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Clube do Livro – Por onde começar?

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

Tudo começa antes dos livros. Começa antes da leitura, antes da escrita. Tudo começa por onde se iniciam todos os encontros em nossa vida – pela vontade.

Em 1998, tive uma professora de língua portuguesa que levava as turmas para a biblioteca e deixava todos os alunos passearem por lá durante uma aula inteira de 50 minutos. Nossa única tarefa, nessas aulas, era que quando batesse o sinal e a aula acabasse, deveríamos sair de lá com um livro escolhido nas mãos. Agora, que já somos adultos, muitas vezes achamos que 50 minutos passam rápido demais, quase sem percebermos, que é um tempo muito curto para tantas tarefas e obrigações que precisamos nos desdobrar para darmos conta. Porém, aos 14 anos, esse tempo é muito mais esticado e lento e nossa professora sabia disso. O que ela nos permitia eram espaço e liberdade, para andarmos entre as estantes, para mostrarmos uns para os outros as capas engraçadas, as bonitas, as sérias demais por não terem nenhuma ilustração. Nós cheirávamos os livros antigos e de páginas amarelas que ficavam, quase sempre, lá no fundo das prateleiras.

Nos sentávamos no chão para puxarmos, um por um, as obras que ficavam lá na parte de baixo dos pesados móveis de madeira que decoravam as bibliotecas das escolas públicas daquela época.

Alguns alunos se dedicavam a encontrar pedaços de papel escondidos ou esquecidos entre as páginas. Outros gostavam de ler a ficha de cadastro colada na contracapa, para ver se encontravam nomes conhecidos por lá, para saber quem já tinha lido aquele livro. O que aquela sábia professora fazia (por onde andará ela? Querida professora Angela Sartório…) era permitir que criássemos intimidade com aquela biblioteca tão silenciosa, mas tão vibrante de palavras que só esperavam um par de olhos para gritarem e cantarem e contarem uma tão rica e vasta infinidade de histórias. Ela nos dava espaço e tempo para que elegêssemos, a partir da nossa vontade e interesse, qual livro sairia dali em nossas mãos e nos acompanharia por todo o próximo bimestre e, se déssemos sorte, por toda a nossa vida.

Quando decidimos ler em grupo, ler entre amigos -, mas isso também vale, certamente, para os livros que decidimos ler sem o objetivo específico de uma troca em um clube de leitores – é preciso nos darmos, de presente, esse tempo espaçado. A leitura, na minha opinião, não anda cabendo muito bem nos moldes de vida apressada que somos forçados a aceitar, atualmente. Não digo isso para sugerir que a leitura não está bem adequada ao nosso tão ligeiro e apressado raiar do século 21 – eu jamais faria tal afirmação. O que pretendo abordar aqui é que nós, a sociedade, fomos nos moldando para uma vida de prazeres rápidos e recompensas instantâneas: nos entediamos com facilidade; nos encantamos, a cada segundo, por algo novo que brilha em nossas telas; a cada piscar de olhos, a cada passagem ansiosa de dedo sobre o celular, são muitos e atrativos os novos convites e sugestões.

É como se vivêssemos em um mundo cujo tempo aqui fora fosse incompatível com o tempo da literatura.

É como se vivêssemos um tempo apressado demais e que não espera pela necessária e doce demora da literatura, do papel-palavra que tece – lenta, mas com passo constante – as nossas relações de amizade: ler verdadeiramente um livro é fazer um novo amigo. É ouvir o texto, refletir calmamente e levar em profunda consideração o que ele tem a dizer. É guardar em nós o que guardam as páginas e fazer de algumas daquelas palavras também as nossas palavras, que serão resgatadas e usadas, por nós, para descrevermos e enfrentarmos a vida. Pensando dessa forma, qual seria, então, a necessidade de termos pressa para escolhermos por onde começar as leituras? A leitura proveitosa sempre nos precede e, se ela já veio antes de nós, aproveitemos a dádiva da demora.

Nosso primeiro encontro do clube do livro, em maio de 2020, não começou pela escolha de qual livro ler. Começou com uma longa e alegre conversa sobre um autor que amamos em comum: J.R.R Tolkien. Tenho certeza que, do fundo de nossas distantes estantes e memórias, ele nos observava – fumando seu cachimbo, escrevendo suas cartas, inventando as línguas e povos que ele amava criar. Nós nos demos tempo – um tempo mais longo, mas muito parecido em seu sentido profundo com aqueles valiosos 50 minutos que minha professora da oitava série nos dava para vagarmos pela biblioteca do antigo Polivalente Coronel Borges.

“Nem todos aqueles que vagueiam estão perdidos” – escreveu Tolkien, em seu magnífico livro O Senhor dos Anéis.

Nós vagamos, por horas a fio, e nos embrenhamos por muitos assuntos – até mesmo entre muitos temas que nada tinham a ver com ele ou com seus livros. Mas, a verdade, é que, como Tolkien escreveu, nós sabíamos que não estávamos perdidos. Estávamos, apenas, nos demorando e entrando, vagarosamente, no tempo da literatura. Estávamos, felizmente, reservando as páginas e preparando a tinta. Procurando estilo e entonação adequados e elegendo frases que se tornariam casos e piadas. Estávamos contando e ouvindo histórias pessoais. Estávamos rindo do que a semana tinha trazido de mais leve e engraçado. Estávamos celebrando através das palavras e da comunicação: elas que formam a matéria prima de que são feitos todos os livros. A vontade, o desejo pelo encontro, a promessa do encantamento e o fluir das horas e das companhias: leitura e amizade são fios e são linhas de um longo, belíssimo e recompensador novelo de novidades.

Que sejamos sempre conscientes do luxuoso tempo que reservaremos para ambos em nossos dias e em nossa vida.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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