No sul do Estado há notícias de que comerciantes de Venda Nova e Cachoeiro estejam enfrentado o boicote e sendo classificados como petistas.

Uma lista com o nome dos estabelecimentos e de pessoas que devem ser boicotados é compartilhada por bolsonaristas nas redes sociais. O fato se repete estado afora.

A preocupação das pessoas físicas que tiveram o nome inserido nesta lista é com a integridade física própria e da família.

Uma delas, de Venda Nova do Imigrante, e que por motivos óbvios não quer ser identificada, diz que não se sente segura após seu nome aparecer nesta lista num momento de tanta polaridade e fundamentalismo político e religioso predominantes no país.

Outro que cuja empresa consta na lista do boicote em Cachoeiro é o empresário Éder Oza, do Espaço Noivos. Ele diz que nunca teve medo de nada e não vai ser neste momento que vai se acovardar. Ele destaca que não é só por si, mas por todas as pessoas que estão sofrendo.

“Eu tenho 39 anos, quem me conhece sabe que eu votei no Aécio, desde quando eu tirei meu título sempre declarei o meu voto. Mas com o passar dos tempos nossas percepções políticas e de valores mudam”, frisa.

Eder enfatiza que no momento atual o Lula, para ele, foi a melhor escolha. “A gente sabe que ao assumir qualquer postura, seja ela religiosa ou política, a gente acaba perdendo de um lado e ganhando do outro”, pontua.

O empresário ressalta que sabe que no momento atual, em um estado extremamente bolsonarista, a perda é muito maior.

Ele diz que nunca imaginou que questões profissionais se misturariam com as questões pessoais e políticas, e que a gravidade do que o país está vivendo traz à tona a censura.

O empresário lembra que estão querendo censurar quem pensa diferente e não se arrepende, assim como nunca se arrependeu em relação a qualquer outro tipo de postura que assumiu na vida.

“O que mais me surpreende que as que estão incentivando o tal boicote são pessoas que defendem a democracia, o cristianismo e principalmente a liberdade de expressão. E eu te digo, onde está a liberdade de expressão”?

Outro fato que o empresário destaca é que independente da situação, a verdade é sempre a melhor escolha. “Vivemos em um país democrático, assim espero, onde o nosso direito de ir e vir e de livre expressão precisa ser respeitado”, frisa.

Eder Oza ressalta que esses métodos de coação o remetem ao nazismo é à ditadura militar. “Com o tempo espero que isto passe, mas por enquanto causa um trauma gigante na gente”, enfatiza.

Mas se o objetivo é o boicote aos “esquerdopatas”, o tiro pode sair pela culatra, já que eleitores do presidente Lula estão se solidarizando para dar apoio aos empresários contra os quais está sendo sugerido o “cancelamento”.

Uma destas pessoas é Silvani Técnica em Assuntos Educacionais no Ifes campus Cachoeiro de Itapemirim.

Ela relata que de sua parte já tinha parado de comprar, contratar serviços, de seguir e ser amigo em redes sociais e de sair para happy hour com bolsonaristas que se tornaram radicais e fundamentalistas, mas nunca fez listas. Foi uma decisão pessoal.

“Não aguento essas pessoas. Na academia coloco fone com músicas bem esquerdistas. Estou preparada para enfrentar esse momento”, frisa.

Já uma advogada criminalista que não quis se identificar, diz brincando que está aborrecida, já que fez campanha abertamente para o presidente Lula nos dois turnos e não teve seu nome inserido em nenhuma lista.

Mas brincadeiras à parte, o comentário dela é quanto ao absurdo das pessoas não aprenderem a lidar com o contraditório e a conviver com o processo democrático e aceitarem o resultado das urnas. “Estou chateada, me sentindo desaplaudida”, brinca.

Ela diz que um grupo de amigas já está combinando, por exemplo, de ir à sorveteria em Domingos Martins que está na lista do boicote e da intolerância.

Uma dessas amigas diz que, sempre que puder, leva um abraço e um bolo a cada um destes empreendedores que estão sendo boicotados.