Sempre considerei o povo norte-americano como esnobe, como donos de uma situação ou se achando dono da verdade e eles próprios se colocam como autossuficientes. Hoje, posso perceber que existem as exceções, não são todos do modo como imaginei, mas entre eles há pessoas que descem do salto e mostram humildade.
Até parece que entrarei em uma contradição, porém, na verdade, em parte, eles têm razão em alguma área da vida ou em determinado mister. Primeiro ponto que está me levando a desmitificar o norte-americano se volta para esta experiência: tenho conhecido alguns jovens missionários norte-americanos, que têm deixado sua terra natal e têm vindo ao Brasil fazer o trabalho de Deus, a obra missionária. Tive a oportunidade de conhecê-los e de receber a visita de vários deles, ficar informado do trabalho que vêm realizar aqui e seus propósitos. Com essa experiência já começo a quebrar a imagem que fazia deles.
Outro fator que me permite mudar de opinião a respeito do norte-americano está fundamentado na Sétima Arte. Talvez, as gerações de agora não estejam tão familiarizadas com a expressão Sétima Arte, pois me refiro ao cinema.
Avalio o cinema norte-americano o melhor do mundo. E, falo isso devido aos inúmeros filmes norte-americanos a que assisti e que me remetem a grandes mensagens; lições de vida; reflexões e questionamentos em mudanças comportamentais.
Percebo com que esmero são produzidos os filmes. Toda uma equipe se empenha e leva muito a sério o trabalho a ser realizado e eu os aplaudo por isso.
Tive a oportunidade de ler entrevistas e depoimentos de alguns astros do cinema norte-americano, revelando como é feita a preparação para interpretar determinado personagem. Artistas como Robert De Niro, Dustin Hoffman, Meryl Streep, Julia Roberts, Whoopi Goldberg, Jack Nicholson, Joaquin Phoenix e outros fazem um rígido “laboratório” para encarnar o personagem e com isto transmitem realidade, como se aproximam do real.
Como lecionei por quase quatro décadas, utilizei muitos filmes no planejamento pedagógico para explorar a Literatura, a linguagem em todos os aspectos, a leitura e a releitura, bem como os implícitos, a mensagens veiculadas e os endereços a que os filmes se destinavam.
Pensando nisso, quero destacar um filme com o qual trabalhei várias vezes em diferentes turmas que foi “Sociedade dos poetas mortos”. Esse filme traz uma importante mensagem sobre a prática pedagógica do professor e uma grande reflexão sobre o papel da família na Educação de seus filhos.
O ator Robin Williams encarna um professor inspirador para todos os seus estudantes, levantando questões existenciais, levando-os a pensar mais, analisar a vida e entender o quão importante é preservar valores que embelezam a alma e nos deixam tranquilos, equilibrados e felizes.
Ele empregou várias vezes a expressão em Latim “Carpe Diem” com o intuito de orientar os estudantes a aproveitar bem o dia e buscar a realização dos seus sonhos, desafiando normas sociais e expectativas familiares. Às vezes, em certas famílias, os pais exigem que o estude para ser um médico, um advogado, um engenheiro e estas profissões não combinam com o filho ou não estão adequadas a sua personalidade. Com isso, o professor não induziu os estudantes à rebeldia, mas mostrava-os como era frustrante tanto para eles como para os pais.
O filme é muito rico e serve também para se destacar a importância da autenticidade e da expressão pessoal.
O discurso do professor que, no filme, assume o título de capitão está focado em alguns trechos como estes: “Esforcem-se para encontrar sua própria voz. Pois, quanto mais vocês esperarem para começar, menos provável que vocês possam encontrá-la.”
Henry David Thoreau disse: “A maioria dos homens leva uma vida de desespero silencioso.” E o capitão continua inspirando na sua fala:
Não se prenda a isso! Liberte-se! Não perca tempo, faça valer o Carpe Diem!
Quando você pensa que conhece alguma coisa, você tem de olhar de outra forma. Mesmo que pareça bobo ou errado, você deve tentar.
Não importa o que dizem a você, palavras e ideias podem mudar o mundo.
Todos nós temos uma grande necessidade de aceitação, mas vocês devem confiar que suas crenças são únicas, suas próprias.
Duas estradas se divergiam na floresta e eu, eu tomei o caminho menos percorrido, e isso fez toda a diferença.
Pois é, o discurso do Capitão, com seus Educandos acontecia a fim de encorajá-los a serem eles próprios, donos de seus pensamentos, ideias, atitudes e decisões e com isso se tornarem cidadãos de bem, pessoas bem engajadas e felizes na sociedade.
Ainda, puxando um gancho do filme, vejo o destaque maior e mais importante focado em uma parte do pensamento de Thoreau, quando ele dá ênfase ao desespero silencioso. Infelizmente, quantas pessoas passam a vida inteira sofrendo em silêncio, presas a isso, porque deixam de ter sua própria voz e vivem a agradar e a satisfazer os outros, prevalecendo o desespero silencioso impregnado de conflitos, de frustração, de insatisfação de não serem elas mesmas, mas serem quem os outros querem que elas sejam.