Você já ouviu inúmeras vezes que nós atraímos aquilo de que sentimos medo; a internet está cheia de memes sobre isso.
Meu terapeuta, ciente de que sou lógica, me deu uma belíssima explicação sobre o motivo pelo qual atraímos o objeto do nosso medo.
Entendo completamente, mas, diante de uma situação real, a lógica desaparece. Só estou contando isso para vocês porque fiz terapia, me curei da fobia e do medo excessivo.
Todos temos falhas. Sou considerada corajosa e não nego que tenho bastante coragem, mas, diante de um determinado bichinho incapaz de fazer mal a qualquer ser humano, até porque é uma espécie lerda, bastava um mísero passo para trás quando eu o encontrasse e eu estaria livre do “monstro” que só minha cabeça conhecia. Porém, eu paralisava, literalmente, quando o via.
Certa vez, encontrei meus amigos fazendo uma aposta para saber do que eu tinha medo, após descobrirem que atravessei uma mata à meia-noite.
Eles não sabiam que uma mata à noite não era nada para mim, pois meu “monstro” estava escondido, muito bem escondido. Apenas meus pais, irmãos e filhos sabiam qual era e, agora, vocês também saberão.
Eu tinha tanto medo que, na minha cabeça, se eu contasse a alguém, a pessoa teria uma arma contra mim.
Numa tarde de sábado, verão em Cachoeiro, às 15h, entrei no ônibus, num daqueles dias em que todos os cachoeirenses estão em Marataízes, a nossa praia.
Pois bem, ônibus vazio: apenas o motorista, uma mulher na poltrona logo atrás da roleta, um homem mais ao fundo, e eu, que me sentei nas poltronas do meio, do lado direito do ônibus, tendo embarcado no ponto da Beira Rio.
O motorista seguia a toda velocidade quando, virando na rua Bernardo Horta, de repente, o “monstro” caiu no chão do ônibus, entre as minhas pernas: era uma lagarta.
O motorista fazia uma curva e a lagarta ia para um lado, virava outra esquina e a lagarta rolava para o outro, enquanto eu, em desespero, com as pernas abertas, via a lagarta “dançar” de um lado para o outro.
De onde ela surgiu? Como caiu ali? Meu cérebro e meu coração estavam em colapso e, de repente, um quebra-molas. Distraída, quiquei no banco e, quando meus olhos aflitos retornaram ao chão, meu desespero aumentou. Cadê a lagarta? Para onde ela foi?
Percebi que, a essa altura, havia mais dois passageiros no ônibus. Olhei para todos os lados, desesperada para mudar de poltrona, mas senti vergonha. E se eu tivesse que me explicar?
Não resisti e, em minutos, já estava na última poltrona, certa de que de lá eu poderia ver a lagarta em qualquer lugar do transporte.
Em casa, relatei a cena aos meus filhos que, obviamente, riram o quanto puderam e disseram:
— É, realmente atraímos aquilo de que temos medo. Como uma lagarta foi parar no ônibus?
Apenas fiz um beiço e levantei minhas mãos em sinal de “eu é que sei?”.
Depois desse dia, tive que ver meu terapeuta rir antes de me explicar sobre o medo, o cérebro humano, o receio e um monte de ótimas teorias, já que hoje a inocente lagartinha não é mais um problema.