Uma mãe de Cachoeiro de Itapemirim tem passado por momentos especialmente difíceis nos últimos quatro anos. Não apenas ela, mas toda a família adoeceu por causa da depressão da filha de 16 anos, que foi vítima de bullying na escola e tentou o suicídio.
Segundo LM, quando a filha, que estuda em escola particular, tinha 12 anos começou a perceber mudanças no comportamento dela, que passou de uma menina alegre e extrovertida a uma pessoa extremamente triste.
“Ela sempre relatava que a chamavam na escola de baleia, Plutão, lua cheia e muitos outros apelidos que a deixavam arrasada”, relata.
A mãe conta que em função disso a filha iniciou uma dieta radical e emagreceu 40 kg. Ficou anoréxica, só pele e osso.
“Daí surgiram a bulimia, a compulsão alimentar e a depressão, que a levaram a oito tentativas de suicídio e várias mutilações pelo corpo”, destaca a mãe, entristecida.
Ela lembra que na última vez a filha ficou 11 dias na UTI em estado gravíssimo, precisou ser entubada, fez hemodiálise, tomou sangue e que os médicos diziam que só um milagre a salvaria.
“A primeira internação foi compulsória no Capaac de Cachoeiro de Itapemirim e durou 30 dias”, esclarece a mãe.
Mas aí surgiu outro problema. “Essa clínica psiquiátrica não é especializada em adolescentes, pois só atende a partir de 18 anos. Minha filha ficou internada no meio de várias moças com problemas psiquiátricos e usuários de drogas”, enfatiza.
Já a segunda internação foi após a oitava tentativa de suicidio e a filha saiu de ambulância do hospital direto para uma clínica particular em Ubu, no município de Anchieta.
“Ela permaneceu lá por dois meses e meio, também junto a muitos jovens e adultos dependentes químicos e também conviveu com todo tipo de paciente. Minha filha era visitada uma vez por semana por 30 minutos. Sempre demonstramos a importância dela em nossas vidas”, informou a mãe.
Ela lamenta que em pleno Século XXI os estudantes e qualquer pessoa considerada fora do padrão imposto pela sociedade ainda seja submetida a tanto sofrimento.
Outro problema apontado por LM. é que muitos estudantes escondem o sofrimento por vergonha de serem expostos na escola.
“Alguns entendem que se contarem as famílias vão até a escola e todos os colegas ficarão sabendo. Isso leva a maioria a sofrer em silêncio, sem pedir ajuda”, ressalta a mãe.
Os custos do tratamento
Na opinião da LM, seria muito importante ter em Cachoeiro um espaço adequado para acolher crianças e adolescentes com problemas emocionais.
Ela diz que é muito difícil marcar com médico psiquiatra em Cachoeiro, o que a levou a recorrer ao Ministério Público (MP) em busca de apoio porque foram muitas tentativas, muitas e muitas noites acordada e muito sofrimento por causa do bullying.
“O tratamento de minha filha foi transferido para o Himaba (Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves) em Vila Velha. Está sendo maravilhoso, mas isso só foi possível devido à interferência do MP. Caso contrário minha filha não estaria viva”.
Além da dificuldade de acesso, LM destaca que o preço dos medicamentos também é muito alto e pode inviabilizar o tratamento.
“O acesso a médicos e psicólogos, bem como à medicações, é muito caro e difícil de manter. Hoje consigo as consultas pelo governo e três das medicações que ela faz uso, o restante precisamos comprar. Gastamos mais de R$ 2 mil por mês com o tratamento”, conta.
A mãe faz questão de destacar que ela e a família adoeceram junto com a filha. “O Poder Público precisa pensar que é preciso criar uma rede de apoio também para a família”, sugere.
Ela diz que além do tratamento para os adolescentes que sofrem bullying e adoecem, essa rede de apoio será muito importante para os familiares.
“É muito sofrimento ver nossos filhos definhando e querendo morrer em virtude de atitudes e palavras impensadas proferidas na escola que podem levar à morte”, conclui.
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