Recentemente, os leitores do Dia a Dia ganharam uma nova coluna para acompanhar nas edições de domingo: Taça & Prosa, assinada por Raquel Poleto Fonseca, escritora, contadora e sommelière de vinhos.
A coluna surge com uma proposta leve e descontraída, intercalando aos domingos conteúdos sobre vinhos, suas curiosidades, dicas de harmonização e temas que prometem cativar desde os novos apreciadores até os enófilos mais experientes.
“A escrita já era uma grande paixão e me faz muito feliz; o vinho entrou na minha vida como hobby, mas acabou tomando um caminho mais profundo e técnico”
Raquel Poleto

Raquel Poleto, natural de Cachoeiro de Itapemirim, traz em sua bagagem uma sólida formação em vinhos. Ela se formou sommelière pelo Instituto Federal de São Paulo e possui diversas certificações.
É curadora de confrarias e do projeto Livros e Vinhos, iniciativa que une literatura e degustação, criando momentos de conexão entre pessoas.
Conheça um pouco mais sobre nossa colunista na entrevista abaixo.
Entrevista com Raquel Poleto
Como surgiu a ideia para a criação da coluna “Taça & Prosa”?
A escrita já era uma grande paixão e que me faz muito feliz; o vinho entrou na minha vida como hobby, mas acabou tomando um caminho mais profundo e técnico. Comecei a escrever alguns artigos específicos para a Revista Adega e a ideia de algo mais descontraído foi surgindo. Com o incentivo de alguns amigos queridos foi nascendo o Taça & Prosa, fruto do bate papo nas confrarias e eventos que tenho realizado, das dicas e dúvidas do dia a dia e do desejo de desmitificar o vinho, melhorando a experiência com a bebida.
O que os leitores podem esperar das suas conversas quinzenais? Quais são os próximos temas que pretende abordar?
A leveza e descontração são fundamentais, pois gosto é algo muito pessoal e esse sempre será o ponto principal. Esse universo é muito complexo, cheio de termos e variedades, isso complica um pouco a aproximação do consumidor. Meu objetivo é quebrar essa barreira, trazendo informações práticas melhorando a experiência pessoal com vinho. Por isso vamos falar sobre os aromas dos vinhos, as etapas de uma degustação sensorial, dicas de harmonizações natalinas, como escolher vinhos no supermercado, tipos de uvas e por aí vai… Mas sempre com muito bom humor.

Você menciona diferentes momentos e formas de apreciar o vinho, desde degustações técnicas até vinhos para o churrasco com amigos. Como você pretende equilibrar essas abordagens variadas?
Na preparação dos textos eu sigo uma sequência, como um “fio condutor”, organizando os assuntos de forma equilibrada, sempre mesclando algo mais aprofundado, com algo mais leve. Procuro utilizar uma abordagem didática, com temas que fazem sentido ao longo do tempo.
Na sua opinião, o que faz do vinho uma bebida tão especial?
É uma bebida que carrega muito simbolismo; religioso, mitológico, familiar, social… está presente ao longo da história da humanidade. Na minha concepção o vinho agrega as pessoas, não apenas para falar dele em si, mas para compartilhar fatos da vida, momentos especiais, comemorações. Por isso quero manter esse tom de “prosa”, de conversa na coluna, como bons amigos que batem papo sobre o que gostam.

Você é sommelière com várias certificações e experiências. Como essa expertise influencia a maneira como você vai abordar o vinho no “Taça & Prosa”?
Ser sommelière é algo que eu tenho construído ao longo do tempo, gosto muito de estudar e aprender coisas novas, me empolgo mesmo, haja vista que plantei 6 mudas de uvas no meu quintal… (risos), motivada por um curso sobre viticultura. É um universo em que jamais se pode dizer que conhece de tudo, sempre aprendemos e evoluímos. Procuro ter bons mentores e professores com os quais aprendo muito e busco estar sempre atualizada nesse nicho de negócio. É desse aprendizado diário que vou retirando o conteúdo para nossa coluna.
Podemos esperar também orientações mais técnicas para os entusiastas e profissionais?
O conteúdo será sempre equilibrado, tanto para quem não é tão familiarizado nesse universo, quanto para os enófilos que buscam conhecimento e informações para evoluírem nessa área. Vamos compartilhar sempre, como uma boa garrafa de vinho.
Hoje vemos vinhos sem álcool, veganos, em lata e outras inovações. Como você enxerga essas tendências no mercado de vinhos e qual a sua opinião sobre essa “modernização” no mundo vinícola?
Sem dúvida nenhuma isso é uma tendência global, principalmente na geração milenium e Z. Existe uma crescente preocupação entre esses consumidores com os efeitos do álcool no corpo, estilo de vida mais saudável, uma maior consciência ecológica na produção, abordagens mais diretas para consumo rápido, entre outras condições de mudança de comportamento do consumidor. Dessa forma a indústria do vinho precisa se adaptar, pois é um segmento de investimentos altíssimos e de mercado cada vez mais concorrido com outros tipos de bebidas alcoólicas.
Você acredita que o vinho ainda mantém um status de “bebida elitizada” ou vê uma democratização crescente entre os consumidores?
Infelizmente ainda existe um pouco disso, muitas vezes ligado ao desconhecimento e ao “glamour” que foi formado ao redor da bebida. Alguns ainda tem em mente de que vinho bom é vinho caro, encontramos um pouco de preconceito com vinhos brasileiros… tem de tudo. Mas é fato, que em pesquisas de mercado, o número de consumidores de vinhos de entrada, por exemplo, está aumentando, assim como os vinhos um pouco mais caros. As pessoas estão bebendo mais e querem investir seu dinheiro num produto que valha apena.

Nossa coluna tem um pouco dessa missão; esclarecer o consumidor sobre o que ele está comprando e principalmente como comprar de forma mais assertiva. Conhecer alguns termos vai facilitar esse processo, descobrir seu gosto pessoal e combinações o ajudarão a desfrutar de momentos ímpares com quem se ama ou até mesmo sozinho, na reflexão da vida.
Como é ser mulher, escritora e sommelière nesse universo tradicionalmente associado ao masculino? Você mudança neste cenário?
Na verdade, minha primeira formação e profissão é na contabilidade. Eu sou contadora há mais de 20 anos, então atuar num meio tradicionalmente masculino, não é uma novidade. Na decisão de trilhar também o caminho da escrita e do vinho de forma também profissional, levei em conta os desafios que preciso superar, oferecendo um trabalho esmero e dedicação. Eu gosto de associar essa nova fase ao início da minha carreira na contabilidade, eu era apenas a menina que arquivava papel e ia comprar pão no café. Hoje, tenho uma carreira estável com muita coisa pela frente ainda. Como sommelière e escritora, ainda estou aprendendo e por isso mesmo busco referencias femininas nesse meio masculino. São mulheres sommelieres, enólogas, viticultoras e jornalistas especialistas no assunto, respeitadíssimas no mundo do vinho. Como não citar Jancis Robinson, Suzana Barelli, Laura Catena, e tantas outras, que um dia se propuseram a começar e hoje estão difundindo a cultura do vinho de forma muito séria.
Por fim, para aqueles que estão apenas começando a explorar o mundo dos vinhos, que dicas você daria para uma primeira abordagem e apreciação da bebida? E como “Taça & Prosa” pode ser um ponto de partida para essa jornada?
Minha principal dica é não ter medo de experimentar até encontrar o que melhor se encaixa no seu paladar. Já ouvi muito isso; “quero aprender a beber vinho seco”, “ meu paladar é infantil”, “quanto mais velho o vinho, melhor”….
Acho que o nosso Taça & Prosa pode ser não o ponto de partida, mas o ponto de encontro, onde como bons amigos, vamos poder compartilhar, aprender, trocar experiências. Um ponto de respiro nessa correria frenética que nos rouba o sossego de uma boa taça de vinho.
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