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Medos e fobias

escritoras-cachoeirenses2-07-01-23
Escritoras Cachoeirenses

Você já ouviu inúmeras vezes que nós atraímos aquilo de que sentimos medo; a internet está cheia de memes sobre isso.

Meu terapeuta, ciente de que sou lógica, me deu uma belíssima explicação sobre o motivo pelo qual atraímos o objeto do nosso medo.

Entendo completamente, mas, diante de uma situação real, a lógica desaparece. Só estou contando isso para vocês porque fiz terapia, me curei da fobia e do medo excessivo.

Todos temos falhas. Sou considerada corajosa e não nego que tenho bastante coragem, mas, diante de um determinado bichinho incapaz de fazer mal a qualquer ser humano, até porque é uma espécie lerda, bastava um mísero passo para trás quando eu o encontrasse e eu estaria livre do “monstro” que só minha cabeça conhecia. Porém, eu paralisava, literalmente, quando o via.

Certa vez, encontrei meus amigos fazendo uma aposta para saber do que eu tinha medo, após descobrirem que atravessei uma mata à meia-noite.

Eles não sabiam que uma mata à noite não era nada para mim, pois meu “monstro” estava escondido, muito bem escondido. Apenas meus pais, irmãos e filhos sabiam qual era e, agora, vocês também saberão.

Eu tinha tanto medo que, na minha cabeça, se eu contasse a alguém, a pessoa teria uma arma contra mim.

Numa tarde de sábado, verão em Cachoeiro, às 15h, entrei no ônibus, num daqueles dias em que todos os cachoeirenses estão em Marataízes, a nossa praia.

Pois bem, ônibus vazio: apenas o motorista, uma mulher na poltrona logo atrás da roleta, um homem mais ao fundo, e eu, que me sentei nas poltronas do meio, do lado direito do ônibus, tendo embarcado no ponto da Beira Rio.

O motorista seguia a toda velocidade quando, virando na rua Bernardo Horta, de repente, o “monstro” caiu no chão do ônibus, entre as minhas pernas: era uma lagarta.

O motorista fazia uma curva e a lagarta ia para um lado, virava outra esquina e a lagarta rolava para o outro, enquanto eu, em desespero, com as pernas abertas, via a lagarta “dançar” de um lado para o outro.

De onde ela surgiu? Como caiu ali? Meu cérebro e meu coração estavam em colapso e, de repente, um quebra-molas. Distraída, quiquei no banco e, quando meus olhos aflitos retornaram ao chão, meu desespero aumentou. Cadê a lagarta? Para onde ela foi?

Percebi que, a essa altura, havia mais dois passageiros no ônibus. Olhei para todos os lados, desesperada para mudar de poltrona, mas senti vergonha. E se eu tivesse que me explicar?

Não resisti e, em minutos, já estava na última poltrona, certa de que de lá eu poderia ver a lagarta em qualquer lugar do transporte.

Em casa, relatei a cena aos meus filhos que, obviamente, riram o quanto puderam e disseram:

— É, realmente atraímos aquilo de que temos medo. Como uma lagarta foi parar no ônibus?

Apenas fiz um beiço e levantei minhas mãos em sinal de “eu é que sei?”.

Depois desse dia, tive que ver meu terapeuta rir antes de me explicar sobre o medo, o cérebro humano, o receio e um monte de ótimas teorias, já que hoje a inocente lagartinha não é mais um problema.

Mércia Souza. Mãe, avó, dona de casa, artesã crocheteira, escritora, fundadora do projeto “Mulheres com Voz”. Sonha com um mundo onde mulheres sejam ouvidas e que os homens saibam ouvi-las, exercendo, assim, a igualdade e a compreensão

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