Na última semana, me deparei com um sentimento de nostalgia, lembrando dos natais de minha infância, a mesa farta, cada um trazendo um prato e sobremesas diferentes. A única coisa que era certa era o empadão da tia Nelma, também conhecido como o melhor empadão do mundo. Tempos bons aqueles! Quando corríamos, brincávamos com a expectativa do presente que receberíamos do Bom Velhinho.
Na época, eu morava em Brasília, e era tradição nos reunirmos na casa da tia Nelma. Minhas tias do Rio de Janeiro e de Curitiba sempre estavam lá, o que deixava o espírito natalino ainda mais divertido e leve. Porém, o que eu mais gostava era o almoço da “rebarba”, aquele que comíamos as sobras da ceia e mostrávamos o que havíamos ganhado para nossos primos. Era uma alegria só! Brincadeira acompanhada do empadão da tia Nelma, peru de natal, arroz com passas, farofa do meu pai e muita sobremesa.
Hoje, tenho uma família pequena e já não passo o Natal na casa da tia Nelma e, por mais que tenha tentado (e olha que tentei muito) nunca consegui fazer um empadão como o dela. Mas graças a tudo que vivenciei na minha infância, ao lado de familiares tão amorosos e presentes, hoje carrego comigo a certeza do quanto o compartilhar é essencial na vida da gente. A mesa farta era o resultado do pouco que cada um levava e tudo aquilo não era apenas comida, mas sim o alimento compartilhado e produzido com ingredientes especiais e nobres como o amor e o querer bem.
Acho que por isso, toda vez que penso em Natal, sempre me lembro do empadão da tia Nelma. Acho que ele era tão gostoso porque, além de minha tia saber cozinhar tão bem, sentia tanto prazer em receber as pessoas em sua casa que tudo isso era passado para o empadão e em meio às azeitonas, frango, catupiry e demais ingredientes, vinham altas doses de amor. Depois de mais de 20 anos ou passando o Natal sozinha, ou nos últimos 12 anos, com a família que construí, resolvi passar na casa da minha cunhada e, é lógico que levarei o empadão que desde a minha infância é meu prato de Natal favorito. Talvez, não fique tão gostoso quanto o da tia Nelma, mas colocarei altas doses de amor e gratidão. Afinal de contas, o Natal traz consigo simbologias e sentimentos sagrados que remetem à ideia de família, do compartilhar e do renascimento de pessoas melhores.
O Empadão da Tia Nelma com “e” maiúsculo sempre será minha doce recordação de Natal, onde a família reunida em volta da mesa compartilhava o que trazia de melhor em seus corações; gargalhadas altas, causos engraçados, muitas crianças correndo e brincando, acompanhadas da certeza de que esse sentimento poderá se perpetuar durante uma vida inteira. O que desejo é que o sabor do empadão continue em minha memória, mas sempre se faça presente com a mesma sensação de afeto, alegria e gratidão que sentia nos tempos de outrora.