CRÔNICA: Lorena Inocência Marchesi Caetano é professora de Inglês com foco em Business, Tradutora e Intérprete de língua inglesa, poetisa, praticante de canto, esposa e mãe.
Trouxe o sol.
E o perfume das margaridas era tão fresco quanto o orvalho recém caído sobre a plantação. Bem cedo era a melhor hora; antes que a esposa acordasse, pois dava tempo para dar-lhe um beijo e ajeitar na parede a sombra da flor que ficaria sobre o criado. Contudo, desta vez, ela acordou – e o pegou saindo para atender a porta.
Quem não viu que o carteiro chegara antes do transportador? Como não traria notícias da guerra?
“Pedirei minha irmã para lhe fazer companhia” – terminava de explicar, esperando uma palavra ou sinal de aquiescência, enquanto à janela, a esposa mantinha a vista nas roseiras que se avizinhavam à casa, só pensando no quão coloridas a nova estação as tinha trazido. Bastava elevar um pouco as pálpebras e o colorido daria lugar ao amarelo que se estendia uniforme sobre a colina.
Não passou muito tempo para perceber que deixar a lembrança de seu amado sobre o criado para o dia seguinte não a ajudava a sentir que ele estava por perto. Abria e fechava a porta de casa, já não gostando mais do bom dia das camaradas. Apressadamente, carregava o carro para ir à cidade vender sua coragem e sua pena, obstinada com a ideia de ver retornar seu amor.
Era possível que os carregadores também voltassem.
Dava sempre um sorrisinho e agradecia quando outra mulher simpatizava na mesma tristeza ou pagava-lhe o negócio das flores. Num desses sorrisos, apresentou-se-lhe o Oficial com uma certa carta na mão, chamando-a para conversar à parte. Sua amizade, porém, nunca foi necessária.
A irmã não chegou a tempo de impedir que parasse de comer, ou que desmaiasse da janela sobre o abraço das roseiras. Tampouco haveria café da manhã ao cheiro das margaridas.
Lorena Inocência Marchesi Caetano. Foto: Acervo pessoal