O corte de seis árvores na calçada onde está sendo construído o novo Hospital do Câncer de Cachoeiro, na rua Fernando de Abreu, bairro Ferroviários, gerou indignação entre moradores e ambientalistas. O pedido para a retirada das árvores foi feito pelo Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (Heci), responsável pela construção do novo hospital.
Os cortes foram realizados na terça-feira (17). Entre os moradores mais impactados está o casal Moacir Bonan, de 72 anos, e Edsea Bonan, de 70 anos, que plantaram as árvores há 29 anos, logo após se mudarem para a rua.
“Plantei 12 árvores. Na terça-feira, cheguei aqui e já estavam cortando. Perguntei o motivo, e disseram que tinham autorização. Todos os moradores da rua estão revoltados”, afirmou Moacir, funcionário público.
Edsea, dona de casa e esposa de Moacir, contou emocionada que passou mal ao presenciar a cena.
“Eu quase enfartei. Sempre defendi essas árvores. Já pedi para pararem de cortar outras vezes. Agora não teve jeito. Essa cidade já é quente e, sem essas árvores, nossa rua vai ficar fervendo”, lamentou.
O corte das árvores também afetou a fauna local. Segundo os moradores, há uma família de macacos que vive na região, e a derrubada das árvores ameaça o habitat desses animais.
Ao longo do ano, outras árvores já tinham sido retiradas para as obras do futuro Hospital do Câncer na rua Honorina de Oliveira.
Somente este mês, 12 árvores foram cortadas no mesmo bairro. Entre os dias 6 e 10 de dezembro, outras seis árvores foram retiradas na Escola Zilma Coelho, que está em obras de reforma e ampliação. Os cortes, também divulgados pelo Dia a Dia, foram amplamente criticados por moradores e ambientalistas locais.
“Não há consulta à população. As árvores que plantamos e cuidamos por tantos anos são retiradas sem qualquer aviso. É revoltante!”, desabafou Edsea.
Hospital afirma que os cortes foram autorizados
O Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (Heci) divulgou seu posicionamento oficial sobre os cortes das árvores e apresentou a licença ambiental emitida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, que autorizou a ação.
Segundo o Heci, a necessidade do corte foi certificada após vistoria técnica dos órgãos competentes.
“O Hospital Evangélico solicitou a visita técnica, onde foi certificada a necessidade dos cortes. A autorização foi concedida pela Secretaria do Meio Ambiente, conforme documento oficial. Além disso, a aquisição de novas mudas será feita dentro do prazo estipulado pelos órgãos ambientais”, informou o hospital.
O hospital também esclareceu que os cortes realizados na rua Honorina de Oliveira, dentro das obras de terraplanagem, foram previstos na licença ambiental emitida anteriormente, que também contou com a devida aprovação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.
Detalhes da licença ambiental
De acordo com a licença apresentada, assinada pelo secretário municipal de Meio Ambiente e Urbanismo, Victor Galvão Rabbi, o corte das árvores da espécie Castanhola (Pachira aquatica) está condicionado à compensação ambiental.
Para cada árvore suprimida, será necessário o plantio de duas a dez mudas nativas da Mata Atlântica. Neste caso, o hospital deve plantar 18 mudas em local adequado ou entregá-las ao município para arborização urbana.
As mudas devem ter pelo menos dois metros de altura e um DAP (diâmetro à altura do peito) de quatro centímetros. O prazo para cumprimento das condicionantes é de 180 dias, sob pena de multas e sanções, caso não sejam atendidas.
A licença também determina que o documento esteja visível no local e seja apresentado em eventuais fiscalizações ambientais.
O Heci garantiu que está comprometido em cumprir as exigências de compensação ambiental, incluindo o plantio das mudas exigidas pela licença.
Posicionamento da prefeitura
A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim para obter esclarecimentos sobre o processo de autorização para o corte de árvores, mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição. O espaço permanece aberto para o momento em que a administração municipal se manifestar.
ONG critica corte e afirma que árvores podem reduzir calor
O corte de árvores em áreas urbanas de Cachoeiro de Itapemirim, como o realizado na última terça-feira (17) na rua Fernando de Abreu, em frente às obras do Hospital do Câncer, tem provocado debates sobre o impacto no microclima da cidade, que é conhecida como uma das mais quentes do estado.
Segundo o presidente da ONG Caminhadas e Trilhas – Preserve, João Luiz Madureira Jr., a retirada dessas árvores não apenas eleva as temperaturas, mas também afeta diretamente a qualidade de vida dos moradores e o equilíbrio ambiental da região.
“A diferença de temperatura entre áreas arborizadas e locais com mais concreto e asfalto pode chegar a 10°C. Árvores funcionam como um ar-condicionado natural: fornecem sombra, transpiram e refletem a radiação solar. Além disso, melhoram a qualidade do ar, reduzem a poluição sonora e ajudam a prevenir enchentes”, destacou.
Além dos benefícios ambientais, a ONG enfatiza que a presença de árvores cria um senso de pertencimento nos moradores. “Árvores tornam as pessoas mais conectadas ao bairro e à cidade. Elas até deixam os moradores mais bem-humorados”, afirmou João Luiz.
Projetos devem prever árvores
A ONG Caminhadas e Trilhas defende que projetos públicos, como a construção do hospital, sejam planejados para incluir áreas verdes reais, com o plantio de árvores nativas, em vez de canteiros decorativos ou palmeiras exóticas.
“Desafio os engenheiros e arquitetos a criarem projetos integrados ao meio ambiente, com áreas verdes de verdade. Por que não vemos placas de obras anunciando a arborização de ruas ou avenidas?”, questionou João Luiz.
A ONG também sugere que Cachoeiro busque inspiração em cidades como Vitória, que têm políticas estruturadas de arborização, além de captar recursos estaduais e federais para aumentar a cobertura verde urbana.
Arborização ainda é desafio político
Embora Cachoeiro possua uma Lei de Arborização, João Luiz critica a falta de avanços. “A lei não sai do papel por falta de recursos e, principalmente, de interesse político. A cidade tem árvores antigas, mas iniciativas para plantar novas são insuficientes”, lamentou o ambientalista.
Ministério Público monitora plano de arborização urbana em Cachoeiro
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) informou que, embora não tenha relação direta com os cortes das árvores, instaurou procedimento administrativo com o objetivo de monitorar a implementação da Política de Arborização Urbana Municipal.
De acordo com o órgão, está em andamento a contratação de uma empresa para elaborar o plano, iniciativa que poderá ser um marco para o planejamento ambiental da cidade, que tem enfrentado desafios nesse tema.
Sobre o corte das árvores, o Ministério Público informou que não foi previamente informado, mas ressaltou que essa comunicação não é obrigatória, já que a gestão da arborização urbana é uma competência do município.
“O município não tem a obrigação de comunicar previamente ao Ministério Público cada poda ou supressão realizada. O manejo da arborização urbana é uma atribuição ordinária da administração municipal”, destacou.
O Ministério Público disse ainda que até o momento não recebeu qualquer demanda ou denúncia formal relacionada a possíveis irregularidades ambientais na construção do Hospital do Câncer. Dessa forma, não há inquérito ou investigação em andamento sobre o caso.
O órgão disse ainda que sua atuação em relação ao meio ambiente está fundamentada na fiscalização do cumprimento das normas ambientais por parte do Poder Público e de particulares.
“Caso haja o descumprimento da legislação ambiental, cabe ao MPES apurar e buscar a reparação dos danos, bem como utilizar as vias legais para responsabilização dos causadores”, afirmou o órgão.
Respostas de 2
Quando hum munícipe precisa que hum filho seja atendido com urgência em hospital referência em câncer.
Procura estes moradores que são contra .
Não existe fazer uma fritada sem quebrar os ovos.
A inversão de valores é hipocrisia, está mais preocupados nos macacos do que nos humanos.
Obs Nada contra os macacos
Bom dia, que tempestade de má administração pública, não se consulta a população e órgãos que têm conhecimentos específicos de meio ambiente e penaliza a população com uma verdadeira ação ditatorial , proporcionando má qualidade de vida aumentando sensivelmente a temperatura de 10 a 12 graus ,podendo provocar um descontrole na PA das pessoas idosas.O poder público precisa ser sério no trabalho a que se presta a população.