A pornografia, consumida por milhões de brasileiros, tem sido amplamente discutida como um possível vício com impactos profundos na saúde mental, emocional e física. De acordo com estudos recentes, o consumo de pornografia no Brasil começa por volta dos 12 anos, e os efeitos desse hábito podem ser devastadores ao longo da vida.

Para muitos, o vício em pornografia leva a um ciclo de dependência que prejudica relacionamentos, afeta o desempenho no trabalho e isola o indivíduo de suas interações sociais.

Ramon Barros é psicólogo e mentor de comunicação, relacionamento e comportamento

O vício em pornografia não só altera o comportamento, mas também impacta o cérebro, provocando uma espécie de “entorpecimento” dos receptores de dopamina – o neurotransmissor responsável pelas sensações de prazer e recompensa.

À medida que o cérebro se acostuma aos estímulos pornográficos, o indivíduo precisa de mais conteúdo para alcançar a mesma sensação, o que pode levar a comportamentos compulsivos e até mesmo ao uso de substâncias para intensificar o prazer.

Com o avanço da tecnologia e o fácil acesso a conteúdos explícitos, o número de pessoas afetadas por esse vício tem aumentado significativamente. A situação é alarmante, pois muitas dessas pessoas desenvolvem outros transtornos mentais, como depressão e ansiedade, além de enfrentar dificuldades em suas relações interpessoais.

Para aprofundar esse tema, entrevistamos o psicólogo Ramon Barros, mentor de comunicação, relacionamento e comportamento, que compartilhou suas visões sobre os danos causados pelo vício em pornografia e como esse comportamento pode ser tratado.

DIA A DIA – Quais são os principais efeitos do vício em pornografia no cérebro humano e como esses efeitos afetam o comportamento de homens e mulheres?

RAMON BARROS: O vício em pornografia causa uma série de alterações no cérebro, especialmente nas áreas responsáveis pelo prazer e pela recompensa. Isso afeta diretamente o comportamento, fazendo com que a pessoa precise de estímulos cada vez mais intensos para sentir o mesmo nível de satisfação. Com o tempo, o consumo excessivo de pornografia pode levar ao isolamento, ao distanciamento emocional e até a dificuldades em manter relacionamentos saudáveis.

Em que áreas do cérebro o vício em pornografia tem maior impacto e como isso se relaciona com o prazer e a recompensa?

As áreas mais impactadas são aquelas ligadas ao prazer e à recompensa, como o sistema de dopamina. A pornografia em excesso faz com que os receptores de dopamina enfraqueçam, exigindo estímulos cada vez maiores para gerar a mesma sensação de prazer. Isso leva ao aumento da frequência de consumo e, em alguns casos, à busca por experiências sexuais mais extremas.

Quais são os sinais mais comuns que indicam que uma pessoa está desenvolvendo um vício em pornografia?

O primeiro sinal é o isolamento social. Quando a pessoa começa a perder o controle sobre o tempo dedicado à pornografia e passa a esconder o hábito de familiares e amigos, já é um alerta. Irritabilidade e comprometimento das responsabilidades diárias, como trabalho e estudos, também são indicativos fortes de que o vício está progredindo.

Como o vício em pornografia pode interferir em relacionamentos e nas interações sociais?

As pessoas que desenvolvem esse vício tendem a se afastar das interações sociais e a buscar mais tempo para consumir pornografia. Isso afeta diretamente seus relacionamentos, especialmente nos casos em que o parceiro ou parceira não entende o que está acontecendo. Além disso, o excesso de consumo impacta na intimidade, gerando conflitos frequentes.

Quais são os fatores psicológicos que tornam algumas pessoas mais vulneráveis ao vício em pornografia?

A vulnerabilidade pode estar associada a experiências traumáticas, como abusos sexuais ou emocionais na infância. Além disso, pessoas com baixa autoestima, ansiedade ou depressão tendem a buscar na pornografia uma forma de escape para suas emoções. Esse vício não escolhe classe social, etnia ou idade; qualquer pessoa pode ser afetada.

De que maneira o vício em pornografia pode estar associado a outros transtornos, como ansiedade ou depressão?

Muitas vezes, o vício em pornografia é acompanhado de outros transtornos, como ansiedade e depressão. A pessoa busca na pornografia um alívio temporário para suas emoções negativas, mas acaba agravando sua condição psicológica, entrando em um ciclo vicioso difícil de quebrar.

Quais abordagens terapêuticas são mais eficazes para tratar o vício em pornografia e ajudar as pessoas a restabelecerem padrões saudáveis de comportamento?

A terapia cognitivo-comportamental é uma das abordagens mais eficazes, pois ajuda a identificar e modificar os pensamentos e comportamentos que alimentam o vício. Grupos de apoio também são fundamentais para compartilhar experiências e fortalecer o processo de recuperação. Em alguns casos, medicamentos prescritos por psiquiatras podem ser necessários.

Quais dicas você daria para quem sofre desse vício e deseja se tratar?

O primeiro passo é reconhecer que há um problema e procurar ajuda profissional. Cortar o acesso à pornografia é essencial, e a tecnologia pode ajudar nesse controle. Substituir o hábito por atividades saudáveis e contar com o apoio de familiares e amigos também faz parte do processo de recuperação.

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