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Conto – O Bosque

secreta-luz-30-04-23
Secreta Luz

Luísa não sabia como havia chegado ali. Um bosque que, atualmente, conhecia, mas que não lhe era nem um pouco familiar. O conhecimento vinha apenas da sua presença ali, há mais tempo do que gostaria de admitir. Dias, semanas, meses haviam se passado e, ao contrário do que pensava, nada havia melhorado, de fato. Quer dizer, pra ela, as coisas não estavam mais tão ruins em alguns pontos e ela havia sim conseguido dar alguns passos em direção a saída daquele ambiente. Entretanto, a cada galho que ela retirava de seu caminho, novos eram revelados.

Alguns desses novos galhos traziam consigo frutos que ela jamais havia cogitado existirem. A cada nova descoberta, mais feridas. O cansaço pelo caminho percorrido aumentava e, junto com ele, havia os ferimentos causados pelos galhos recém descobertos, que possuíam espinhos e venenos novos, causando feridas e dores que Luísa nunca havia sentido, ou que dizia que nunca se deixaria sentir.

Quando estava do lado de fora do bosque, jurava a si mesma, com todas as forças, que, se um dia entrasse ali, jamais se perderia. Já havia visto várias pessoas se perderem ali dentro e acreditava que havia aprendido como passar por aquele emaranhado de folhas, frutos e galhos sem se perder e sem se machucar. Luísa realmente havia aprendido bastante coisa olhando as experiências de outras pessoas, mas ela não contava que cada pessoa tem seu bosque pessoal. Cada um deles possui suas próprias plantas, seus próprios venenos, espinhos e flores. Sim, flores. No início, próximo à entrada, já era possível visualizar os danos que aquele ambiente causaria em si. Porém, estava tão deslumbrada com a beleza das flores até então desconhecidas que os espinhos transpassados não lhe alarmaram. Ela sabia que existiriam, e as flores eram tão lindas, cheirosas e atraentes, que valiam a pena o esforço.

Hoje, sabendo tudo o que sabe, talvez Luísa não entrasse ali. Entretanto não havia mais volta. O bosque era um ambiente que, depois que você entra, só se pode andar para a frente. Mesmo que tente voltar, nada será como antes, é impossível passar pelo caminho que já havia sido percorrido. A única coisa que ela poderia fazer é olhar, parar onde estava e admirar onde já esteve. Porém, fazer isso significava levar mais tempo para sair dali e estar do lado de fora novamente era seu maior objetivo.

Apesar da dificuldade, Luísa sentia que estava sendo observada. Conseguia ouvir as vozes de seus amigos mais próximos, prontos para lhe dar instruções sobre como sair daquele bosque através de suas próprias perspectivas. Agradecia e admirava isso. Algumas instruções realmente ajudavam, mas nenhuma delas conseguia ser completamente precisa, pois não eram dadas de acordo com a sua visão, mas sim com a de quem as proferia.

A cada passo dado, um aperto no peito. Dúvidas distintas disputavam espaço em sua mente com as ideias para sair. Se perguntava se entrar ali tinha sido a decisão certa e, até mesmo, se sair era realmente a melhor opção. Será que ela não deveria fazer daquele ambiente a sua morada, mesmo com todos os espinhos, venenos e frutos maléficos? Será que o lado de fora era realmente um lugar melhor? Será que ela conseguiria se encaixar em um mundo fora do bosque novamente? Seria capaz de retomar as atividades que havia abandonado para poder estar ali?

Tudo era um questionamento. Porém, quando olhava para si mesma e para o quanto estava machucada e perdida, a certeza de que precisava mudar isso se sobressaia entre os outros pensamentos. Novos passos eram dados. A dor, apesar de sofrida, trazia para Luísa a motivação de mudar seu estado. Ela sabia que a única forma de parar de sentir aquelas dores era enfrentando o caminho para sair dali. E foi o que fez. Dia após dia. Às vezes, andava um quilômetro, às vezes dava apenas dois passos. Mas todos os dias ela seguia em frente. Sem falhar. Sem desistir. Por ela mesma.

Até que, um dia, ela voltou a ver o sol brilhar. Não havia mais folhas, galhos, espinhos e venenos ao seu redor, mas sim o mundo real. Ainda da porta, ela podia ver tudo que havia deixado para trás, quando entrou ali. Seus hobbies, amigos, manias, roupas, desejos e sonhos. Luísa conseguia ter um vislumbre de quem era antes de se perder em um bosque que jurava poder fazer morada, mas que se tornou perigoso para ela e para onde ela nunca mais pretendia voltar. Luísa agora é livre e usaria essa liberdade para se curar das feridas que aquele ambiente lhe causou. Foi recebida pelas mesmas vozes que ouvira lá dentro: pessoas que acompanharam seu caminho, mesmo que não conseguissem compartilhar da mesma visão. Porém, esses amigos só queriam uma coisa: seu bem estar. E ela sentia que agora estava segura.

Sabia que não seria fácil. Ainda tinha não só as feridas, como também as cicatrizes que adquiriu durante todo o caminho dentro do bosque, mas, agora, tinha onde se segurar, para onde correr e com quem contar. Não haviam mais empecilhos para que pudesse se curar e estava livre para decidir qual caminho tomar. Olhou para trás, e o grande letreiro que dava nome ao bosque estava se desmanchando, junto com os muros, portas e todo o espaço onde ela estava antes. Tudo o que restava eram as feridas e a certeza de que havia sido forte para passar pela pior parte. Agora, ela só precisava se curar e deixar aquele namoro para trás.

 

Maria Eduarda M. Cândido, 20 anos, estudante e apaixonada por leitura e escrita. Começou a escrever poesias e hoje se aventura com contos e pequenas histórias

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