A gente não precisa beber todas as bebidas do mundo num único jantar. Não precisamos dormir até entrar em coma e nem comer até vomitar.
A gente não precisa ser amado até se deixar sufocar e nem amar até tirar o ar do outro. Não precisamos abraçar alguém tão forte até esmagar os ossos dela e nem beijar alguém com tanta intensidade que a deixe roxa (ao menos não sempre).
Não precisamos estudar o tempo todo, nem trabalhar o tempo todo, nem tirar férias o tempo todo. Não é preciso que sejamos felizes ou tristes o tempo todo.
A vida está nas oscilações. As grandes alegrias, assim como as grandes tristezas, só são sentidas em alguns intervalos.
Nem toda falta dói, nem toda realidade nos angustia.
As nossas fantasias, às vezes (muitas vezes) (quase sempre), são melhores do que a realidade e isso não significa que tenhamos que “criar menos expectativas” (como se fosse possível!), mas que talvez seja o caso de curtirmos a nossa capacidade de fantasiar.
O desejo está aí para ser desejado e isso não significa que todos os desejos devam ser realizados.
As demandas das outras pessoas sobre nós, estão aí, nem todas para serem atendidas, mas nem todas para serem recusadas.
Freud ensina que não existe objeto de satisfação para o nosso desejo na realidade, que só há objeto de satisfação para o desejo na nossa fantasia, ou no nosso delírio. Assim sendo, nosso desejo nunca poderá ser plenamente satisfeito.
Isso não significa que devamos ser cínicos e sequer irmos em busca daquilo que queremos, pois dizer que o nosso desejo não pode ser plenamente satisfeito não é o mesmo que dizer que o nosso desejo não pode ser parcialmente satisfeito.
Então, que nos satisfaçamos parcialmente! Que sejamos não-todos felizes, mas ainda assim, felizes. Que sejamos não-todos leves, mas ainda assim, leves. Deixemos espaço para o desejo!