Pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), criado em 2014 e originário do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, fundado pelo cientista Augusto Ruschi, Patrono da Ecologia no Brasil, divulgou um estudo e fez um alerta em relação a uma árvore de médio a grande porte, que pode alcançar 15 metros, ainda pouco conhecida e que está ameaçada de extinção por causa da ação humana.

É a Freziera atlantica, encontrada em apenas duas localidades no Brasil, uma delas no Espírito Santo,  na Serra do Valentim, entre os municípios de Iúna e Muniz Freire, e na Área de Proteção Ambiental do Pratigi, na Serra da Papuã, na Bahia.

A Freziera é uma árvore que foi descrita em 2016, já ameaçada de extinção, e tem uma população pequena, distribuição muito agregada e sofre com impactos antrópicos, segundo os pesquisadores que tiveram a atenção despertada e conheceram sua diversidade genética.

Um deles é João Paulo Zorzanelli, pesquisador do INMA, primeiro autor do recente estudo, que participou também da descrição da espécie em 2016.

“Levando em consideração essas características, pensamos inicialmente que a sua diversidade genética poderia ser baixa”, explica Zorzanelli.

Mas o artigo publicado recentemente na revista Trees: Structure and Function mostra que a diversidade genética encontrada para a espécie na Serra do Valentim é alta, o que seria um bom indicativo de sua conservação genética na área.

Contudo há uma preocupação. As diversas intervenções antrópicas, principalmente os incêndios florestais recorrentes na serra, em áreas ainda não protegidas legalmente, que podem aumentar as chances de extinção local dessa árvore no futuro.

Zorzanelli diz que a partir de agora é preciso conhecer o papel da Freziera atlantica dentro da vegetação e na interação com outras espécies de plantas e animais na floresta.

“Esse trabalho foi parte da minha tese de doutorado e contou com colaborações de pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular e do Departamento de Ciência Florestais e da Madeira da UFES. Esse trabalho e diversos outros realizados no âmbito da Serra do Valentim também são conhecidos e têm apoio das comunidades locais”, relata o pesquisador.

Segundo ele, se dependesse somente da genética, a conservação da espécie estaria garantida, mas que as ações humanas representam grave ameaça a essa espécie, recém descoberta, que ainda tem muito a revelar.

Foi em função dessa grave ameaça que o artigo destaca algumas ações que podem ser tomadas visando à conservação tanto de Freziera atlantica como de seu habitat, pontua Zorzanelli.

Entre essas ações, foram sugeridas atividades de conscientização e capacitação para a adoção de medidas conservacionistas principalmente de uso do solo, voltadas aos moradores das localidades, promovidas pelo poder público em conjunto com pesquisadores, e também a busca de maior envolvimento das comunidades do entorno na proteção dessas vegetações.

 

SAIBA MAIS

– Para estudar a diversidade genética dessa árvore que tem aproximadamente 15 metros de altura, os pesquisadores extraíram o DNA das folhas;

– Depois verificaram a pureza do DNA e fizeram a eletroforese, uma técnica que usa carga elétrica para separar moléculas de acordo com seu tamanho, feita em um gel de agarose (substância extraída de algas com consistência semelhante a uma gelatina);

– Esse gel é levado para o fotodocumentador, onde é possível ver e escanear as bandas – elas são contadas e, por meio de cálculos e estimativas, os pesquisadores conseguem obter as informações de diversidade genética;

– A afirmação de que a diversidade genética é elevada é possível pela comparação de resultados de outros trabalhos, principalmente com espécies de plantas de famílias mais próximas de Pentaphylacaceae – a mesma família de Freziera atlantica;

 

O INMA

O INMA é uma instituição federal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Criado em 2014.

Originou-se do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, fundado pelo cientista Augusto Ruschi, Patrono da Ecologia no Brasil.

Tem como missão produzir, apoiar a produção, sintetizar e difundir conhecimento científico, com o propósito de contribuir para a conservação, restauração e uso sustentável da biodiversidade da Mata Atlântica.

Atua de forma a ser referência na geração e divulgação de conhecimentos relacionados ao passado, presente e futuro desse bioma.

O INMA guarda importantes coleções científicas – zoológica, botânica e documental. Este valioso acervo está disponível para a comunidade científica e é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa nessas áreas.

Sua sede ocupa uma área de 77 mil metros quadrados no centro da cidade, tendo importante papel na divulgação científica e educação ambiental dos munícipes e da população flutuante que visita o INMA.

Anualmente, o INMA recebe cerca de 80 mil visitantes. Além do parque zoobotânico, o INMA dispõe de duas estações biológicas – Estação Biológica de Santa Lúcia e Estação Biológica de São Lourenço – com o objetivo de apoiar as pesquisas de campo de sua equipe e de instituições parceiras.

A Estação Biológica de Santa Lúcia, localizada a 8 km da sede do INMA, possui infraestrutura de alojamento e laboratório de campo para a recepção de pesquisadores e estudantes.