Uma descoberta da década de 1960. Objetos que podem retratar cenas de uma das tocas utilizadas por guerrilheiros para esconder equipamentos e mantimentos durante a ditadura. A suspeita é que o achado dos moradores de Iúna, na região de São João do Príncipe – que foi cenário da Guerrilha do Caparaó -, pertencia aos integrantes deste movimento.
Por conta dos relatos daquela época, muita curiosidade e mitos permeiam essa região. “Há muita lenda sobre a guerrilha. Muita coisa que se comenta sobre a guerrilha é fruto da tradição oral. Os meninos da época, ficaram curiosos e agora que são adultos resolveram tentar achar as tais tocas e uma delas teria sido encontrada na região onde era o sítio dos cabritos”, conta o jornalista e escritor, José Caldas.
Os meninos a quem se refere Caldas são os irmãos Amós e Emílio Horst. Foram eles quem perceberam irregularidades do terreno e contagiados pela curiosidade e mistérios escondidos do período, encontraram o que suspeitam ser a primeira toca cavada por guerrilheiros no Caparaó.
Foram encontrados no local, um resto de manta térmica, remédios para estômago e um “líquido estranho em uma garrafa. Esse líquido é o que parece ser a grande chave da questão”, conta Caldas. A suspeita é de que seja um óleo antioxidante que se passa em fuzis. Armas não foram encontradas nesta toca.
A descoberta foi feita em uma propriedade privada dentro dos limites do Parque Nacional do Caparaó. A administração do parque, apesar de não ter sido notificada oficialmente sobre o caso, confirma os relatos e informou que diante da possível descoberta vai encaminhar uma equipe ao local nesta segunda feira (06).
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A administração alertou ainda sobre a necessidade de informar ao parque sempre que forem feitas pesquisas ou estudos dentro dos limites da reserva.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) já está com uma visita marcada ao local no dia 16 de setembro. De acordo com Caldas, caso as suspeitas sejam confirmadas, o município de Iúna pode ganhar um novo eixo econômico voltado para o turismo histórico cultural. “O interesse deles é de valor cultural histórico e eles querem transformar isso em benefício para toda a comunidade.”
Guerrilha do Caparaó
No ano de 1966, o movimento organizado 95% por militares e marinheiros de diversas patentes – expulsos das corporações por se oporem à política ditatorial imposta pelo governo – chegou ao município de Iúna.
Os guerrilheiros, que vinham de trem até Manhumirim, entravam no território capixaba depois de uma caminhada de 40 km a 50 km, e foi no no distrito de São João do Príncipe, no município de Iúna, que eles fizeram o primeiro alojamento do grupo, na localidade que eles denominaram Sítio dos Cabritos.
A frente da guerrilha na Serra do Caparaó era formada por, aproximadamente, 20 homens apoiados por mais de 120 pessoas, na base urbana que davam os suportes necessários. O movimento resistiu até o dia 01 de abril de 1967, quando foi preso o último grupo remanescente que estava na Serra do Caparaó, após ataques ao Sítio dos Cabritos.