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Luz del Fuego

secreta-luz-30-04-23
Secreta Luz

“Ridículas maneiras, preconceitos seculares que entravam o progresso, dificultando a iniciativa. Ao homem, à mulher, o escravagismo de uma cega obediência a modelos que apenas servem para sufocar nossas ambições. Desde que não se prejudique o próximo, qualquer desejo deverá ser satisfeito.”

Luz del Fuego é Dora Vivacqua, filha de Etelvina Monteiro e José Antônio Vivacqua, nascida em 21 de fevereiro de 1917, em Cachoeiro de Itapemirim. Durante sua infância e adolescência, Dora foi uma menina rebelde, resistente às ordens e mandamentos, fora dos padrões sociais de sua época. Vista por muitos como subversiva e, por outros, como louca, fato é que Dora cultivava e promovia ideias e ações para além de seu tempo. Em Marataízes, por exemplo, ditou moda pelas praias quando ao invés de usar roupas de banho, preferia vestir sua roupa íntima ou trajes feitos por ela mesma.

Passou a juventude entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde conheceu artistas e intelectuais. Nesse período, em 1936, teve sua primeira internação psiquiátrica, aos 19 anos, no Hospital Psiquiátrico Raul Soares, em Belo Horizonte. Entre escândalos sexuais envolvendo seu cunhado, marido de sua irmã, Angélica, foi novamente internada no Rio de Janeiro, na Casa de Saúde Dr. Eiras. Uma de suas irmãs, Mariquinhas, interveio a seu favor e a trouxe para morar em Cachoeiro. Não tardou muito e Dora fugiu para o Rio, aos 21 anos.

De volta à capital do Brasil à época, Dora viveu um tempo histórico de grandes mudanças políticas e sociais, nos idos dos anos 1930 a 1950. Teve como amigo e guia pelas terras fluminenses ninguém menos do que Rubem Braga, conterrâneo cachoeirense que não deixava Dora andar sozinha pelas ruas do Rio por orientação de seu irmão, Atílio Vivacqua, com quem morou na capital. Atílio e sua esposa, Jeni Vivacqua, moravam em uma mansão no Jardim Botânico.

Foi no Rio que começou a se apresentar no Circo Pavilhão Azul com seu casal de jiboias, batizadas de Cornélio e Castorina. Em 1947, adotou o pseudônimo de Luz del Fuego, homenagem à marca de batom argentino muito usada pelas celebridades da época, inclusive Carmen Miranda. Nesse mesmo ano, publica “Trágico Black-Out”, um livro pornográfico e autobiográfico que seu irmão Atílio, já senador, fez de tudo para que não fosse distribuído, adquirindo mais da metade dos exemplares e os queimando. No começo dos anos 1950, Luz del Fuego fundou o PNB, Partido Naturalista Brasileiro, com os ideais naturistas e de vegetarianismo que já havia manifestado em seu livro “Trágico Black-Out”. Mais uma vez, seu irmão Atílio Vivacqua frustrou seus planos ao impedir o registro do Partido. Luz acreditava que a vestimenta não era necessária à moralidade do corpo e que a nudez era a expressão máxima da liberdade da alma.

Também na década de 1950, conseguiu uma concessão da Marinha para morar numa ilha na Baía de Guanabara, batizada por ela de Ilha do Sol, onde criou o Clube Naturalista Brasileiro, o primeiro da América Latina. Na Ilha do Sol não eram permitidas atitudes imorais ou libertinagem, mas podia-se dançar, praticar esportes, ler, tomar banho de água e de sol, tudo isso, é claro, se completamente nu. Ninguém entrava vestido na Ilha do Sol. Para Luz, a nudez representava a vida em seu sentido mais puro. Sob o lema “Menos roupa e mais pão! Nosso lema é ação!”, Luz del Fuego conquistou adeptos para seu movimento nudista, entre eles celebridades e artistas internacionais que visitaram a ilha, como Brigitte Bardot. O clube chegou a ser registrado na Federação Internacional Naturalista da Alemanha, e mantinha sócios colaboradores que pagavam mensalidades, como políticos, ministros, militares e milionários.

Por óbvio, a vida levada por Luz na Ilha do Sol, seus ideais libertários e naturalistas, não agradavam boa parte da sociedade, bem como a Igreja, que chamavam a Ilha do Sol de “Ilha do Pecado”. Aos poucos, a Ilha do Sol passou a ser alvo de aproveitadores e pessoas mal intencionadas. Com o passar dos anos, Luz del Fuego encontrou dificuldades financeiras para manter a Ilha e o Clube. Além disso, seu corpo e beleza não eram os mesmos da juventude. Certa vez, exclamou: prefiro morrer a ficar velha. Luz ficava cada vez mais isolada na Ilha.

Luz e a Ilha, cada vez mais solitárias, a partir da segunda metade dos anos 1960, ficavam também cada vez mais vulneráveis. Para escapar da solidão, Luz del Fuego se envolvia com pescadores da região, homens bem mais jovens que ela. Certa vez, foi à delegacia para denunciar bandidos que rondavam a ilha e lá se escondiam, além de tentarem investidas para violentá-la. Luz era desprezada pelas autoridades sempre que buscava ajuda, chamavam-na de puta, vagabunda. E ela, retrucava: eu não sou puta! Sou uma artista!

A artista, dançarina, naturista, mulher, teve seus tempos de glória e decadência. Colecionou amantes, admiradores e inimigos. Em 1967, foi brutalmente assassinada pelos irmãos Mozart (Gaguinho) e Alfredo Teixeira Dias, pescadores que havia abrigado em sua Ilha. Os criminosos mataram Luz del Fuego em uma emboscada no barco. Depois, voltaram à Ilha para assassinar o caseiro, Edgar.

Luz que não se apaga, mas antes permanece irradiando novas tomadas de atitude, inspirando poesias e paixões, projetos como este, que dão voz às mulheres capixabas e cachoeirenses, iluminadas pela mulher que Dora Vivacqua foi. Luz del Fuego, imortal enquanto relembrada e revisitada. Que a chama de seu fogo continue queimando e incendiando o falso moralismo e os preconceitos, e que faça ressurgir um mundo novo, tal qual o sonhado por Luz del Fuego.

 

Tamiris Carvalho Marchiori, nascida em Cachoeiro de Itapemirim, é licenciada em História e Bacharela em Direito, Mestra em Humanidades e Educadora
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