da noite, quando os presentes já foram abertos, as crianças começam a bocejar e os adultos se espalham pela sala, o Natal revela seu milagre mais discreto: unir o que a rotina separa. O vinho passeia entre as mãos, as conversas viram lembranças, e cada taça partilhada parece selar pequenos pactos de afetos, reencontros e recomeços, esses que sustentam o ano inteiro.

Porque o Natal é isso: um respiro de amor no meio do caos. É a chance de dizer sem pressa que ainda acreditamos uns nos outros, que ainda desejamos ser melhores, que ainda queremos um lar, mesmo que ele seja apenas o abraço de alguém. E se uma taça de vinho pode tornar essa noite mais suave, mais calorosa e mais nossa, então que ela nunca falte. E lembre-se, vinho é pausa! Não importa quais rótulos serão escolhidos, mas sim com quem vamos dividi-los.

Desejo a todos um ótimo Natal, cheio de Amor e Paz! Tim tim!

Raquel Poleto Fonseca, natural de Cachoeiro de Itapemirim, é escritora, contadora e sommelière de vinhos pelo Instituto Federal de São Paulo, com certificações especializadas pela Embrapa Uva e Vinho, Instituto Federal do Rio Grande do Sul e Enagro. É curadora de confrarias e do projeto Livros e Vinhos, unindo sua paixão por palavras e vinhos para criar experiências que conectam pessoas

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