No que nos tornamos, quando todas as possibilidades já estão representadas?
O que constrói e revela, ao mundo, a nossa irrevogabilidade? Nossa perene vicissitude? Nosso “ser” que é só nosso e de nenhum outro – o ser irrepetível, único, inefável.
A todos são dados a inconfundibilidade de uma voz, o espaço entre os olhos e ângulo formado entre esses e o nariz, os medos infantis que impulsionam fraquezas e atos desmedidos de desespero, mal disfarçados em coragem e ímpeto.
Mas, ao artista, é dado o divino condão de parir um estilo: Mary Shelley e Margaret, um dia, nasceram e, depois, se tornaram mais, como uma flor que fura o concreto e estica suas pétalas para fora da casca que a confinava.
Impossibilitada de assinar seu nome em suas crianças, a pintora mudou-se, de dentro pra fora, e deu à luz a outros rostos, para, enfim, mostrar o seu próprio.
Sufocada pelos poemas de ode à beleza escritos pelo marido poeta que a ela dispensava só a indiferença, a escritora costurou com lápis o monstro feito de partes humanas, todas elas suas próprias peles e a ele deu seu grito engasgado: eu existo e serei vista.
Suas obras são o que elas precisaram para ser. E são avisos: não se invisibiliza uma alma. Não se apaga uma mulher.
Há o ser, em todas as suas formas, explodindo como feixes de luz em todas as direções – às vezes brotando do chão, às vezes por outros poros, muitas vezes por outros olhos grandiosos que lhe deitam olhar/atenção e olhar/respeito.
Nascemos para ser – e o que é de ser, não cessa.