Atriz capixaba revive Carolina Maria em peça que questiona a invisibilidade da mulher negra

Foto: Rodrigo Portugal

Atriz capixaba revive Carolina Maria em peça que questiona a invisibilidade da mulher negra

O espetáculo “Feita de Papel – Carolina Maria de Jesus” retorna aos palcos do Espírito Santo, oferecendo ao público uma reflexão profunda sobre a invisibilização das conquistas das mulheres negras no Brasil.

A peça será apresentada neste sábado (10) e domingo (11) em dois importantes espaços culturais: o Teatro Municipal Fernando Torres, em Guaçuí, e a Casa da Música Sônia Cabral, em Vitória.

“Feita de Papel” é uma homenagem à obra-prima da escritora Carolina Maria de Jesus, “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”.

Publicado nos anos 60, o livro retrata a dura realidade da favela do Canindé, em São Paulo, revelando as lutas diárias de Carolina e seus filhos em meio à fome, à pobreza e aos obstáculos sociais. A obra se tornou um marco na literatura brasileira, oferecendo uma valiosa perspectiva sobre o Brasil profundo, longe dos estereótipos de futebol e samba.

Eliane Correia, atriz capixaba e protagonista do espetáculo, tece um paralelo entre sua própria experiência e a de Carolina Maria de Jesus. Em “Feita de Papel”, Eliane não apenas revive a vida de Carolina no palco, mas também confronta os desafios e triunfos que ela mesma enfrentou como mulher negra em um país marcado pelo racismo estrutural.

“Não é um desafio simples. Vou reviver Carolina e eu mesma no palco. Um fio do tempo de uma das mulheres mais extraordinárias deste país, e eu, atriz, negra, que venho seguindo os avanços intangíveis da minha própria existência, assim como Carolina. É uma fusão e um reflexo. Ela e eu. O Brasil de Carolina e o meu Brasil através da poesia que fala da nossa existência diária. Um desafio que eu amei vivenciar. Feita de Papel é uma experiência que vai tocar a alma dos espectadores”, afirma Eliane Correia.

A peça, que recebeu o apoio do Funcultura através do edital de 2022 da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), não tem a intenção de responder o que mudou desde a época de Carolina Maria de Jesus, mas sim de expor como, ainda hoje, as mulheres negras desafiam estereótipos e assumem papéis múltiplos para sobreviver e inspirar.

Com apresentações gratuitas, “Feita de Papel” oferece uma experiência teatral acessível a todos, incluindo tradução simultânea em Libras, óculos para portadores de fotofobia e abafadores de ruídos.