A estudante Yasmin Victoria Carvalho do Nascimento, de 12 anos, possivelmente foi a primeira paciente do estado tão jovem a passar por uma neurocirurgia com a técnica awake, em que a pessoa fica acordada durante o procedimento.
A menina foi operada na sexta-feira no Hospital Unimed de Cachoeiro de Itapemirim e a cirurgia durou 10 horas. Segundo a equipe, foi a primeira vez que o procedimento foi realizado no sul do Estado, tanto em adultos quanto em crianças.
Quem garante é o médico neurocirurgião Rogério Pacheco, que atende a menina desde o início do ano passado, quando ela foi diagnosticada com um tumor cerebral aos 10 anos.
“A Dra Rufina, que é neurofisiologista e a médica que faz este tipo de procedimento no Estado, me informou que nesta idade não tinha feito nenhum procedimento desse aqui no Espírito Santo”, disse o especialista.
Ele ressaltou que esta cirurgia é necessária quando existem lesões em áreas primárias ou eloquentes, que são aquelas que têm funções muito importantes, como a motricidade, sensibilidade, fala e visão.
Yasmim foi operada pela primeira vez em fevereiro de 2020, mas na ocasião foi sedada e o tumor não foi completamente retirado em função dos riscos de sequelas. A paciente, segundo Rogério Pacheco, passou por uma correção de lesão numa área denominada Wernicke.
Ele destaca que essa área está associada à compreensão da palavra falada e escrita, e que a menina tinha um tumor com crescimento mais rápido que o esperado.
“A cirurgia é de alta complexidade, necessitando de uma equipe multidisciplinar composta por neurocirurgiões, anestesistas, neurofisiologistas, instrumentadores, neurologista e intensivista de suporte, bem como de técnicos da neurofisiologia, da neuronavegação e circulantes da sala”, explicou.
Segundo o médico, a cirurgia foi um sucesso e Yasmim ficou um dia na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e já está em casa. “Ela fará exames de imagem de monitoramento e será acompanhada por oncologistas para pesquisa genética da lesão”, esclareceu.
A menina foi estimulada pela equipe durante o tempo em que estava sendo operada e interagiu até a retirada do tumor.
Dores de cabeça foram os primeiros sintomas
Entusiasmados, os empresários Geciara Soares Motta Carvalho, 32, e Mateus Dias Laiber, mãe e padrasto de Yasmin, comemoram o resultado e o fato da menina estar em casa, bem e sem nenhuma sequela.
A mãe contou que a doença foi descoberta após a menina se queixar de dores de cabeça frequentes, e ter um desmaio em casa. “A gente achava que era uma coisa comum, eu dava remédio, passava, voltava e depois deu uma crise. A suspeita é de que tenha nascido com ele”.
Geciara disse que após a crise, os médicos pediram um eletroencefalograma pensando na possibilidade de um ataque epilético, mas ele não deu nada, e que quando pediram a ressonância magnética descobriram um tumor grande.
“Há quase dois anos Yasmim fez a primeira cirurgia, só que sedada, e o médico tirou o máximo que pode para não gerar sequelas, mas o tumor voltou a crescer e agora precisou de outra cirurgia. A primeira biópsia mostrou que era benigno”.
A mãe destaca que acordada, a filha colaborou muito e que até a cirurgia conversaram muito com ela sobre a importância de passar pelo procedimento lúcida para alcançar o melhor resultado na retirada total do tumor, sem que ficassem sequelas.
“Falamos para ela da importância de se manter calma e centrada pra que a cirurgia pudesse se realizar da melhor forma possível, sem que fosse preciso a sedação e mudanças de planos”.
A mãe fala da gratidão a Deus e ao médico Rogério Pacheco, que foi quem planejou tudo e montou a equipe com profissionais de Cachoeiro e de Vitória.
Ela diz que estão aguardando o resultado da biópsia, mas que já sente uma enorme gratidão pela atuação da equipe.
“Só tenho a agradecer aos profissionais daqui e de Vitória. Foram usados equipamentos de ponta. Minha filha saiu sem sequelas na fala, audição e visão. Foi uma benção. Tudo está sob controle e vamos vencer mais esta etapa”, comemorou a mãe.
“Não senti dor alguma”
A estudante Yasmin Victoria Carvalho do Nascimento, 12 anos, consegue se lembrar do período em que foi operada. “Não senti nenhuma dor, só a sensação de que algo estava sendo sugado na minha cabeça”, explicou.
Segundo Yasmin, a equipe conversou com ela antes da cirurgia, explicando como seria o procedimento. “Eles me deram anestesia e um negócio para dormir e me explicaram que quando acordasse, iriam me fazer algumas perguntas”, disse.
Como combinado, depois de algum tempo inconsciente, Yasmin foi acordada. “Perguntaram se eu estava bem. Falei: estou bem, estou pronta, pode começar. Me mostraram algumas coisas para eu ler. Consegui responder tudo. Só estava meio rouca”, relembrou.
Yasmin está bem, não reclama de dores, conversa e brinca com suas irmãs Hevellyn, 6 anos e Jhenifer, 10.