ARTIGO: Thaís Rangel Damasceno, psicóloga, psicoterapeuta, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental. Servidora pública na rede SUS.
Cá estamos! Um trimestre inteirinho de privações, incertezas e adaptações. Pandemia, isolamento social, quarentena, coronavírus; essas palavras (e seus significados) passaram a compor o nosso cotidiano derrubando a sensação de controle que insistimos em pensar que temos. Nosso contexto atual vem nos proporcionando um reencontro com a nossa vulnerabilidade.
Estamos vivendo dias difíceis! Confinados em casa, com medo de algo que não se pode ver, mas que este ai, posto, e a todo o momento mostra seus efeitos. Nesse cenário, é comum sentirmos medo, ansiedade, tristeza, irritabilidade, angústia e outros sinais e sintomas que relacionam-se diretamente ao nosso estado mental. Contudo, nesse momento atípico, esses sentimentos são considerados comuns, normais e esperados.
A frustração, o tédio, o prolongamento das medidas de distanciamento social, a perda da rotina, a dificuldade ou fragilidade da rede socioafetiva, assim como a impossibilidade em participar de ritos coletivos (festas, velórios, casamentos…) impactam diretamente a nossa saúde mental.
Entretanto, vale ressaltar, que por mais que essas respostas sejam esperadas para esse momento específico, isso não significa que não possamos fazer nada a fim de evitar que se tornem recorrentes e cronifiquem.
Reconhecer, entender e acolher a dor e o sofrimento nos ajuda a transformar nossos próprios recursos a fim de superar essa fase. Assim como, já superamos muitos outros momentos difíceis em nossas vidas.
Mas como fazer isso? Como manter o equilíbrio em meio a tantas crises individuais e coletivas? Como encontrar estabilidade no caos? É possível?
Existem algumas medidas que podem auxiliar a lidar com o estresse: estruturar uma rotina, realizar atividades prazerosas e construtivas, fortalecer e manter laços afetivos, entre outros. No entanto, hoje, vamos refletir sobre alguns dos benefícios advindos do fortalecimento da vida espiritual.
Espiritualidade, esta propensão humana em buscar significado para vida por meio de conceitos que transcendem o que é palpável. Á procura e a vivência de um sentido de conexão com algo maior que si próprio.
Sabe-se que, a espiritualidade atua como um importante fator de proteção e de prevenção dos transtornos mentais, dessa forma, neste momento de pandemia, esse importante aspecto vital pode auxiliar ainda mais no cuidado com a saúde.
Trabalhar a espiritualidade no dia a dia nos deixa mais fortalecidos e preparados para lidar com questões da vida, pois através dela, podemos direcionar nossos pensamentos a uma perspectiva mais esperançosa e estável, depositando mais fé, amor e compaixão nas ações. Fatos estes, que auxiliam a lidar com sentimentos que têm sido tão comuns, já citados anteriormente.
Ter fé, não nos isenta de vivermos conflitos, dores e tristezas. Todavia, pode nos orientar a caminhos que darão suporte ao desenvolvimento da resiliência, nossa capacidade em superar as adversidades existentes. Somos seres vulneráveis, mas também somos seres de muitas possibilidades.
Dessa forma, é importante e legítimo experienciar os vários sentimentos que o contexto atual fomenta. Permita-se sentir a dor e a tristeza quando surgirem. As reconheça se caminharem pela sua casa, mas quando saírem, que não lhes roubem nada. Principalmente a sua fé, esperança, alegria e amor. Traga a memória àquilo que lhe dá esperança, creia no que te sustenta, renove suas forças e prossiga. “Pode haver tempos mais bonitos, mas este é o nosso” (Sartre).