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O leitor ingênuo e a manipulação das palavras

olivia-15-08-2023
Olivia Batista de Avelar

“Desde jovem me esforcei para ler os livros da maneira certa e tive a sorte de ter uma boa memória e inteligência para me ajudar.”

A imagem que ilustra essa coluna mostra um homem segurando uma réplica da edição histórica da Constituição Cidadã Brasileira, promulgada em cinco de outubro de 1988, depois de mais de vinte anos de ditadura militar em nosso país. O símbolo máximo do violento e custoso retorno à democracia foi usado como troféu e exibido por homens e mulheres que acreditavam e afirmavam estar lutando pela pátria e pela liberdade. Aviltaram os símbolos maiores do estado democrático de direito – que concede o mínimo de cidadania aos brasileiros – em nome da liberdade. Pediam a retomada do governo pelos militares – uma reprise macabra de nosso período histórico marcado pelo arbítrio e ausência de direitos civis – em nome da liberdade. Atacaram os poderes que os defendem porque veem e leem nesses símbolos o total oposto do que eles realmente são e representam.

De forma absurda e inacreditável, exigem perder direitos para serem livres. Clamam por um modelo de governo feito de desrespeito com o objetivo de serem respeitados. Distopia. Anomia social. Dissolução do sentido das palavras. Realidade paralela.

O autor da frase que abre esse texto era um exímio leitor, como se entende ao lermos o que ele escreveu. Afirma ler desde jovem, destaca sua boa memória e ressalta sua própria inteligência. Os livros são a salvação de um país? O Brasil descarrilou porque não levamos a educação a sério? O congresso nacional está cheio de corruptos porque o pobre ignorante não sabe votar? Os analfabetos não têm capacidade de expressar sua preferência política? Falta leitura ao povo brasileiro? Devemos distribuir livros? Devemos estimular as crianças e jovens a ler? Quais são os livros que devem ser lidos? Quem escreveu esses livros? Em quem se deve acreditar: nos autores ou naqueles que escolhem os livros certos que salvarão nosso futuro? A desinformação é a culpada? Ou o excesso de notícias falsas é o pior dos nossos males? Como podem ser falsas as notícias que dizem exatamente aquilo em que eu quero acreditar? Os ignorantes devem ser governados pelos inteligentes? E o que os ignorantes não sabem? Não aprendem porque não querem ou porque não tem oportunidade? O que torna os inteligentes mais preparados? O que é a inteligência? Onde aprenderam o que era necessário para exercerem poder sobre todos nós?

Não são perguntas retóricas e, apesar de ter minhas próprias percepções sobre esses temas, não tenho as respostas. Livros não são a única solução e notícias falsas não são o único problema. Estamos afundados em um período de crise política, social, moral e mental. Estamos doentes da alma. Há pessoas perseguindo apaixonadamente sua própria destruição e, por extensão, a de todos nós. Livros não brotam do ar, não nascem por geração espontânea.

Livros são a essência de uma pessoa: suas ideias e ideais, suas paixões, suas mentiras e suas verdades, seus projetos de vida e de poder. Livros são a propagação geográfica e temporal de um ser humano, de um autor que usou as palavras para viver e se fazer ouvir, mesmo depois de sua morte.

A leitura, por si só, não resolve problema algum; muitas vezes, a palavra escrita endossa crimes e propaga o terror. Porém, capa e páginas de papel não têm braços e pernas e não invadem prédios e não ateiam fogo em tudo que veem. São as pessoas que se transformam em fantoches e se apaixonam pelas palavras manipuladoras que as corrompem. Há guerras em nome de livros sagrados. Há paz que pode nascer a partir da interpretação e da ação que sucedem uma leitura consciente e humana de escritos que incitam ódio e guerra. É sempre sobre as pessoas e suas paixões. É sempre sobre o desejo e não sobre inteligência ou ignorância.

Quantos doutores depredaram Brasília – com suas próprias mãos ou através de financiamentos e incitação aos crimes – no último dia oito de janeiro? E quantos trabalhadores sem diploma chegaram no dia seguinte e, entre lágrimas, juntaram os cacos e varreram o chão daquilo que corretamente entendem ser um espaço de conquista cidadã de todo um país?

É preciso amar a palavra escrita e desconfiar dela na mesma medida. Livros são pessoas encapsuladas. São armas poderosas em todos os sentidos e em todas as direções em que podem nos lançar. O amante da leitura cuja citação abre essa coluna, anos depois de lançar suas próprias memórias – de onde retirei esse trecho – promoveu no dia 10 de maio de 1933, em praça pública, a queima de mais de 20 mil livros. Seu objetivo era eliminar as palavras que discordavam de sua política e de seu projeto de poder. Seu nome era Adolf Hitler.

Devemos dar ouvidos e confiar nas lustrosas linhas que ele escreveu ou devemos aprender, de uma vez por todas, que são os atos os verdadeiros reveladores daquilo que as palavras confirmam ou escondem?

A leitura, o conhecimento, o estudo e a erudição foram, são e serão, sempre, armas de destruição e dominação nas mãos dos criminosos e dos déspotas. Em nosso estado atual, discutir a formação educacional da população é necessário, porém, apontar as atitudes e falas que revelam as falhas de caráter que se escondem – muito mal – atrás de slogans eloquentemente mentirosos é urgente. É preciso punir os criminosos. Livros e palavras não são perigosos. Mas as pessoas que querem acreditar em qualquer coisa que leem são.

Nada é mais destrutivo do que uma ideia contaminada plantada em um coração cheio de ódio.

 

Olivia Batista de Avelar. Professora de inglês, pós graduada em filosofia, apaixonada por cinema e escritora
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