“A vida em nós é como a água de um rio”. Henry David Thoreau
Na Mandala Astrológica, conhecida popularmente como Mapa Astral, 12 casas astrais acolhem e dividem nossa existência em setores, áreas da passagem humana sobre a terra que constroem e estruturam tantos os aspectos mais práticos do nosso cotidiano, quanto o mais intangível do que somos feitos: nossas vulnerabilidades, sensibilidades e o mundo psíquico interior. Divididas entre os quatro elementos, iniciamos a jornada estelar pela casa um, regida pelo fogo – a criação do eu – e o círculo se fecha, antes de retornar a si mesmo, na casa 12, regida pela água – a dissolução, o imponderável, o transcendental.
Toda Água dentro da Gente (Editora Patuá, 2023), obra dividida em cinco partes, nos recebe com um capítulo intitulado A Casa – no livro de Denise Aparecida da Silva, a roda da vida é movida pela água – elemento que dilui e encerra, na astrologia, aqui é rio condutor, é fonte primeva que jorra e arrasta em todas as direções, redemoinho sensorial que dissolve para emergir. Os personagens escorrem, nos escapam, abundam de vida – a leitura linear, o caminho dos olhos, não é suficiente: entregue-se à correnteza e se deixe levar, em todas as direções.
Mãe e filho, eternamente ligados pelos líquidos da concepção da vida, avançam numa jornada torrencial. À Casa que nos recebe, seguem-se A Transformação, A Criação, O Entrelace e O Mundo. Uma Mandala as avessas – será o ser humano formado a partir daquilo que nos contém e delimita ou de tudo que nos afoga, do que nos embaça e turva a visão – de nós mesmos e do mundo? Há névoa entre as linhas. A névoa – suspensão de pequenas gotículas de água no ar – é por onde navegamos, nessa estada insólita, sobre um planeta chamado Terra. Qual a solidez do que nos cerca? Por dentro, sangue, linfa, plasma, secreções e água nos sussurram: temam a aridez e a estiagem. A areia nos olhos, a secura da boca. Seguimos. Sustendo o nariz acima da correnteza, nascentes que deságuam mundo afora, filetes de água, córregos assoreados que se encontram e se abraçam, rumo ao mar. O empuxo de toda água que jorra de dentro da gente é caudaloso, violento, profundo e inevitável.
Sobre o Livro
Em uma casa selada, mãe e filho são obrigados a conviverem não apenas um com o outro, mas também com os seus sentimentos mais selvagens e viscerais. Sentimentos e sensações que todo ser humano é capaz de acessar quando tem apenas o imaterial a recorrer para se manter vivo. Nesse cenário não só repleto de medo, de memórias, de sonhos; como também de desejos e de vida pulsante, (re)descobrem a si mesmos, o mundo, o outro e as relações possíveis dentro de um contexto em que nada mais é como antes.
Sobre a Autora
Denise Aparecida da Silva é graduada em Letras e mestra em Linguística Textual pela UNICAMP. É idealizadora, professora e revisora de textos no Orienta Redação; e escritora – seu primeiro romance “Toda a água dentro da gente” foi publicado pela Editora Patuá.