ARTIGO: Marcio do Nascimento Santana, historiador, montanhista, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim.
Código Samurai
“A perfeição é uma montanha impossível de escalar, e que deve ser conquistada um pouco a cada dia.”
Itabira e o seu significado
O nome Itabira origina-se na língua tupi, a partir da soma de dois termos: itá e bira. Enquanto este segundo significa “brilhante”, o primeiro que dizer “pedra”. Assim, o significado do nome Itabira é “pedra que brilha”.
Os puris e o Deus da Fertilidade
Pela sua forma fálica, o Itabira foi considerado pelos puris, os primeiros habitantes dessas terras, como o Deus da Fertilidade. Esses indígenas acreditavam que se copulassem aos pés dessa pedra,nasceriam mais meninos que meninas, uma vez que a sociedade puri era patriarcal, e que mais meninos significavam mais guerreiros e também mais caçadores.
A escalada
Corria o ano de 1947 quando, no dia 5 de junho, montanhistas cariocas desembarcaram em Cachoeiro de Itapemirim, na antiga estação ferroviária… Traziam em suas bagagens quilos e mais quilos de equipamentos de escalada. Entre os itens de destaque estavam cordas de sisal, cunhas de madeira, uma escada de ferro desmontável de 3 metros, grampos em L ou os famosos grampos pés de galinha, ou simplesmente pregos com até 50 cm de comprimento.
Os nossos heróis, cinco ao todo, eram Índio do Brasil Luz, Sílvio Joaquim Mendes, Reinaldo Behnken, Júlio Maria de Freitas e Reinaldo Santos, que se apresentaram ao prefeito municipal da época, Antenor Moreira Fraga, com a promessa de conquistar o Pico do Itabira, um gigantesco monólito de granito que se eleva a aproximadamente 575 metros e que se tornou o cartão postal dessa cidade. Em troca, esses destemidos forasteiros queriam apoio logístico nessa empreitada.
A prefeitura então forneceu suprimentos, hospedagem e transporte, porém em troca eles deveriam levar com eles um cachoeirense, o saudoso Amâncio Silva. E assim Reinaldo Behnken, que tive a honra de conhecer, e Silvio Mendes lideraram o desafio, que durou 19 dias.
Ao término da conquista, eles soltaram fogos de artifício que culminariam em uma tremenda comemoração na nossa cidade. Um buzinaço se fez ouvir com as sirenes da fábrica de tecido. Todos muito orgulhosos que o nosso poderoso gigante havia sido domado.
Eles chegaram ao cume no dia 22 de junho de 1947. O jornalista Florisbelo Neves, redator do “Correios do Sul”, registrou a empreitada.
E assim, a conquista do Itabira se tornou um marco do montanhismo brasileiro. E Cachoeiro de Itapemirim se tornou a Meca do Montanhismo Capixaba atraindo montanhistas de todo os estados e também de fora.
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O Itabira fora considerado por muitos montanhistas a pedra mais difícil de ser escalada no Brasil durante 40 anos. E é até hoje um monumento natural envolto em mistérios, inclusive há relatos de aparições, como a Mãe do Ouro e seres do nosso folclore como o Saci Pererê e o Boitatá, e ainda há quem diga que esse monólito gigantesco também atrai discos voadores.
Seja como for, o Itabira permanece eterno e vigilante, uma testemunha silenciosa da cidade de Cachoeiro de Itapemirim e sua história, sempre lembrado com carinho por cantores e cronistas, montanhistas e curiosos.
Mais que uma pedra, um protagonista que marca o avanço do tempo, recebendo grandes homenagens, entre elas o voo da Esquadrilha da Fumaça, e também o voo de um dirigível.
Pico do Itabira. Mais que um orgulho cachoeirense, um orgulho capixaba e nacional.
Nosso pequeno Cachoeiro, não tão pequeno assim.
“Para frente e para o alto”.
Montanha Brasil.
Para saber mais:
http://www.ijsn.es.gov.br/ConteudoDigital/20160811_aj08388_historia_cachoeiro_picodoitabira.pdf