Embora tenha sido identificado pela primeira vez em 1940 pelos médicos Edgar Allen e Edgar Hines, na Clínica Mayo, nos Estados Unidos, o lipedema ainda é uma doença que não é imediatamente identificada, sendo muitas vezes confundida com celulite provocada pela obesidade.
É importante dizer que o lipedema é um distúrbio de gordura que afeta mulheres durante a puberdade, gestação, menopausa ou alguma situação de muito estresse.
O médico angiologista José Marcelo Corassa, de Vitória, destaca que o diagnóstico do lipedema é basicamente clínico e que não existem exames que detectem a inflamação.
“Às vezes pedimos uma densitometria para avaliar a quantidade de gordura exatamente para avaliar a evolução do tratamento. Se diminuiu, onde diminuiu. Podemos solicitar também uma lipocintilografia nos pacientes com grandes volumes e o doppler venoso para ver como está a circulação”, enfatiza.
Mas Corassa frisa que a história clínica, familiar, estilo de vida e a evolução do paciente devem ser consideradas. E diz também que a doença acomete principalmente as mulheres, já que é uma patologia feminina associada à parte hormonal.
“Homens só apresentam lipedema se tiverem um distúrbío hormonal gigantesco”, pontua o angiologista. Segundo ele, há esperança, desde que o diagnóstico seja adequado.
Portadoras de lipedema são discriminadas
Corassa faz questão de esclarecer que muitas pacientes com lipedema têm a doença confundida com linfedema e com obesidade, o que é ruim.
“Pacientes descompensam e dizem que ‘já estou gorda mesmo’ e não seguem com o tratamento. Elas são criticadas pela família e injustiçadas pela sociedade porque têm uma doença e são chamadas de gordas e preguiçosa e desistem”, ressalta.
O médico conta que tratava pacientes com linfedema ( quando os vasos linfáticos sofrem lesão ou obstrução, o líquido linfático não consegue ser drenado e se acumula nos tecidos, causando inchaço) há cerca de sete anos e começou a ver muitos casos diferentes que não se enquadravam no diagnóstico da doença.
“Foi a partir daí que passei a estudar e tentar entender o lipedema. O tema começou a ser discutido em todo o país. Hoje continuamos evoluindo e estamos aprendendo todos os dias”, destaca.
José Marcelo Corassa diz que as vítimas do lipedema precisam entender que é fundamental mudar o estilo de vida e tirar glúten, leite e derivados e açucar da dieta.
Tratamento conservador e cirúrgico
O médico destaca que o tratamento básico do lipedema é conservador, à base de medicação e dieta, mas que quando estiver atrapalhando a mobilidade e impondo limitações, a cirurgia é uma das possibilidades diante do volume muito grande.
“Quando não se consegue diminuir o volume das pernas (ou dos braços) e a dor com esse tratamento aliado à atividade física, é preciso partir para a cirurgia. Mas é importante destacar sempre que a mudança do estilo de vida é fundamental”, pontua.
Grupo de Apoio
O Espírito Santo possui um trabalho voltado ao esclarecimento de dúvidas sobre a doença. É o Movimento Lipedema Capixaba, que possui inclusive perfil no instagram: @lipedema_es e grupo de whattsapp Lipedetes.
A coordenadora desse movimento é a advogada Luciene de Oliveira, portadora da doença. Ela conta que existe uma ONG em São Paulo que se chama Movimento Lipedema.
Após conhecê-lo, Luciene diz que fez o autodiagnóstico em outubro de 2020, confirmado numa consulta com o médico José Marcelo Corassa em dezembro do mesmo ano.
Ela diz que quis fazer o mesmo que a idealizadora deste movimento paulista para ajudar as portadoras capixabas da doença.
“Descobrir o lipedema em mim foi libertador. Resolvi que era preciso um trabalho de conscientização da doença e resolvi fazê-lo não somente no mês de junho (mês intitulado como de conscientização) e sim todos os dias, já que o número de mulheres que desconhece sofrer desta enfermidade é muito grande. Tomei como missão”, destaca.
O angiologista José Marcelo Corassa diz que o trabalho feito por este grupo é muito importante por divulgar, mostrar o que está acontecendo, o que é fundamental, já que muitas mulheres não têm acesso à informação e ficam sendo julgadas e injustiçadas o tempo todo.
“Quando têm acesso à informação as pacientes entendem que precisam mudar o estilo de vida e isto é muito bom”, comenta.
Pacientes diagnosticadas
A professora Andressa Pepe Costa, de Cachoeiro, tem lipedema. Ela conta que foi diagnosticada no início de 2021 por um médico de Vila Velha, e meio que por acaso.
“Na verdade fui tratar de modulação hormonal e acabei sendo alertada pelo médico sobre a possibilidade de ter lipedema. De lá para cá pesquiso e busco materiais que me deem suporte”, enfatiza.
Andressa conta que já mudou os hábitos alimentares e incluiu chás e shots manipulados à sua rotina, além do uso de meias de compressão.
Ela faz academia cinco vezes e aulas de dança quatro vezes por semana. Mesmo assim continua lidando com os incômodos da doença.
“Eu já fazia drenagem linfática e continuo com esta prática. O maior desconforto para mim é a vergonha que tenho do meu corpo, especialmente das minhas pernas”, destaca.
A psicóloga Rita Rissi, da Serra, conta que descobriu a doença em fevereiro de 2020 após retornar de uma viagem com as pernas muito inchadas.
“Achei que estava com trombose. Minhas pernas e tornozelos estavam muito inchados e a panturrilha queimava demais. Era bem doloroso”, relata.
Após o diagnóstico, ela mantém controle na alimentação e uma rotina de exercícios para evitar os incômodos provocados pelo lipedema, doença com a qual está aprendendo a conviver e manter sob controle.