Pelo menos teoricamente as abelhas poderão estar protegidas no Espírito Santo, a partir da aprovação de dois projetos em tramitação na Assembleia Legislativa.
Um deles, do deputado Fabrício Gandini, proíbe a utilização de inseticidas à base de neonicotinóides nos serviços de carro fumacê nos centros urbanos. A substância derivada da nicotina é considerada agressiva para insetos polinizadores como a abelha.
O outro, de autoria da deputada Iriny Lopes, proíbe o uso de agrotóxicos, fungicidas e inseticidas num raio de mil metros no entorno de apiários no estado. O objetivo é preservar as áreas de apicultura e meliponicultura, bem como assegurar a renda e a saúde de seus produtores.
Segundo informações do Incaper, cerca de 1.200 apicultores têm assistência técnica do instituto e em torno de 250 estão organizados nas 19 associações existentes no estado. A produção de mel do Espírito Santo é, em média, de mil toneladas por ano.
De acordo com o extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) Alex Fabian Rabelo Teixeira, a principal contribuição das abelhas é o seu impacto na biodiversidade.
Alex destaca que a abelha é um patrimônio genético que deve ser conservado porque existem plantas que são dependentes das abelhas na polinização.
O extensionista ressalta também que o desaparecimento desses insetos traz desequilíbrio alimentar para a humanidade, principalmente por seu trabalho de polinização. Se elas forem extintas, muitas espécies de plantas que dão flores e frutos não existirão, reforça.
“Há estimativa de 20 a 30 mil espécies de abelhas no planeta. É essa riqueza de espécie que deve ser preservada pelo serviço mais importante que elas exercem, que é a polinização”, enfatiza.
Entre os principais municípios produtores de mel estão Domingos Martins, Fundão, Aracruz, Viana, Colatina e Santa Maria de Jetibá (Região Central); Pancas, Alto Rio Novo, São Gabriel da Palha, Águia Branca, Conceição da Barra, São Domingos do Norte, Ecoporanga, Jaguaré e São Mateus (Região Norte); e Dores do Rio Preto e Guaçuí (Região Sul).
No Espírito Santo, a meliponicultura é praticada de forma tradicional, principalmente por agricultores familiares, comunidades indígenas e quilombolas.
O destaque fica com o município de Aracruz. “Lá há um projeto desenvolvido por uma empresa de celulose junto com os índios e que tem uma produção muito grande”, explica Alex.
A criação de abelhas sem ferrão foi normatizada na Assembleia Legislativa (Ales) pela Lei 11.077/2019. De proposição da deputada Janete de Sá (PMN), a matéria determina que a criação de abelhas nativas seja restrita à região geográfica de ocorrência natural das espécies.
O texto também traz regras específicas para a criação comercial de abelhas nas unidades de conservação de proteção integral. O objetivo, segundo a deputada, é fomentar o desenvolvimento econômico dos produtores, bem como preservar essas espécies.
Tipos de abelhas
No Brasil existem cerca de 200 espécies de abelhas sem ferrão. “Algumas espécies são exclusivas no Brasil, 87 espécies são tidas como endêmicas. No Espírito Santo, há 39 tipos de abelhas sem ferrão. Aqui podemos produzir seis tipos de mel de abelha sem ferrão, em pequena quantidade”, esclarece o extensionista do Incaper.
Diferenças no mel
O mel produzido por abelhas com e sem ferrão é bastante diferente. A começar pela forma de produção. Diferente das abelhas africanizadas, que produzem mel em favos, as nativas produzem mel em “potes”.
As espécies sem ferrão são muitas e cada espécie vai produzir um mel que tem sabor, aroma e consistência diferentes, e que quando se fala de mel da abelha africanizada, está se falando de Apis, um mel mais característico, no teor de acidez e água, esclarece o extensionista.
“O que é considerado mel pela legislação brasileira é o da abelha africanizada”, detalha Alex.