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Trilogia do Antes: Para onde foram os nossos encontros?

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Durante a vida, quantas vezes elevamos nossos momentos banais e corriqueiros ao patamar sagrado de nossas memórias e recordações mais queridas? Agora, me debruço com atenção e olhos de desejo sobre essa palavra escorregadia presente no título desses três filmes: quando começa a existir o antes?

Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-sol e Antes da Meia-Noite – a chamada “trilogia do antes”, de Richard Linklater, disponíveis na HBO max – me acendem a força de um acheronta movebo: se não posso mover os poderes superiores a mim, moverei, internamente, esse inferno chamado antes. Já vivemos sob a sombra dos relógios de sol – rodando em círculos, aguardando o retorno das estações. Quando a humanidade inteira olhava para a forma circular, e ali via retratado o passar do tempo, era possível determinar um ponto no círculo e nomeá-lo de “antes”? O depois existe na antecipação. O antes que eu quero escrutinar é criado no rastro. Quando circulamos uma palavra em um livro e delimitamos que tudo a partir daquele ponto relevante transforma-se em depois – e o que já foi lido até ali e que era considerado o verbo em ação, sendo e continuando, chamamos antes – que forma essa sensação recebe?

O antes é o agora com outro nome, o nome que diz que o agora/passado já foi sucedido, dentro de nós, por algo marcante. Por algo que foi, em nós, marcado.

Um casal, andando pelas ruas de três cidades diferentes – uma em cada filme – com um pé no presente e os olhos fincados no momento derradeiro quando o último grão de areia cairia da ampulheta para determinar o final daquele instante – transformaram aquele agora em antes, para elevá-lo sobre tantas outras horas comuns de outros dias que viriam, para que cada segundo dentro daquelas horas escolhidas não passasse despercebido, para que o momento presente fosse alçado à experiência da eternidade.

Penso que, todos nós sentimos que quase podemos tocar todos os nossos antes – mas, nos resignamos. Se há esse desejo, significa que já moramos em um eterno depois, que nos afasta do antes por milímetros intransponíveis. Sondar essa palavra cujo significado primeiro parece tão fugidio: quem eu era antes de ler um livro que me modificou tão profundamente? Como eu vivia antes de conhecer alguém que amei? Como era o mundo antes de eu fazer parte dele?

O antes, me parece, sempre nos escapa: como uma palavra que nos faz aguardar a chegada do depois, trazendo, com ele, o que há de ser inesquecível. O agora, escorrido feito água e soprado como areia que já desapareceu ao vento, a esse agora que será iluminado pela narrativa cronológica que tecemos dentro de nós e que não existe fora dos nossos pensamentos – chamamos o antes.

O antes é o que se cria quando determinamos um ponto no depois, um ponto no vazio que nós acreditamos conseguir preencher.

Pois todos os meus eus de antes ainda passeiam pelas ruas que já pisei. E continuam se encontrando e desencontrando com tanta gente que, no agora, não mais sei por onde anda, mas que, no passado, cruzaram minha vida e passeamos juntos por horas que não retornarão. Quem sabe, um dia desses, numa volta ou outra do tempo, esbarrarei comigo mesma, e estarei acompanhada, e terei dezoito ou dezenove ou vinte e cinco ou trinta anos, e estarei recitando meus livros preferidos e contando em voz baixa sobre meus amores e meus sonhos mais íntimos – segredos sagrados que hoje são irrelevantes, mas que são bonitos de ouvir e finos de olhar. Quando os encontrar, a mim e a todos que já dividiram comigo passeios vespertinos que se alongavam em antes, antes da vida tomar seus rumos diversos – caminharei devagar e perto, tão perto para que talvez me ouçam, cantarolando essa música de Sérgio Sampaio: leros, boleros, traga branco o seu sorriso, em que rua, em que cidade, eu fui mais feliz? E antes que se perceba, já estarei no depois, e os deixarei livres, para passearem eternamente.

O antes e o depois – recursos de narração que dependem de nós para existir – da nossa mente teimosa, tentando ser linear. Quanto ao tempo lá fora, há, sempre, o eterno retorno – como em um círculo, iluminado e abraçado pelo sol – aquele que nos olha, do alto, e sugere: mais uma volta. Mais um passeio. Mais uma dança. Diz o sol: girando ao meu redor, reencontrem todos os seus antes! Chamem-nos de agora.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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