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Tempo, tempo, tempo

escritoras-cachoeirenses2-07-01-23
Escritoras Cachoeirenses

“Esperarei pelo tempo 

com suas conquistas áridas. 

Esperarei que te seque, 

não na terra, Amor-Perfeito, 

num tempo depois das almas.”

Cecília Meireles

Vivo em remendos, na tentativa- sem sucesso- de costurar o tempo às necessidades. Lembro-me das conversas ao pé de minha avó e mãe, nas contações de histórias, e percebo o quanto o tempo era um personagem tão importante quanto os eventos ditos de forma sorrateira ou com um requinte de adjetivos.

O tempo ganhava peso e a intensidade das emoções era consolidada pela leveza das horas e das pessoas. Eram pessoas que se deixavam ir, permitiam que a vida tivesse outras nuances e invocavam, com precisão, a visita constante do senhor tempo.

Lembro-me de Drummond e sua “Lembrança do mundo antigo”, no qual temos a visão de um mundo que não mais é visto, um tempo que permitia as pessoas sonharem com mais maestria- não que não fazemos isso hoje- e que “ cartas custavam a chegar e havia manhãs”. Hoje, estou compelida a cumprir a rotina de uma vida atarefada e que me parece sempre estar atrasada.

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Há um pragmatismo em tudo, um utilitarismo desnecessário de atividades que me afastam mais do outro e de quem sou realmente ( essência). A vida toma rumos descontroláveis e, quando me encontro ensimesmada, percebo que estamos sendo tomados e pouco restou de nós. Tenho trabalho, relógio, hora marcada, e não a mim mesmo, a alegria em descompassos e vias contrárias.

Penso, muitas vezes, o final disso tudo; qual o motivo de se engolir a comida e sapos e deixar para o próximo dia o que não se fará. Somos seres materialistas e esquecemos que o maior está no impalpável, nos deslizes e no incontável.

Nisso, lembro-me de outro texto, da Marina Colasanti ( a literatura sempre me salva), “ Eu sei, mas não devia”, em que vamos nos acostumando, nos “enformando” para que tornemos a vida igual, não ultrapassemos o que nos é permitido, nos é, violentamente, dado.

Neste tempo desenfreado, vou instituindo lugar às dores, mágoas, pois falta tempo para resolver ou sublimamos tudo para que ocupe o lugar devido sem grandes “perdas e danos”. Cansei de ouvir do outro- e dos escapes da minha voz- que não há tempo, não há possibilidade por motivo maior. Deixa-se escapar a inauguração de momentos únicos e nem se dar conta de lamentar ou só o que resta é a angústia de não segurar a corda, de danos da esperança sem, ao menos, dar folga ao que sufoca.

O momento oportuno para uma conversa vai sendo guardado no armário, a risada desavisada subterfugia na vida do meio, escondida nos escombros, o abraço fica entre os papéis amontoados na mesa do escritório, a poesia, já presente, fica a mercê de tantas escolhas e é deixada para depois. O amparo, o afeto, o querer bem, o que precisa ser dito e sentido vai se estendendo no vazio de uma hora que nunca chega ou só escapa de vez em quando.

O tempo, animal não domesticável, mistério que entremeia entre a vida e a morte, é o senhor de todos, sendo o braço amigo e aliado, como também o elemento que constrange as melhores memórias e devora as inconstâncias e os importantes devaneios. Como não me lembrar de “Oração ao tempo ( tempo, tempo, tempo)”, de Caetano Veloso? Como não evocar o tempo como o grande
compositor de destinos; o grande movimento da nossa estrada vida?

A falta, a ausência, a permanência e o fluxo de tempo são traçados, reflito, de uma vida que, ao ganhar aspectos da pós-modernidade, abarca novas vertentes e manifesta outras transgressões. Nada é tão presente- e ausente- neste tempo.

Construo minha identidade sobre cenários sombrios, curvos, oscilantes e sem amparos. E, destituídos de sombra e mares calmos, sou impelida a remar em correntes contrárias, a inventariar outras formas de vida e tempo. A vida se desprende fácil e a covardia costuma se render ao relógio. Minha sanidade quer diante do tempo loucura e, neste momento, horários e compromissos não me bastam.

(Reflexões para um fim de ciclo)

Simone Lacerda, cachoeirense de coração, é graduada e pós- graduada em Letras, com ênfase em Literatura Portuguesa e Brasileira e estudante de psicanálise, atuando como docente de Língua Portuguesa desde 2004. Participou do livro Esse Ofício das Letras, com quatro textos, e publicou seu livro solo – Arame Farpado – em 2017, por meio do Edital da Secult, pela Editora Cachoeiro Cult, além de ter contribuído com seus textos para jornais, revistas e sites. Sem dúvida, uma mulher de vieses e vozes, com “estrelas nos olhos e asas na alma”

Uma resposta

  1. Que texto lindo ‼️‼️ Sou sua tia e também Professora de Língua Portuguesa e Psicóloga. Amei seu texto, Simone‼️‼️ Jesus continue te abençoando Sempre e que continue a escrever textos tão lindos ‼️‼️ Parabéns, sobrinha‼️‼️🥰🥰🥰

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