Os dias que estes homens passam na montanha são os dias que eles realmente vivem. Quando as cabeças se limpam das teias de aranha e o sangue corre com força pelas veias. Quando os cinco sentidos cobram vitalidade e o homem completo se torna mais sensível. Então já pode ouvir as vozes da natureza e ver as belezas que só estavam ao alcance dos mais ousados.
Reinhold Messner
Bram Stoker
Tudo começa em 1897, quando o famoso escritor Bram Stoker publica aquela obra que se tornaria imortal, influenciando a cultura mundial no campo literário e principalmente a sétima arte. Um livro que mexe com a imaginação de todos e que cultiva uma legião de fãs. Essa obra seria o seu famigerado livro Drácula.
Drácula, que do latim significa filho do dragão ( Draco = Dragão e La = Filho), seria o primeiro vampiro do mundo, o mais antigo e sábio, o rei de todos eles e que para se alimentar precisa beber sangue humano, o que lhe concedia juventude e imortalidade. Além de possuir poderes hipnóticos e de sedução, esse todo poderoso senhor das trevas possuía um castelo, e adivinhem, essa rudimentar moradia ficava localizada em uma montanha.
O Conde Vlad
Antes de falarmos da montanha é preciso que o leitor conheça de fato quem foi o verdadeiro Conde Drácula. E ele foi inspirado por uma pessoa da vida real, um rei chamado Vlad Tepes, ou Vlad o Empalador, que se notabilizou pela forma determinada e sanguinária de combater os invasores turcos.
Nascido em Bucareste em 14 de setembro de 1476, era o primogênito de Vlad II, voivoda (espécie de governante) da Valáquia (na Romênia) , que o entregou juntamente com o seu irmão mais novo Radu, aos cuidados do Sultão, para servirem de reféns do Império Otomano que estava em ascensão, como garantia da lealdade.
Com o passar dos anos Vlad II veio a falecer e após inúmeros acontecimentos históricos, Vlad Tepes por ser o filho mais velho, por consentimento do Sultão assume o governo de Valáquia, com a garantia de sempre se reportar ao império otomano. Uma vez no poder, Vlad ainda mantinha sua convicção cristã e repudiava o islamismo, e movido pelo seu ímpeto de ver o seu povo livre da dominação mulçumana, começa de forma discreta, uma campanha militar contra o império otomano. E mesmo em desvantagem numérica, Vlad usa artifícios de guerra psicológica para combater o inimigo, e entre as estratégias adotadas estava o empalamento, que seria uma prática de tortura seguida de morte, onde se enfiava uma lança pontiaguda no ânus do inimigo fazendo com que ela atravessasse as suas entranhas para vazar nas costas ou boca da vitima, e em seguida essa lança com o cadáver trespassado era colocada em pé para afugentar e aterrorizar os soldados do sultão. E os historiadores especulam que mais de 20 mil turcos e búlgaros foram capturados e empalados.
O Conde Vlad conseguiu no inicio bons resultados, impondo terror e medo no coração dos otomanos. Mas devido à sua péssima reputação, logo se viu abandonado por outros reis europeus e com o tempo veio a sucumbir diante da força militar do sultão, sendo substituído pelo seu irmão Radu.
E assim com o uso indiscriminado desse suplício nasce a lenda do vampiro, do rei que se nutria do sangue de suas vitimas para ter a vida eterna, o rei que tinha medo do sol e que controlava morcegos e lobos e podia se mover a velocidade da luz. E vale a pena destacar que Vlad, assim como seu pai pertenceram a Ordem do Dragão, que originou sua alcunha, Drácula ou Dracul, que também significa “filho do diabo”. Fato muito bem explorado por Bram Stoker em sua obra.
Os Cárpatos
E desde que Bram Stoker publicou o seu romance em 1897, passamos então a associar as montanhas dos Cárpatos a esse sinistro personagem que se tornou lendário, cuja residência ficava no alto desses majestoso montes. E confesso que estas montanhas, na maioria das vezes cobertas pela neve, possuem uma beleza exótica e avassaladora, algo verdadeiramente tenebroso e inquietante.
Os montes Cárpatos, caros leitores, é uma cordilheira de montanhas que formam a muralha natural da parte oriental da Europa, expandindo suas fronteiras com a Romênia, Ucrânia, Polônia, Sérvia, Hungria e Eslováquia. Possuindo mais de 1.500 km de extensão, e sua largura varia entre 12 km a 500 km. E o seu ponto culminante seria a montanha Gerlachovsky na Eslováquia com 2.655 metros de altitude.
O Castelo de Bram ou do Drácula
E seria nessa extensa cordilheira que estaria localizado a fortaleza do Conde Vlad Tepes, o Castelo de Bram, que recebeu esse nome, em homenagem ao famoso escritor. E ele fica encrustado no alto da montanha de Bram, e começou a ser utilizado usado como quartel general do nosso querido vampiro na defesa de suas terra e de seu povo. E foi ele quem transformou esse castelo em uma eficiente fortificação militar, erguendo muralhas, construindo passagens secretas, equipando com armamentos e mandando construir vários quartos para manter o seu exército. E existe evidências que vários turcos morreram empalados em seus jardins.
E por sua posição estratégica privilegiada, o Castelo era de difícil acesso e possuía uma visão de todo o vale, o que dificultava ataques surpresas de tropas invasoras. E para chegar até os seus portões é necessário subir 1.480 degraus de pedra, em uma trilha em ziguezague dentro da floresta, uma verdadeira escalada.
Atualmente o castelo se tornou um dos pontos turísticos mais visitados da Romênia. Recebendo mais de meio milhão de visitantes por ano. Possuindo mais de 57 cômodos, bem distribuídos em quatro andares, ele se tornou um dos imóveis mais caros do mundo, sendo avaliado em mais de 400 milhões de reais.
Os Strigois
Nas vilas da Romênia, os camponeses ainda hoje sussurram sobre as lendas dos strigois, que seriam pessoas nascidas de pais pecadores e que depois de mortas, voltavam para assombrar a família. E há quem diga que eles se nutrem de sangue. Esse mito ajudou a consolidar ainda mais a mística em torno de Drácula. Inclusive esses seres foram temas de um programa da Discovery Chanel, Rumo ao Desconhecido com Josh Gates.
Atualmente
Com o advento da modernidade, as superstições deram lugar a ciência, e graças a trabalhos sérios de Historiadores e Arqueólogos, o Conde Vlad Tepes, hoje, é reconhecido como um verdadeiro herói nacional pelo povo da Romênia. Um bravo guerreiro que lutou com afinco pela independência de seu País. Um verdadeiro gênio militar, cuja lenda permanece viva no coração de todos.
Para frente e para o alto;
Montanha Brasil.
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