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Bullying, melhor levar a sério: família e escola juntas podem evitar problema

redacao
Redação Dia a Dia

A psicopedagoga Rosiana Sobreira Buter, que atua na Educação há mais de 30 anos, especialista em Alfabetização pela PUC-MG, e em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Centro Universitário São Camilo-ES, além de graduanda em Neuropsicopedagogia Clínica pela Faculdade Censupeg, é a nossa entrevistada de hoje.

A pauta continua sendo os prejuízos provocados pelo bullying na escola. Ela é pedagoga na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Zacheu Moreira da Fraga”, no distrito de Vargem Grande de Soturno.

Rosiana, que tem três filhos, um rapaz de 22 e um de 12, e uma moça de 17 anos,  aborda em nossa conversa o bullying na escola.

Destaca que já enfrentou na família as consequências negativas dessa prática. “Já precisei trocar o meu filho de escola por causa desse problema”, conta.

Contudo aponta experiências positivas, como a que acontece atualmente na escola em que trabalha. Rosiana fala que ver os estudantes acolhendo os colegas é gratificante e que foram feitas palestras na semana de conscientização e combate ao bullying.

“Toda vez que tomamos ciência de algum caso já realizamos a intervenção com o bully, que é a pessoa que pratica, a vítima e as famílias”, exemplifica.

A educadora lembra que o bullying sempre existiu, mas que antes ficava dentro dos muros da escola. “Hoje em dia há as redes sociais e as postagens viralizam, ganham espaço nos grupos paralelos, como o whattsapp, e expõem ainda mais as vítimas”, frisa.

Mas Rosiana fala que é preciso esclarecer que o bullying pode ser definido como o comportamento agressivo entre estudantes considerando que a relação entre os bullies (agressores) e as vítimas seja uma relação de força desigual, no aspecto da capacidade física ou psicológica.

“Afinal, bullying está relacionado com poder e os atos são caracterizados por agressão física, verbal, moral ou psicológica praticados repetitivamente contra uma pessoa”, pontua.

“Com isso, há o aumento da dor, do constrangimento, da rejeição pela autoimagem e, por consequência, vemos um número enorme de jovens ansiosos e depressivos. Aqui, já estamos falando do bullying virtual, denominado cyberbullying”, enfatiza.

Quanto ao preparo das escolas para inibir essa prática, Rosiana diz que algumas estão mais preparadas do que outras.

“Isso vai depender do grau de importância que a instituição dá para a formação psicossocial dos alunos e, principalmente, o quanto estão dispostos a se posicionarem frente aos clientes”, destaca.

Apesar dessa observação em relação à disposição das escolas se posicionarem, a profissional diz que tem visto iniciativas importantes acontecendo em algumas situações ou épocas, como em março, quando há o dia da conscientização contra o bullying.

“Mas ainda não temos uma política forte estruturada do ponto de vista legal de tolerância zero contra o bullying”, frisa.

 

Aumento nos casos de depressão

A educadora entende que o aumento dos casos de depressão entre os estudantes tem uma explicação científica, pois o cérebro das pessoas só termina de ser formado em torno da idade adulta, aos 25 anos.

“Isso mostra que crianças e adolescentes não têm maturidade para lidar com pressões psicológicas e se posicionarem adequadamente frente aos conflitos e pressões dos grupos”, explica.

Rosiana cita ainda a ditadura da beleza, que impõe padrões que nem sempre condizem com a realidade da maioria das pessoas.

“Outro exemplo é a valorização de objetos e bens que representam status entre os jovens, como celulares de última geração e ter ou não ter um celular representa aceitação social entre eles”, ressalta.

A educadora lembra que nos dias atuais quem não possui um celular moderno já fica em desvantagem, uma vez que a convivência virtual está acima da presencial.

 

Rede  de apoio

A psicopedagoga diz que os pais precisam ensinar os filhos a se defender e buscar ajuda. E serem uma forte rede de apoio, fortalecendo-os para serem quem realmente são.

“Independente do que se tem, ensinar aos filhos que ser uma pessoa do bem vale mais do que quanto você ganha”, explica.

Rosiana diz que é preciso também ser exemplo de solidariedade e amor ao próximo e que é importante buscar conviver com pessoas que comungam dos mesmos valores.

“Essas são algumas atitudes que os pais podem adotar para que seu filho não seja vítima e nem praticante de bullying”, orienta.

E diz mais: o combate ao bullying precisa acontecer de forma organizada e estruturada dentro e fora da escola. As famílias precisam educar seus filhos de forma que aprendam a respeitar a todas as pessoas em suas individualidades e escolhas e, ao mesmo tempo, fortalecer o emocional deles, valorizando-os e potencializando o que eles têm de melhor.

Outra observação da psicopedagoga é que não devem ser feitas comparações, incentivo a competições materiais e de resultados, permitindo que as crianças vivam as situações normais de frustração, sendo incentivadas a participarem em brincadeiras e jogos.

“Afinal, as crianças de hoje não brincam mais e a brincadeira é o ensaio para a fase adulta. Brincando elas aprendem, por exemplo, a se defender, a defender os colegas, aprendem a dividir, ganhar e perder”, ressalta.

 

O que a escola pode fazer

Rosiana Buter frisa que as escolas podem desenvolver inúmeras ações, como rodas de conversas; incluir nos combinados das turmas ações de combate ao bullying; valorizar as atitudes corretas e promover momentos de lazer em grupo favorecendo a inclusão social, além de criar um grupo de alunos para serem os acolhedores.

Segundo a psicopedagoga, nas escolas públicas estaduais há duas importantes ações de valorização da participação dos alunos como protagonistas no combate à essa prática: os líderes de turma e os jovens acolhedores.

“Uma das atribuições dos jovens acolhedores é exatamente identificar e acolher colegas que estão ficando isolados ou que estão passando por problemas emocionais”, relata.

A educadora diz que dessa forma é ensinada a resiliência e o amor ao próximo, que são atitudes que combatem o bullying.

“Mas, acima de tudo precisa haver parceria entre a família e a escola, do contrário, o bullying acaba encontrando um terreno fértil dentro e fora das escolas”, conclui.

 

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