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Sobre Homens e Montanhas: Os 6 “Cs” da Sobrevivência.

marcio-nascimento-15-10-2024
Marcio do Nascimento Santana
Dave Canterbury, o criador do conceito das letras C de sobrevivência. Foto divulgação

 

Depois de escalar uma grande montanha, só se encontra que há muito mais montanhas para subir.

Nelson Mandela

 

O Conceito dos “Cs”

As letras Cs da sobrevivência são um conceito criado por um dos protagonistas do programa Desafio em Dose Dupla, da Discovery, Dave Canterbury, que também é proprietário e instrutor de sobrevivência na The Pathfinder School, além de ex-militar é autor do livro Buschcraft 101.

Com um currículo extraordinário, Dave fez uma lista simplificada de 5 itens básicos que seriam necessários para o ser humano sobreviver em qualquer local inóspito, inclusive e principalmente no ambiente de montanha, e todos esses itens começam com a letra C. E eu com minha experiência de campo resolvi adicionar nessa lista mais um C.

Logo da The Pathfinder School. Divulgação.

 

Os 6 “Cs” no Montanhismo

E notório que montanhistas, embora extraordinários exploradores, não possuem em sua grande maioria formação em técnicas de sobrevivência, e são completamente dependentes da tecnologia e de guias, e muitos sequer sabem usar uma bússola ou dominam qualquer conceito de orientação ou ate mesmo possuem noções básicas de sobrevivência. Tal fato é comprovado quando nos deparamos com as estatísticas dos montanhistas que se perdem nas vastidões geladas das altas montanhas e não sabem onde estão e nem como retornar ao acampamento base, e que muita das vezes perdem suas vidas em um local frio e solitário, e geralmente  a maior parte dessas fatalidades, sobretudo em alta montanha,  ocorre na descida, o que demonstra desorientação e ausência desses conceitos.

 

Os 6 “Cs” da Sobrevivência

1 – Corte: O primeiro e mais essencial de todos, a Faca, um instrumento versátil que permite construção de abrigos, caçar, pescar, confeccionar armadilhas, processar e tratar alimentos, defesa pessoal entre outras utilidades. A faca que eu recomendo deve ter no entre 5 a 7 polegadas de lamina, ser de preferência em aço inox (devido ser um aço mais resistente as intempéries e mais higiênico) e deve ser fulltang, lâmina e cabo integrais (uma peça única). Dica: Caso não for possível levar uma faca, recomendo ao menos um bom e robusto canivete.

BK 2, A Descarrilhadora de Trem. Foto divulgação

2 – Cobertura: O segundo item seria uma boa Lona ou no caso do montanhista um bom Anorak, 100 por cento impermeável. A cobertura caro leitor é o objeto que vai te proporcionar proteção contra o mal tempo, além de proteção contra vegetações agressivas, picadas de inseto,  além de proteger e abriga-lo à noite. Dica: Luvas, gorros e bonés também fazem parte desse conjunto.

3 – Combustível: O terceiro item seria um Isqueiro, pederneira e fósforos impermeáveis, pois fazer  fogo é  essencial para a sobrevivência, pois é ele que vai aquece-lo à noite, cozinhar alimentos, afugentar feras, sinalizar, secar roupas e seus pés, prevenir hipotermia… Dica: Recomendo sempre ter mais de um item desses na mochila e sempre carregar uma peça dessas consigo e preferência dentro de um dos incontáveis bolsos do Anorak.

4 – Cantil: O quarto item dessa lista, seria um Cantil, por que é ele que vai permitir recolher agua e transportá-la, pois manter-se hidratado é essencial. E preferencialmente  o cantil deverá ser de aço ou alumínio, pois são esses materiais que permitira você ferver água para purificá-la ou simplesmente, dependendo do local, derreter neve. Dica: Um preservativo intimo masculino, que você pode levar no bolso, é uma forma de  poder transportar e armazenar água. É o que os sobrevivencialistas chamam de Recurso de Fortuna.

Uma garrafa em aço inox, seria a melhor opção outdoor.

5 – Corda:  O quinto e último item da lista original de Dave Canterbury seria a Corda (Item mais abundante no montanhismo) de vários tamanhos e diâmetros, uma vez que será a corda que o permitira construir abrigos, amarrar talas, confeccionar armadilhas, salvar vidas, fazer rapel… entre outras grandes utilidades. Dica: Um bom rolinho de fio dental possui aproximadamente 100 metros, é leve e prático e suporta ate 5 quilos, seria um ótimo recurso de fortuna para o montanhista sempre o ter junto de si.

6 – Compass: O sexto item, que eu achei importante adicionar a essa lista,  seria a Bússola. Tendo em vista que a maior parte dos acidentes que ocorre nas montanhas é na descida e são incontáveis os casos de montanhistas que morrem por desorientação. Existem inúmeros relatos sobre esses acidentes fatais, inclusive no Aconcágua. Logo dominar a bússola e as técnicas de orientação é de fundamental importância  para todo montanhista, uma vez que será ela que permitira uma navegação segura ate a civilização.

Mas o que justificaria a  adição desse 6° C à lista clássica de Dave? Seria os recentes exemplos que a falta dos conhecimentos básicos de orientação resultou lamentavelmente em mortes:

Gabriel Buchmann, montanhista notável, que veio a falecer por hipotermia, após se perder ao descer o Monte Mulanje na África. Seu corpo foi encontrado dias depois.

Eric Welterlin, um intrépido francês, casado com uma brasileira, que era adepto de corrida de montanha, que veio a falecer de hipotermia após se perder no Pico do Marins. O GPS que levava consigo não foi o suficiente para salvá-lo.

Josenildo Correia da Silva um corajoso montanhista nordestino que faleceu após se perder ao descer o Aconcágua. Seu corpo foi encontrado duas semanas depois. Também por hipotermia.

 

Domínio das Técnicas de Sobrevivência

Enfim, mais importante caro leitor, que possuir equipamentos formidáveis, caros e de ponta, é saber utilizá-los de forma adequada. Não adianta o montanhista possuir uma BK 2 (Considerada uma das melhores facas de sobrevivência do mundo, Dave Canterbury a chamava de a Descarrilhadora de Trem) se não sabe usar. Aliado a isso, é preciso ter domínio da situação de sobrevivência. Onde preparo psicológico e gestão dessa situação de crise podem fazer toda diferença. Dominar os pontos cardeais, saber identificar o norte pelos ponteiros do relógio, saber localizar o sul pelas árvores, fazer previsão do tempo através da observação da natureza, saber fazer nós e amarras, identificar plantas comestíveis…enfim são inúmeros e preciosíssimos conhecimentos que podem fazer toda diferença em uma situação de adversidade. Estejam sempre prontos e não confiem inteiramente na tecnologia ou ate mesmo em guias. E lembrem se, a mente humana é a melhor ferramenta de sobrevivência que existe, e estejam Sempre Alerta.

Para frente e para o alto;

Montanha Brasil.

 

 

Marcio do Nascimento Santana, Historiador com formação em Arqueologia, Montanhista e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Cachoeiro de Itapemirim

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