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Serra das Torres, no Sul do Estado, tem espécies raras ameaçadas de extinção

foto perfil anete3
Anete Lacerda

A bióloga e pesquisadora Jane de Oliveira, que estuda há muitos anos a diversidade do Monumento Natural da Serra das Torres (Monast), publicou o resultado do seu trabalho em uma conceituada revista científica alemã, a Zoologischer Anzeiger. Ela tem trabalhos publicados em outras revistas do Brasil e do mundo.

O artigo “Anfíbios do Monumento Natural Serra das Torres: um reservatório da biodiversidade da Mata Atlântica no Sudeste do Brasil” revelou que a Unidade de Conservação preserva diversidade considerável de anfíbios da Mata Atlântica, reforçando a necessidade de conservação desse remanescente florestal.

O Monast, que faz parte dos municípios de Atílio Vivácqua, Muqui e Mimoso do Sul, ocupa 10.458,90 hectares de Mata Atlântica e a pesquisa de Jane Oliveira e sua equipe identificou e registrou 54 espécies.

Jane enfatiza que outras espécies também são consideradas ameaçadas  de extinção e que o Monast ainda guarda uma das últimas populações da rã de riacho (Thoropa lutzi), que encontra-se praticamente extinta no Rio de Janeiro, onde não existem registros da espécie há mais de 40 anos.

Das espécies raras de répteis do Espírito Santo, 27% estão no Monumento Natural da Serra das Torres, sendo endêmicas da Mata Atlântica, e 30% tinham menos de cinco indivíduos registrados no Espírito Santo, informa Jane Oliveira.

“Algumas espécies só ocorrem no Monast, como uma microrãzinha, a Euparkerella robusta, criticamente ameaçada de extinção. Temos também três espécies que, embora ocorram em outros estados, só são encontradas atualmente no Espírito Santo, dentro dos limites do Monast”, enfatiza Jane de Oliveira.

A bióloga destaca ainda que, de maneira geral, anfíbios são ótimos indicadores de qualidade de uma floresta e que 71% dos que foram encontrados na Serra das Torres são restritos ao bioma Mata Atlântica.

A pesquisadora informa que duas espécies (Euparkerella robusta e Luetkenotyphlus fredi) são endêmicas do estado do Espírito Santo, sendo uma delas, a espécie de serapilheira Euparkerella robusta, endêmica na Serra das Torres, avaliada como criticamente ameaçada de extinção.

“Eles são animais muito sensíveis a alterações e diante de pequenas mudanças nos ecossistemas, podem desaparecer. Quando encontramos uma floresta preservando tantas espécies e, muitas delas endêmicas e raras, sabemos que a floresta está boa”, relata.

 Rã do Riacho, Thoropa lutzi

Segundo Jane, conhecer essas espécies mostra que o Monast está fazendo um importante papel de proteção e que, ao mesmo tempo, é uma floresta potencialmente preservada para outras espécies de outros grupos da fauna e flora.

A pesquisadora elogia o comprometimento da maioria dos moradores dos municípios do Monumento da Serra das Torres pela preservação do local.  Alguns deles, ela conta, apoiaram a pesquisa durante todo o tempo que duraram os trabalhos.

“Temos muitas espécies que dependem de água limpa e fresca para sobreviver, indicando que as nascentes do Monumento são muito preservadas”, ressalta a pesquisadora.

Sapo-Folha (Zachaenus parvulus)

Como as espécies são sensíveis até mesmo a pequenos desmatamentos e mudanças na água, preservar a região e manter os remanescentes sem alterações é imprescindível.

“Hoje temos um bom quadro no Monast, mas tudo pode ser modificado rapidamente, dependendo da ação predatória do homem. Está tudo conectado. Não são só sapinhos morrendo, é a floresta mostrando que tem algo errado”, destaca a bióloga

O artigo “Anfíbios do Monumento Natural Serra das Torres: um reservatório da biodiversidade da Mata Atlântica no Sudeste do Brasil”  é resultado de uma pesquisa desenvolvida por Jane de Oliveira no Monast ao longo do ano de 2018.

Sapo Pulga

Mas a história da bióloga na região começou muito antes do Monumento se tornar uma Unidade de Conservação. Ela fez parte do estudo para criação do Monast, onde também fez as pesquisas de mestrado em 2009 e 2010, voltando em 2018 como pós-doutoranda.

Preservacionistas

Carlos de Oliveira Lacerda tem uma propriedade no Monast e é preservacionista. Foi inclusive na sua propriedade que o primeiro Sapo-Pulga(Brachycephalus didactylus) foi encontrado, o que aconteceu posteriormente em outras propriedades.

Ele conta que saber que o cuidado com o local ajuda a manter espécies raras ou em extinção da fauna e da flora é muito gratificante.

“O meu pai, que faleceu no ano passado, sempre foi muito cuidadoso com a natureza. Era um entusiasta da pesquisa da Jane. Então continuar preservando é também uma homenagem a ele, que se dedicou muito nos últimos anos para a criação e preservação da Serra das Torres. É uma homenagem também a quem faz pesquisa e um legado para as futuras gerações”.

Valentim Colli é produtor rural e mora na Serra das Torres há 39 anos. Também foi um dos apoiadores do trabalho da pesquisadora e sua equipe.

Diz que valoriza o equilíbrio ambiental e que no que depender dele, sempre haverá novas espécies no Alto Moitão do Sul, Atílio Vivácqua, onde mora.

“Preservar é importante para os humanos e para a ciência. A partir da preservação os cientistas podem descobrir a cura para novas doenças”.

Ele diz que ele e sua família entendem a importância da preservação da fauna e da flora “Preservando, pensamos também em nós. Não dá para preservar animais nem ter alimentos, saúde e qualidade de vida sem a floresta em pé”.

SAIBA MAIS

Outras publicações da pesquisadora Jane Oliveira

– Artigo de 2021: Anfíbios da Serra das Torres, espécies raras, endêmicas e muitas ameaçadas de extinção.

Links das publicações:

Anfibios:  https://doi.org/10.1590/1676-0611-BN-2020-1085

Repteis:https://doi.org/10.1590/1676-0611-BN-2019-0726

Espécie nova (cecilia): https://doi.org/10.1016/j.jcz.2019.07.001 

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