“Faça valer a pena. Encontre-me no relógio.” Bilhete de Jack para Rose
Eu fui uma adolescente obcecada pelo filme Titanic. Lançado em 1997 e com estreia no Brasil em 1998, eu tinha 14 anos e Cachoeiro não tinha cinema quando toda a febre se deu. Lembro-me das excursões que saíam quase todos os finais de semana rumo a Vitória, lotadas de jovens que levavam consigo posters dos atores para as salas de cinema dos shoppings da capital. Reportagens de jornal mostravam fotos das longas filas de espera antes das sessões e o rosto do ator Leonardo DiCaprio onipresente nas capas de revistas juvenis.
Outros tempos, a onda Titanic mania demorou a passar. A chegada do filme às locadoras, meses depois de sair de cartaz nos cinemas, reviveu a efervescência ao redor da história, da trilha sonora e dos personagens principais. Foi somente na casa de um amigo que consegui assistir ao filme, depois de esperar mais de um mês pela minha vez de alugar as duas fitas que guardavam as mais de três horas de duração de absoluto encantamento e emoção. Assistimos ao filme no sábado e novamente no domingo, aproveitando ao máximo as 48 horas em que a história real do naufrágio e fictícia do amor entre Jack e Rose estariam disponíveis no vídeo cassete. Despedir-se das fitas era inevitável e o próximo encontro-aluguel era incerto. Os catálogos de streaming com infinidade de obras sempre à disposição apagaram a forma quase sagrada que nos relacionávamos com as fitas VHS que passavam pelas nossas mãos.
Desde 1998, revi o filme inúmeras vezes. Porém, somente agora, na celebração do aniversário de 25 anos do lançamento, assisti no cinema. E foi como assistir pela primeira vez.
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Eu sei, todos nós sempre soubemos que o navio afunda no final e nem mesmo o amor entre os protagonistas é uma novidade. Na verdade, sempre foi um clichê – menina rica e rapaz pobre enfrentam tudo por amor impossível e perdem. Para completar, o romance é embalado por uma trilha sonora melodramática e novelesca que pode fazer os mais arrogantes e pseudo intelectuais torcerem o nariz e revirarem os olhos. Direito deles. Pessoalmente, recebo o retorno de Titanic ao cinema como um convite há muito esperado e desejado, como quem encontra na multidão anônima e sem graça um olhar que faz sentir especial, como um sussurro elegante em meio à cacofonia de conversas desinteressantes, como um bilhete fortuito que instiga a preencher as horas com significado e a fazer a vida valer a pena. Sim, a cena cuja citação abre essa coluna é uma das minhas favoritas, não só desse filme, mas de todo o cinema que eu tenho a alegria de conhecer.
25 anos depois, o mundo está mais esnobe, apático, indiferente, superficial e cínico. Os filmes trazem milhares de cenas rodopiantes e tecnológicas que escondem a total falta de profundidade e humanidade. Uma eterna repetição em continuações ruins que nada têm a dizer. A plateia paga o cinema e passa o filme inteiro com os olhos na tela do celular. Eu também envelheci e não me emociono tão facilmente como quando tinha 14 anos. Felizmente, Titanic continua intacto e perfeito. Cena após cena, nos sentimos embarcando na trágica viagem cujas imagens iniciais já nos mostram somente os escombros. O navio afundou há mais de cem anos. Jack e Rose tiveram um breve encontro e se separaram para sempre. Tudo é consumido pelo desastre e pelo tempo inclemente.
Mas, o cinema é sonho e saber, desde o início, que o final é a total dissolução e que o imponente Titanic repousa no fundo escuro e inatingível do atlântico nos dá uma rara, oportuna e extraordinária brecha de três horas de filme para respirar: encontremo-nos no relógio, esse artefato implacável, e façamos valer a pena. Afinal, não sabemos se teremos a dádiva de um próximo encontro.
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